quinta-feira, 27 de agosto de 2015

FANFIC - "O PODEROSO SUEDE" - CAPÍTULO 07 - 2° TEMP.

CHAY
Eu parecia um veadinho, uma gazela assustada correndo de uma conversa sobre sexualidade. Tudo bem, talvez a comparação fosse pesada demais, mas somente isso justificava minha fuga quando Mel propôs aquela conversa. Sinceramente... somente se ela me dissesse que se jogaria na cama comigo, num lugar deserto, longe de toda aquela merda. Fora isso, eu não queria ouvir. As pessoas tem a irritante mania de achar que sou de aço, que aguento todas as porradas do mundo de uma só vez. Fiz fama de implacável, duro, frio, agora teria que aguentar toda espécie de absurdos que eram jogados sobre mim, sem chance de escapar.
Como a intenção dela não era se acabar comigo numa cama, eu mesmo me encarreguei de acabar com ela na nossa cama. Assim que entrou no escritório querendo conversar, eu a puxei para mim, beijando-a e subindo com ela no colo para o nosso quarto. Ela ainda tentou me fazer parar, mas a safadeza dela não permitia. Em pouco tempo estava gemendo sob meu corpo... ou por cima dele.... ou em tantas outras posições que consegui, para cansá-la ao extremo. Agora estava ressonando de bruços ao meu lado. Melhor assim. Enquanto ela descansava o corpo, eu descansava minha mente. Estava decidido e demônio nenhum me faria mudar de ideia. Principalmente aquele demônio em forma de mulher. Eu sabia que Mel me daria uma notícia pior do que todas as outras que recebi nos últimos dias. Levantei-me, disposto a ir atrás dos trombadinhas e contar a novidade. Ja previa choro, quebradeira, mas eu não voltaria atrás.
Tinha acabado de vestir minha calça quando ouvi a voz.
- Pode ir parando ai. Não pense que fugirá de nossa conversa.
Girei o corpo lentamente, olhando para Mel, estreitando os olhos.
- Estava fingindo que dormia, Mel?
- E você se aproveitando para fugir.Chay Suede fugindo de uma conversa. Essa será a piada do ano.
- Refaça sua frase. Chay Suede fugindo de uma conversa tosca e sem sentido.
Ela apenas cruzou os braços e me encarou.
- Sente-se aqui.
- Não. Tenho coisas mais importantes a fazer. E já saquei que você só esperou eu me vestir para mostrar que está acordada. Medo que eu a calasse novamente com meu...
- Ah, Chay... pare de criancice. Está parecendo uma mulherzinha fugindo desse jeito.
Passei a mão no cabelo, bagunçando-o e começando a andar pelo quarto. Estava começando a me irritar novamente e isso não era bom sinal.
- Sabe que nunca fugi de caralho nenhum, porra.
Depois da frase estranha, apertei meus lábios ao ver o sorriso sarcástico dela.
- Você entendeu o que eu quis dizer.
Peguei minha camisa com força desnecessária e a vesti.
- Eu me recuso a ouvir algo que já sei. Eu quase posso ouvir sua voz aqui... massacrando meus ouvidos com uma explicação completamente estúpida.
- Ah é, senhor Eu sei tudo...então diga-me o que pensa que direi.
- Dirá que nossos filhos tem a máfia no sangue. São nossos herdeiros, querendo ou não. E que eles puxaram a mim, o que é uma grande inverdade. Dirá também que eles se sairão muito bem, pois serão treinados por mim, que farão apenas trabalho leve e toda essa merda que anda espalhada na mente obtusa de vocês.
- Hum... perfeito, senhor Suede. E sabe por que adivinhou tudo isso?
Dei um sorriso debochado.
- Porque é fácil ler pensamentos medíocres.
Ela apenas estreitou os olhos e se levantou, magnificamente nua, apontando o dedo em meu peito.
- Medíocre é sua babaquice ao não assumir que seus filhos estão mais do que dentro da máfia há anos. Nem venha com essa conversa mole de que só estão com dezesseis anos. Você assumiu mais velho, mas bem sei que aos dezessete você já carregava uma morte nas costas.
- Não foi... por querer. E foda-se, eu digo que eles não farão parte e ponto final.
Mel inspirou muito lentamente e tive a certeza que ela contava mentalmente até cinquenta, para não me meter o punho fechado na cara. Seria uma tremenda injustiça, afinal quem merecia apanhar era o velhote maluco que se dizia meu pai.
- Ok... não vamos discutir isso por enquanto. Não era bem isso que queria com você. Acho que está perdendo o jeito, Berllucci.
Ela falou e piscou, mostrando seu sarcasmo. Realmente... estava perdendo o jeito para pescar no ar o que minha adorada esposa estava aprontando.
