Parada na varanda do meu quarto, eu observava Valentina sentada no jardim nos arredores da piscina. Sua expressão era distante e as sobrancelhas unidas demonstravam sua preocupação. Talvez nem fosse preocupação. Deveria mesmo é estar pensando nos motivos que fizeram o pai agir daquela forma. Valentina às vezes não se dava conta de que tinha apenas dezesseis anos, e principalmente sendo mulher, os cuidados do pai em relação a ela eram redobrados. Sua mente era um pouco avançada para sua idade e muitas vezes suas atitudes eram de uma mulher de vinte anos. Eu tentava a todo custo acalmar os ânimos dos dois, mas era uma coisa quase impossível, afinal pai e filha tinham o mesmo gênio ruim.Eu só esperava que depois de nossa conversa Valentina ao menos pensasse antes de agir. O pior disso tudo era saber que ela andava de "caso" com o Liam. Chay não permitiria. Nunca, jamais.Eu o considerava um bom rapaz, sempre nos serviu com eficiência e fidelidade. Mas isso não mudava o fato de ser alguns anos mais velho que Valentina. E por Deus... ela ainda estava nova demais para pensar em namoro. É certo que era apenas quatro ou três anos mais nova do que eu, quando me entreguei ao pai dela.Estava difícil conciliar tudo... muito difícil. De uns anos para cá vários acontecimentos chegaram a desestabilizar um pouco nossa família. Lógico que Chay e eu, apesar de batermos de frente um com o outro, sempre chegávamos a um consenso.Voltei para o quarto e me sentei na cama, pegando o porta-retratos na mesinha ao lado. Era dividido em quatro. Uma foto do meu casamento com Chay, outra foto onde eu estava grávida dos gêmeos com Chay ao meu lado. Na outra éramos eu, Chay e Joseph. E a última... a que me levou lágrimas aos olhos. Enxuguei-as rapidamente antes que Chay resolvesse entrar no quarto e me pegasse remoendo aquilo. Foto de oito anos atrás... quando estive grávida pela segunda vez. Na época em que a foto foi tirada, eu estava com dez semanas de gestação. Era ainda bem pequeno, mas tanto Chay quanto eu tínhamos um sorriso enorme no rosto. Engraçado como eu mesma não me dei conta da gravidez. Sim... eu tinha parado de me proteger sem comunicar isso a Chay. Sempre soube que ele queria mais filhos e pela sua felicidade vi que não estava enganada. No entanto, estava tão envolvida nos negócios que a ausência das regras me passou despercebida.Essa foi uma época ao mesmo tempo feliz e triste. Ainda olhando para a foto em minhas mãos, deixei escapar novas lágrimas.Somente três dias após aquela foto nós o perdemos... nosso bebê. Comecei a sentir mal-estar, dor e depois houve um sangramento. Como não poderia deixar de ser, Chay correu comigo para o hospital. Descobrimos então que se tratava de uma gravidez ectópica, mais conhecida como gravidez nas trompas. Nada pode ser feito... eu já estava abortando. Os médicos não souberam com certeza o que pode ter acontecido, já que vários fatores podem ter contribuído para isso, inclusive o DIU, que usei por um tempo.Mas isso nem me importava. Eu tinha perdido meu bebê e explicações não serviriam para aplacar a dor que aquela perda me causava. Lembro-me de ter ficado horas aconchegada nos braços de Chay, chorando de forma descontrolada. Felizmente, a notícia boa é que esse acontecimento não me impediria de tentar ter outro bebê. Foi difícil, mas eu tinha o carinho do meu marido e dos meus filhos. Aos poucos consegui superar, mas nunca esquecer.Naquela mesma época, apenas duas semanas depois, finalmente soubemos o que estava acontecendo com Esme.Após ser convencido por Chay, Carlisle a levou para fora do Pais e foi então que descobriram um tumor maligno no pâncreas. Por ser de difícil diagnóstico e extremamente agressivo, Esme praticamente não teve chance. O tratamento foi apenas paliativo, já que os exames mostraram que houve metástase.Não foi fácil para nenhum de nós. Pior, obviamente para Esme. As dores que sofria eram terríveis e não raro, Chay e eu chorávamos a noite sempre que voltávamos da casa dela. Por fim, ela sequer tinha forças para ir ao banheiro sozinha. Apenas seis meses depois nós a perdemos.Às vezes penso como essa vida é irônica. Muitas pessoas se preocupam tanto com o dinheiro e somente com ele. Ou então perdem tempo com intrigas e brigas fúteis, cuidados excessivos com a aparência simplesmente por orgulho. E no final... de que adianta isso? Nem todo o dinheiro do mundo foi capaz de salvar Esme. Carlisle gastou uma pequena fortuna, vendeu bens, tudo em busca de uma cura para a esposa. Em vão.O que sei agora, é que nessa vida não somos nada. Somos apenas um grãozinho diante da grandiosidade de outras coisas. Por isso eu me encantava com a forma com que Chay agiu com nossos filhos. Nenhum deles teve nada de mão beijada. Suas mesadas só foram conquistadas quando cada um passou a arrumar o próprio quarto e às vezes ajudar Evangeline.Lembro-me das palavras dele: Não quero apenas dar o alimento aos meus filhos, Mel. Quero ensiná-los a plantar.Tudo bem, sei que essa frase com certeza não saiu da cabeça dele. Mas eu concordava plenamente.Enfim... com a morte de Esme, mais uma vez tivemos que recomeçar. Meus filhos sofreram a perda da avó que os mimava e enchia de carinho. Chay sofria calado e sei que muitas vezes, quando