Chay
Ultimamente esse era o modo
que todos me encontravam: sentado na cadeira do escritório, cabeça jogada para
trás e olhos fechados. Chegou um momento em que para todo lado que olhava... só
via merda. Cada uma pior que a outra. Era a típica expressão: Se correr o bicho
pega, se ficar o bicho come.
Como não sou homem de correr
de nada, e muito menos ser comido por nada que não fosse minha esposa,
levantei-me disposto a enfrentar a ala pediátrica e acabar de vez com aquele
motim despropositado. Sabiamente eu me decidi por conversar com cada um deles
separadamente. Conhecia as peculiaridades de cada um para saber como
desarmá-los, sem que um fosse auxiliado pelo irmão. Não cheguei a sair do lugar
e a porta foi aberta. Mel entrou e eu me sentei, já sabendo que ela pretendia
conversar. Enquanto caminhava até mim, eu a olhei de cima a baixo. Segura de
si, destemida, às vezes até prepotente demais para o meu gosto. Ela me olhava
diretamente nos olhos.
- Sabe que a culpa disso tudo
é sua, não sabe?
Ela parou de repente,
surpresa com meu repentino ataque.
- Minha? Eu que tenho esse
gênio do cão?
Perguntou, sentando-se sobre
a mesa e colocando os pés calçados com botas sobre minha perna.
- A culpada é você. Se não
tivesse aparecido na minha vida, eu não teria me casado e gerado esses gremlins
do mal.
Ela arqueou a sobrancelha.
- Está arrependido? Ja existe
divórcio há séculos, sabia disso?
- Você não vive sem mim,
baby.
Falei colocando minhas mãos
sobre sua panturrilha e apertando levemente.
- Digo o mesmo.
Eu ri e empurrei a cadeira
mais para perto, abrindo mais as pernas dela e colocando a cabeça em seu colo.
- Sabe que estou brincando,
não é? Pelo amor de Deus, não leve a sério o que falei. Eu amo você e meus
filhos.
- Sei disso, seu idiota. Mas
falando sério, Chay... eles não parecem de brincadeira. O que acha de nós dois
conversarmos com eles?
- Eu estava indo fazer isso.
Conversar com cada um deles, separadamente.
Mel acariciou meus cabelos,
remexendo-se sobre a mesa.
- Rosalie e Alice me ligaram.
Ergui novamente a cabeça.
- E?
- As duas virão aqui amanhã.
Estão ao mesmo tempo chocadas e chateadas com os maridos. Sequer pediram
opinião delas e ainda apoiaram a loucura de Carlisle.
- Imaginei que ficariam.
Principalmente Alice. Mas elas já deveriam saber que não se casaram com alguém
tão legal quanto eu, que dá valor a opinião da esposa.
Mel rolou os olhos e me
empurrou, saltando da mesa.
- Estou preocupada. E muito.
- E eu não? Acho que a
primeira pedrada na cruz foi dada por mim. So pode ser isso.
- Ah com certeza. Deu a
primeira pedrada e ainda incentivou o resto a fazer o mesmo.
Eu cruzei os braços diante da
piada, encarando-a com a sobrancelha arqueada.
- É isso mesmo? Como se não
bastassem seus pivetes me aporrinhando, vem você também?
- So confirmei sua dúvida.
Mas e ai? Falaremos com eles? Ou prefere fazer isso sozinho?
- Eu prefiro ir sozinho. Você
passa demais a mão na cabeça deles, sabe disso.
- Não pense que me ofende,
porque não. Vou sair porque preciso ver aquele carregamento. A gente se encontra
à noite.
Eu a puxei para os meus
braços antes que ela se afastasse, enterrando meus rosto entre seus cabelos e
aspirando seu cheiro. Mordi seu pescoço, rindo ao sentir o tremor em seu corpo.
- Não precisa ir tão
cheirosa, tampouco com essa calça grudada ao corpo.
Ela apenas me beijou
rapidamente, empurrando-me em seguida.
- Sabe que certas coisas que
fala comigo, nem entram em meus ouvidos. Até mais tarde, querido.
Balancei a cabeça,
observando-a sair. E depois dizia que nossos filhos puxaram a mim. Aliás... era
hora de dar uma volta no berçário. Joseph seria o primeiro. Era o mais
tranquilo, o que sempre me ouvia e respeitava minhas opiniões. Estava na
biblioteca, com vários livros abertos sobre a mesa.
- Atrapalho?
- Oi pai... pode entrar. So
estava estudando um pouco.
Como sempre. Não me lembro de
ter conhecido alguém tão estudioso quanto Joseph. E eu tinha um puta orgulho
disso.
Sentei-me na cadeira à frente
e o observei em silêncio. Ele enfrentou meu olhar, já sabendo o que eu
pretendia.