- Momentaneamente, querida. Mas estou aqui.
Sentei-me na poltrona e abri os braços, sendo cínico, mas me sentindo mais cansado do que jamais estive.
- Vamos lá, amor... despeje tudo sobre mim. Acho que nada mais me perturba. Fale.
- Alice e Rosalie...
Ela falou ao se sentar no meu colo. Por algumas horas, tinha me esquecido completamente daquelas duas. Não fazia ideia da reação delas, após descobrirem que os ratos, que se intitulavam maridos, ficaram a favor da loucura do meu pai. Alice era brava, assim como Rosalie, mas ambas apaixonadíssimas pelos maridos. So não sabia se eram topetudas feito Mel, a ponto de desafiá-los.
- O que tem elas?
- Estão possessas com os maridos, óbvio. Eu não sei o que Rosalie fará quanto ao Emmett, mas a Alice...
Passei meus dedos na testa, já mandando uma mensagem para minha cabeça, que esse não era o momento de doer.
- Fale tudo logo, Mel. Odeio esses rodeios...
- E eu amo sua delicadeza... sempre.
Beijou-me e me encarou, meio ressabiada.
- Alice está abandonando o Jasper.
Enfim, uma surpresa. Sempre acreditei que Alice, apesar de ser uma abelhuda, era uma mulher quase dependente do marido. Era bem resolvida, quase tão atrevida quanto Mel, mas, ainda assim, se preocupava demais com as reações do marido com qualquer atitude sua. Cheguei mesmo a pensar que ela apoiaria Jasper , apesar de ter brigado com Carlisle. Talvez Mel estivesse mesmo certa. Eu estava perdendo jeito...
Merda nenhuma que estava. O povo que resolveu se rebelar de uma hora pra outra, dando um nó em minha cabeça. No entanto, algo de repente estalou em meu cérebro.
- Espere ai... abandonando o jasper significa saindo de casa?
Eu amava Alice. Amava demais como se fosse realmente minha irmã de sangue. Mas tudo o que eu não precisava era ter aquela maluca sob o mesmo teto. Porque obviamente, se ela saísse de casa, eu não teria sossego sabendo que ela corria algum risco, desprotegida por ai.
Imaginei minha casa com Mel, Alie e os pivetes. Em uma semana estaria tão caduco quanto meu pai.
Mel percebeu o meu receio, óbvio. Gargalhou, colocando a cabeça em meu ombro.
- Não se preocupe. Ela disse que, se ele deseja apoiar Carlisle... que vá morar com ele. Ela não sairá de casa.
Eu tive que gargalhar ao imaginar Jasper sendo expulso de casa pela coisinha.
- Ainda bem que o cérebro dela não é tão prejudicado quanto sua estatura.
- Quanta maldade.
- Verei mais segurança para ela. Sei que aquele porra louca não fará isso.
Mel alisou a parte do meu peito que a camisa entreaberta revelava e fingiu calma. Tão dissimulada. Eu sabia que estava só preparando terreno para jogar mais uma bomba.
- Que porra... já falei para dizer tudo logo.
- Quanto aos nossos filhos...
Eu me levantei abruptamente, quase jogando-a ao chão.
- Quanto aos nossos filhos, já está decidido.
Ela me encarou e eu sustentei seu olhar.
- Não perderei minha família, Mel. Eles insistem nisso, e pelo jeito a desmiolada da mãe apoia. Portanto... ajude-me a fazer as malas deles. Irão hoje mesmo para fora do país.
Mel arregalou os olhos, mas não de susto e sim de indignação.
- Mas não vão mesmo. Meus filhos ficarão perto de mim.
- Que se dane! Escute aqui, Melanie... eu cansei. Cansei dessa porra toda.
Falei com raiva. Até eu mesmo me assustei com meu súbito ataque de fúria. Mel bateu palmas, o que me enfureceu ainda mais.
- O todo poderoso voltou. As ferraduras são novas, pelo jeito.
- Diga o que quiser. Você adora esse cavalo. Mas eu só digo uma coisa: quer seus filhos juntos de você? Então arrume suas malas e vá com eles. Aliás, seria bem melhor se realmente fosse com eles.
- O que? Está me mandando embora, Berllucci?
Ela gritou e me exasperei ainda mais.
- Que porra, não! Estou mandando aqueles pivetes metidos a revolucionários.
Soltei um palavrão e baixei meu tom de voz.
- Eu só quero minha família segura. E se para conseguir isso, eu precisar mandar você com eles, pode ter certeza que eu farei. Eu não quero isso. Você é minha companheira, minha força aqui. Mas não perderei nenhum de vocês... não mesmo.
- Você... você está sendo dramático demais, Chay.