o pegava me olhando, o que estava refletido em seus olhos era o medo de me perder também.Mas nada se compara ao que Carlisle viveu. Ele se desesperou, não se conformava. Passou a beber diariamente, praticamente o dia inteiro. Não foram poucas as vezes em que Jasper chamou Chay, afinal ele era o único que Carlisle ainda ouvia.Depois de algum tempo, nem Chay conseguia mais essa proeza. Carlisle parecia outro homem. Frio, ainda mais arrogante e sem sentimentos. Passou a frequentar bordeis e só chegava em casa com o dia já claro. Nem com os netos se importava. Alice e Jasper foram morar com ele por um tempo, mas ao ser praticamente expulsa, Alice virou as costas para ele.Ha algum tempo descobrimos que Carlisle vinha mantendo um relacionamento com uma prostituta. Dai a explicação para querer explorar a prostituição. E então... novamente ele e Chay batiam de frente.Eu também não concordava com isso, mas tive que ter aquela conversa com Chay. Carlisle estava fora de si e da mesma forma estava meu marido. Queria apenas mostrar a Chay o quanto ele é forte, embora não fosse novidade. Sei que apesar de ouvir muito a minha opinião, ele gostava de me contrariar. Sentia prazer em fazer isso. Esperava sinceramente que dessa vez não fosse diferente. Percebi que apesar de suas palavras, ele estava disposto a explorar esse ramo apenas para agradar ao pai. Estranho para alguém como Chay? Muito. Ele nunca se importou em querer agradar a ninguém. Mas eu via sua preocupação com o pai. Ele estava sofrendo. Mas não havia mais nada que pudéssemos fazer. Aceitar essa imposição ridícula era fazer com que Carlisle afundasse ainda mais na lama.Lembrei-me das palavras ditas a ele há poucas horas:-Provocação é seu sobrenome Chay. Cadê aquele homem poderoso e temido que conheci? Você sentia prazer nos desafios Chay. Pense que esse é apenas mais um. Eu estarei do seu lado.Silenciosamente eu orei para que ele continuasse o mesmo de sempre e me desafiasse, agindo contra meus conselhos.Coloquei o porta-retratos de volta no lugar e me recostei na cabeceira da cama, fechando meus olhos. Nesse exato instante a porta foi aberta e abri meus olhos novamente. Chay apenas me olhou com cara de poucos amigos e tirou a camisa, jogando-a de qualquer jeito sobre a poltrona. Estava me ignorando completamente. Foi até a varanda e ali ficou parado um tempo, as mãos no bolso, provavelmente observando Valentina.Voltou novamente ao quarto e se jogou na poltrona, as pernas abertas e os olhos fechados.-Acha que pode me ignorar o tempo todo?-Não. Principalmente porque você me perturbará, como sempre.-Não pense que suas grosserias farão efeito, Chay.-Que porra foi aquela? Por que me desafiou daquele jeito?-Por acaso dizer o que penso é desafiar você?-Desde que eu não tenha pedido a merda de sua opinião é sim... desafio.-Vou ignorar a parte da "merda de opinião".Voltamos a ficar em silencio, mas vendo que meu marido continuaria feito uma mula empacada, levantei-me e ajoelhei à sua frente.-Eu fui sincera quando disse que seria um desafio se aceitasse entrar nesse negócio, mas não disse que isso era o certo. Falei que estaria ao seu lado como sempre estive... mesmo que isso signifique ficar contra Carlisle.Não sei quanto tempo ele ficou me encarando sem dizer qualquer palavra. Alias, seu rosto era tão completamente inexpressivo que eu poderia pensar que ele estava congelado, morto.Quando por fim manifestou uma reação, foi a de sorrir torto, daquele jeito debochado que eu odiava.-Quer dizer que você acha que eu devo "entrar" no negócio das "prostitutas".Foi uma afirmação cínica e carregada de duplo sentido, e embora soubesse que aquilo era para me provocar, levantei-me furiosa.-Minha vontade é de sentar a mão em sua cara.Fui me afastando, mas Chay me puxou de volta, fazendo com que eu caísse sentada em seu colo.-Será que é a mão que você quer sentar em minha cara?Mordeu o lóbulo da minha orelha, provocando arrepios em minha pele.-Você é tão insuportável, Chay. Não sei porque ainda não lhe chutei e pedi o divórcio.-simplesmente porque sabe que eu não daria. So sai do meu lado se for morta, Mel.Silêncio. Girei um pouco o corpo e a expressão de dor em seu rosto denunciou que tinha se lembrado da mãe. Inclinou a cabeça para frente, repousando-a em meu peito.-Estou cansado. É meu pai, os negócios, Valentina... tudo.-Eu disse que você é forte, mas não precisa aguentar tudo sozinho, Chay. Que merda... não vamos brigar por isso e sim chegar a uma solução.- Como se eu precisasse de alguém para decidir o que fazer...Fechei a mão, controlando a vontade de acertar o nariz dele. Sabia que estava fazendo aquilo para me provocar, devolvendo o que fiz com ele. So por isso deixei passar.Segurando em minha cintura, Chay me colocou de pé.-Vou tomar um banho e irei até aquela merda de puteiro.Arregalei os olhos.-Então...-Ja está decidido, Mel. E que venha a guerra.Capitulo fresquinho
Relembrando que volto a postar na segundaOu semana que vem ♥
sexta-feira, 31 de julho de 2015
FANFIC - "O PODEROSO SUEDE" - CAPÍTULO 03 - 2° TEMP.
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Semana quem vem ..? Nn seii se vou aguentar ..!
ResponderExcluirmuito boa essa web
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