- Pai...
Ele começou e eu o
interrompi.
- Joseph, não. Você é o único
normal dessa família, pelo amor de Deus. Se você embarca nessa loucura... eu me
sentirei um fracasso como pai.
- Não seja dramático. Sabe
que está falando isso só para nos fazer desistir.
- Também, mas não deixa de
ser verdade. Vocês não entendem que isso não é um parque de diversão. Tudo
bem... sei que estou pegando pesado e que jurei jamais tocar nesse assunto, mas
você já se esqueceu em que circunstancias nos encontramos?
Ele engoliu seco e seu olhar
ficou triste.
- Jamais poderia me esquecer.
- Então, merda.
Falei dando um tapa no braço
da cadeira e me levantando, bagunçando meus cabelos. Ja estava começando a
ficar nervoso antes mesmo de começar a conversa.
- Você viu que isso não é
brincadeira. Você sabe do que a máfia é capaz. Nossa família mesmo, Joseph.
Matamos a sangue frio quando qualquer coisa atravanca nosso caminho. Como eu
poderia enfiar meus filhos nisso?
- Você já enfiou, pai. Se
queria que vivêssemos numa redoma, deveria ter saído dessa vida há mais tempo.
Ou então não deveria ter tido filhos.
Eu fiquei paralisado com a
ousadia dele. Joseph jamais falou assim comigo. Apontei o dedo para ele.
- Olha só... eu relevarei
isso que você falou. Porra, Joseph. Vocês são praticamente crianças.
- Eu tenho a mesma idade que
você tinha quando começou a carregar tudo nas costas.
- É diferente, cacete.
Olha... volta pra sua noiva, que nem me lembro o nome. Volte para suas
criancinhas e deixe que eu cuido do resto, ok?
Ele balançou a cabeça.
- Definitivamente não. Não
deixaremos nem você, nem a mamãe nessa merda sozinhos. Estou furioso com o tio
Jasper e Emm por terem abandonado o barco. E foi melhor assim. Aqui não é lugar
para covardes.
Eu apenas abri minha boca,
sem emitir qualquer som. Meu filho dava um show de assustadora maturidade.
- Entendo você e até concordo
com isso. Mas...
Abri os braços e voltei a
baixá-los. Eu nem sabia mais o que dizer.
- Consegue imaginar Valentina
com uma arma na mão?
Ele riu.
- Consigo.
- Seria apavorante. Ela seria
capaz de estourar os miolos de alguém que risse do cabelo dela.
- Não é assim, pai.
Caramba... somos seus filhos. Não somos irresponsáveis. Fomos muito bem criados
para sabermos como agir. Somos filhos do todo poderoso Suede.
Bufei.
- O apelido de poderoso não é
só por esse motivo.
- Ah sim, minha mãe já me
contou. Poupe-me da parte podre da história.
Ele falou e gargalhou,
ficando sério ao ver minha expressão nada satisfeita.
- Não terminamos esse
assunto.
Eu disse, me preparando para
sair. Confesso que estava pasmo. Tão irritantemente impressionado com Joseph
que não tinha condições de falar mais nada naquele momento. Ja estava com a mão
no trinco, quando ele me chamou.
- Pai? Estamos dentro, não
estamos?
- Dentro da minha cabeça...
me infernizando. Apenas isso.
Sai da biblioteca, subindo as
escadas. Sentia minhas pernas mais pesadas que o normal. Desejei ser sintoma de
velhice, e não o peso daquela revolução que acontecia em minha vida. Bati à
porta do quarto do Enzo e abri, antes mesmo que ele dissesse alguma coisa.
Como sempre, estava absorto
com suas fórmulas químicas. Ja perdi a conta de quantas vezes esse menino
explodiu o quarto, inventando, ou tentando inventar algo. Mel ficava com os
cabelos em pé, desesperada e com medo que algo acontecesse a ele. Mas eu me
divertia. Às vezes estávamos em casa, conversando em nosso quarto quando
ouvíamos o estrondo. De uns tempos pra cá, ele parece ter melhorado, já que os
estrondos eram cada vez mais raros.
- Está tentando explodir o
que ai?
Ele riu, remexendo um liquido
estranho.
- Eu nunca tento explodir,
pai. Isso é só consequência.
Eu ri e me joguei na
poltrona, encarando-o.
- Pode parar um instante?
- Eu já sei sobre o que quer
falar.
Ele disse, mas abandonou sua
experiência e se sentou no chão à minha frente.
- Que bom que você sabe.
Espero que saiba também o quanto essa situação é absurda.
Ele deu de ombros.
- Não vejo nada de absurdo.
Somos filhos da máfia. Nada mais natural.
- Não. O fato de serem filhos
de um porra louca feito eu não quer dizer nada. Que pai deseja isso para os
filhos?