- Que seja. Já está decidido. Estou saindo agora para uma... reunião. Providencie o jatinho. Eles partem ainda hoje.
Nesses últimos anos, foram poucas as vezes em que vi Mel sem fala, parecendo completamente sem chão. Mas eu precisava dar um basta naquela situação. Toda loucura tem limite. A dos meus filhos já tinha ultrapassado esse limite há muito tempo.
Calcei meus sapatos, peguei meu sobretudo e apenas dei um beijo na testa de Mel, que ainda estava paralisada. Por alguma razão, eu ainda achava que faltava uma peça na minha conversa com Mel. Algo que ela não me contou... ou melhor, que não esperei que dissesse.
Fui direto ao escritório, remexendo no cofre e pegando minha arma. Dali, sai sem ser visto, indo ao encontro de Don Andreoli. Mais algumas doses letais de preocupação em minha cabeça, mas eu sobreviveria.
☆;:*:;☆
Eu mordia o nó de meus dedos com tanta força que eles latejavam. O maldito Andreolli estava conseguindo me deixar realmente puto. Repeti um milhão de vezes que eu não tinha nada a ver com as loucuras do meu pai. Nossos negócios agora seguiam rumos diferentes. Entretanto, se eu não conseguia enganar nem a mim mesmo, conseguiria fazer isso com ele? Ele pensava exatamente como eu. Ainda que não estivéssemos mais do mesmo lado, sempre seríamos a família Suede. E se um Suede fizesse uma besteira, todo o resto estaria envolvido.
- Eu me esforçaria mais para convencer Carlisle. Sabe como é... acho que você tem muito mais a perder do que ele.
Don Andreolli era um homem baixo e corpulento, na faixa dos sessenta anos. Porem, era bem conservado e quem não o conhecesse diria que não chegava aos cinquenta. Eu estreitei os olhos ao ouvir aquelas palavras. Minha mente estava ligada aos movimentos próximos a ele. Sabia que um dos homens dele estava por perto, armado. Mas eu também estava, além do Stefan que me acompanhou.
- Tenho. Todos nós temos.
- Mas eu temeria muito mais se eu tivesse duas beldades em casa... como as que você tem.
Eu senti o osso do meu maxilar latejando, como ficava sempre quando eu me encontrava furioso. Trinquei meus dentes e praticamente rosnei para ele, que simplesmente riu.
- Mas a garota é novinha ainda, não sou um pedófilo. Mas a senhora Suede, com todo respeito...
Respeito era o caralho. Ouvir qualquer marmanjo falando da minha mulher me cegava completamente. Ele nem teve tempo para completar seu pensamento sujo e eu avançava sobre ele, agarrando-o pelo colarinho. Muito ágil, eu o agarrei e girei o corpo, deixando-o à minha frente. Foi tudo tão rápido que seu segurança mal teve tempo de agir. A minha arma já estava apontada para a cabeça dele, enquanto meu braço dava uma gravata em seu pescoço.
- Vince... baixe a arma. Ele... não fará nada.
Don Andreolli falou com dificuldade. So poderia ser louco. Era claro que eu faria sim, se ele continuasse falando das minhas mulheres. Mas Vince obedeceu e eu afrouxei um pouco o aperto, antes de falar bem próximo ao ouvido dele.
- Não pense, não sonhe, não ouse falar o nome da minha esposa ou da minha filha. Eu mato você só por se lembrar que elas existem.
- Calma, rapaz. Foi...
Ele tossiu e afrouxei um pouco mais o braço, empurrando-o para frente. Ele acenou para Vince que se afastou um pouco e então eu voltei a me sentar. Mas ainda estava puto com ele e louco para quebrar sua cara.
- Tão nervoso quando falam da esposa. Mas já deveria ter se acostumado. Aposto como ouviu isso esses anos todos. E a tendência é piorar, afinal... ela é como vinho.
Fechei meus olhos e pressionei os dedos no nariz. Ele não sabia onde estava se enfiando.
- Está tão aflito para se matar? Porque está claramente me pedindo para fazer isso.
Inclinei um pouco meu corpo para frente e sussurrei ameaçadoramente.
- Terei um prazer imenso em arrancar um por um dos seus dentes.
- Sei disso. Ja ouvi falar muito de seus métodos de tortura.
Ficamos em momentâneo e incômodo silencio, até que ele me surpreendeu.
- Aquela cadela já foi minha amante.
Falou pegando e acendendo um cigarro, que tragou lentamente.
- Quem?
- Serena.
Retesei meu corpo e recostei-me novamente na cadeira. Minha mente já fervilhava e milhares de suposições se embaralhavam.
- Era minha amante na Holanda, até que a abandonei para ficar com Martina. Sem querer me gabar, mas eu acho que ela quer me provocar. E está usando Carlisle.