- Pai...
- Ok. Deixe-me reformular.
Não quer dizer que eu não vá nunca aceitar vocês ao meu lado. Entendam que esse
não é o momento.
- Como não? É exatamente o
momento. Enquanto alguns abandonam o barco, nós queremos nos unir, pai. Entenda
isso. Não é tão absurdo.
- Não seria tão absurdo se
vocês tivessem idade para isso. Vocês só tem dezesseis anos.
- Nossa mãe tinha dezenove.
- Epa.. nem vem. Ela tinha
dezenove quando se casou comigo. Ela só entrou para os negócios algum tempo
depois.
- Que seja. Mas idade quer
dizer realmente alguma coisa? Não somos imaturos e inconsequentes.
Ele quase repetia o discurso
do Joseph, o que me fez revirar os olhos. Parecia que eles ensaiaram direitinho
o que diriam.
- Para a máfia, são sim. Isso
não é um passeio num parque, Enzo.
- Sabemos disso. E estamos
preparados. Nós vivemos dezesseis anos de nossas vidas sob o mesmo teto que um
homem íntegro, forte, destemido e uma mulher tão forte e destemida quanto ele.
Não somos franguinhos de leite com medo do lobo mau debaixo da cama.
- Eu sei. Eu vejo isso. Vocês
só não percebem que a prática é um milhão de vezes pior que a teoria.
Ele se levantou e colocou a
mão em meu ombro.
- Tio Jaspere tio Emm fugiram
do pau. Meu avô, como você mesmo disse, está senil. Nós temos que ajudar. Ja se
esqueceu de suas próprias palavras pai? Nós somos uma família... e defendemos a
família.
Enterrei meus dedos em meus
cabelos. Minhas próprias palavras jogadas contra mim. Era fim de carreira pra
mim. Devo ter desvirtuado algum anjinho da guarda, oferecendo droga pra ele.
Não era possível tamanha provação.
- Não terminamos esse
assunto.
Falei, repetindo o que disse
ao Joseph. O pior era agora. Aquela topetuda seria a pior parte. Não baixava a
porra da crista de jeito nenhum.
Fui até o quarto de
Valentina. A porta estava entreaberta e fiquei parado um tempo do lado de fora.
So agora percebia como minha cabeça estava dolorida. E olha que raramente eu tinha
esse tipo de dor.
- Entra logo, pai.
Bufei e empurrei a porta.
- Como sabia que eu estava
aqui?
- Pelo cheiro.
- Hum...
- Se veio falar sobre nossa
entrada nos negócios, pode dar meia volta.
- Olha como fala comigo,
menina.
Valentina realmente era o capeta.
Tanto Joseph quanto Enzo me chamaram para entrar e sentar para conversarmos.
Somente ela me pedia para dar meia-volta. Mas era um filhote de Mel mesmo. Tão
atrevida quanto a mãe.
- Só estou dizendo para não
gastar saliva com algo que já está decidido.
- Decidido porra nenhuma. Eu
ainda mando nessa merda, Valentina. E minha resposta é não. Nem que eu tenha
que mandá-los para um internato do outro lado do mundo.
- Eu não vejo o motivo para
tanto destempero.
- Não vê porque é uma louca,
inconsequente. Ah qual é, Valentina? Estão entendiados? Por que não vão fazer
as coreografias do Menudo e esquecem a Máfia?
Ela apenas rolou os olhos e
torceu os lábios, como sempre fazia quando achava as coisas absurdas demais.
- Porque esse tal de Menudo é
da sua época e não da minha. Eu gosto de Maroon 5. Adam Levine é tudo de bom.
- Mas hein?
Eu falei com os olhos
arregalados, assombrado com o que acabei de ouvir da boca da minha garotinha.
- É isso mesmo.
Cocei minha cabeça, esfreguei
meus dedos na testa e assoprei o ar com irritação.
- Ok. Então vá curtir as
músicas disso ai. Faça um fã clube pro carinha tudo de bom e esqueça isso.
Ela jogou a revista para o
lado e se levantou, encarando-me com as mãos na cintura.
- O que está pegando, pai?
Sabemos onde estamos nos metendo. Somos crus ainda? Claro que somos. Mas a
mamãe também era e hoje ela é foda. Nós seremos treinados pelos melhores...
nossos ídolos.
Ela me olhou daquele jeito
que sabia que me desarmava.
- Pelos nossos pais. Nosso
maior exemplo. Não faremos nada além do devido, pai. Dê-nos um crédito.
- Vocês não tem idade para
isso.
- Não cronologicamente. Mas
temos maturidade.
Dei um sorriso torto.
- Será?
- Temos sim. E nem vem com
esse sorrisinho pra mim, porque ele só cola com a mamãe.
Resolvi mudar de tática.
Valentina parecia ser a cabeça daquele motim traiçoeiro.
- Não meça forças comigo.
Seus irmãos já entenderam que é melhor ficarem afastados.
Ela franziu a testa, meio
incrédula, mas depois empinou o nariz.
- Porque são frouxos. Pior
pra eles. Eu já entrei. Daqui não saio, daqui ninguém me tira.
- Veremos se uma cinta no seu
lombo não tira você daqui. E você não entrou porra nenhuma.
- Pense bem, pai. Poderíamos
nos drogar, aprontar todas. Fazer um monte de merda. Mas só estamos querendo
ajudar.
- Podem ajudar molhando menos
as fraldas e continuando no berço, quietinhos.
- É melhor do que eu ficar
namorando escondido, transando e transformando você em vovô antes da hora.
Eu arfei, arregalando os meus
olhos. Se ela pretendia me assustar... com certeza conseguiu. Apontei o dedo em
seu rosto, quase tocando seu nariz, mas a bandida nem ao menos piscou.
- Você não brinca com uma
coisa dessa, Valentina. Eu sou capaz de matar você. E não quero mais saber de
papo não. Topetuda dos infernos.
Estava saindo do quarto, mas
antes que eu repetisse as mesmas palavras ditas a Joseph e Enzo, Valentina
falou em tom debochado.
- Nossa conversa termina
aqui, pai.
Eu não falei nada. Não queria
dar os dezesseis anos de tapas que Valentina merecia. Eu só queria me deitar
numa cama, fechar os olhos e só acordar daqui a mil anos. Sabe quando você
percebe que a merda está espalhada por todos os lados? Eu via isso agora.
Ja tinha tomado minha decisão
e só esperaria Mel voltar para conversarmos. Fui para o escritório e peguei um
copo com uísque e meu charuto. Queimar a garganta com o álcool e entupir meu
cérebro de nicotina seria meu único alívio no momento.
☆;:*:;☆
Olhei para o celular que
vibrava sobre a mesa e estiquei a mão. Creio que cochilei um pouco, pois me
sentia um pouco grogue. Não era por causa da bebida... talvez.
Minha respiração ficou
suspensa ao reconhecer o número. Pelo jeito, a notícia se espalhou rápido.
- Suede.
Falei secamente.
- Ola Suede.
- Don Andreolli...
Falei, já sabendo do que se
tratava.
- Então Suede... acho que
precisamos conversar não é?
- Duvido muito. Nossos
negócios são absolutamente distintos.
- Uma porra que é. Seu
papaizinho está se enfiando onde não deve e acho melhor você resolver essa
situação.
- Meu pai e eu não estamos
mais juntos.
- Isso é uma surpresa. O
império Suede desmantelado? Mas não interessa... se seu pai continuar fazendo
merda... vai sobrar pra você. Portanto, meu caro... precisamos nos encontrar
sim.
Acabei marcando de me
encontrar com ele. Era o que sempre disse. Ainda que não estivéssemos mais
unidos, qualquer coisa que meu pai fizesse, resvalaria em minha família. Talvez
fosse o momento de colocá-lo numa camisa de força.
- Inferno.
Falei jogando o copo com
força contra a porta. Um segundo depois melabriu a porta.
- Ah se esse copo me acerta,
Berllucci.
Fiz uma careta e me levantei
enquanto ela se aproximava.
- Problemas?
- E desde quando não os
tenho?
Puxei-a para mim, que me
olhou estranho.
- Bebeu a ponto de ficar
bêbado?
- Não estou bêbado. Estou
momentaneamente... animado.
Falei e girei-a de costas
para mim, prensando seu corpo contra a mesa e meu próprio corpo. Desci minha
mão pela sua carne farta, apertando-a, enquanto mordia seu pescoço.
- Queria dar uma surra no
maldito que inventou calças para mulheres.
Ela escorreu o corpo pelo
meu, passando sob meu braço. Parou atrás de mim e cruzou os braços,
desafiando-me.
- Precisamos conversar. E é
sério.
Abri meus braços,
completamente vencido.
- E eu tenho escolha? É o
mundo contra Chay Suede.
- Com certeza.
Ok... eu só quis testar minha
veia dramática. Mas a resposta dela me deixou alerta. Vinha mais merda por ai?
Olhei para o alto, mirando Deus. Quantas vezes mais ELE me faria visitar o
inferno?
Mama, ta fora da área do blog
ResponderExcluirMas da de ler pelo not sem problemas
Lindo,Mara,Pfft ♥
Liiiiiiiiindooo Manuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu
ResponderExcluirContinua Bobada ♥
Manu , continua que dias vc pde postar as webs? Em flor?
ResponderExcluir#AnsiosapraTWD6