Permaneci em silêncio, pensando sobre o assunto. Uma prostituta se rebelando também? Era a sétima trombeta do apocalipse mesmo. O que mais faltava acontecer? Sinceramente, eu não via como uma prostituta poderia ameaçar forças como as nossas. Era um tanto inconcebível pra mim.
- Sei que parece louco, mas é a verdade. Serena sempre teve as melhores garotas. Eu queria gerenciá-la, mas então apareceu Martina.
Ele tragou cigarro mais uma vez e me encarou com um sorriso debochado.
- E eu me apaixonei... fiquei de quatro, assim como você. E óbvio, Martina exigiu que eu não gerenciasse Serena. Portanto... acho que minha adorável prostituta ficou magoada.
Eu até ri. Era cômico, na verdade. Mas por que eu não aceitava? Não poderia ser só isso. E felizmente, Andreolli parecia partilhar do meu pensamento.
- Ela está usando seu pai, obviamente. Mas há alguém com ela... eu sinto. E é alguém que quer você e não eu.
Levantei-me imediatamente. Eu também sentia isso. Tinha algo apitando em minha mente dia e noite. Inferno... por que meu pai teve que perder toda a astucia que possuía? Deus me livre de ficar assim quando envelhecer.
- Eu sei disso. Aliás desde quando começou essa merda, eu já pressenti isso. Mas não faço ideia de onde vem.
Don Andreolli se levantou e estendeu a mão para mim.
- Eu o apoio... e você me apoia. Mas você sabe que vem chumbo grosso ai. Benitez não vai aceitar isso.
Ainda tinha aquele demônio para me perturbar ainda mais. Benitez era um playboy drogado, metido a mafioso, que dividia com Don Andreolli o comando dos puteiros da cidade. Jovem e desequilibrado, faria de tudo para se mostrar, ainda mais tentando derrotar os Suede.
Sem pestanejar, apertei a mão que me era estendida. Hora de formar pactos e principalmente... tirar minha família da linha de tiro.
Quarenta minutos depois eu saía dali e voava de volta para casa. Liguei meu celular, verificando as mais de dez ligações, todas de Mel. Provavelmente estava desesperada arrumando as fraldas e mamadeiras para viagem. Aliás... já era hora de me preparar para o festival de choro quando eu chegasse em casa.
Ao chegar, encontrei Jack com um sorriso cínico e só rolei meus olhos. Ja sabia que o clima la dentro não deveria ser dos melhores. E não me enganei. Mel estava sentada no sofá, entre Valentina e Enzo. Joseph estava no outro sofá. Tanto Mel quanto Enzo tinham os olhos vermelhos e inchados. Joseph me olhou, entre decepcionado e magoado. Mas Valentina parecia querer saltar em meu pescoço. Resolvi ignorar o clima de chantagem emocional.
- Estão prontos?
- Pai...
Joseph começou e eu o interrompi, estendendo a mão em sua direção.
- Pare. Ja está decidido. Eu avisei que se continuassem com essa loucura, eu os tiraria daqui. Eu não posso fazer nada quanto a você, Joseph, afinal, já é maior de idade. Mas seus irmãos estão de partida.
- Eu posso ao menos falar?
- Não. Nos meus negócios mando eu e não será pirralho nenhum a me ensinar a trabalhar. Eu não posso te enfiar num avião e te mandar pra África, cuidar de criancinhas desnutridas, mas posso impedir sua entrada onde EU comando.
Falei e ele se calou. Com as mãos na cintura, eu encarei Mel. Por um breve momento, tive medo que ela dissesse que iria também. Bateu o terror e logo a imagem de mim mesmo, arrumando minhas malas e partindo com elas se fez presente.
- Mel?
Ela fungou, mas não me olhou.
- Eles estão... prontos.
Valentina deu um pulo, agora dando vazão ao seu choro de raiva.
- Uma merda que estamos. Eu não vou sair do país. Não mesmo.
- Ah não? E quem vai me impedir de enfiar você naquele jatinho agora mesmo? Eu já avisei, Valentina... tem testado minha paciência. Eu deveria mesmo lhe dar uns cascudos.
- Pois dê... eu não tenho medo de apanhar. Nunca tive. Sou forte feito minha mãe.
Arqueei a sobrancelha e olhei para Mel que agora me encarava. Viu? Como eu tinha razão? Puxou o topete da mãe.
- Que ótimo. So que não estou com tempo agora. Podem pegar suas coisas.
Mel se abraçou mais a Enzo e eu tive vontade de dar uns tapas nela também.
- Eu vou... mas vou me deitar com o Liam todos os dias. Vou engravidar de gêmeos como a mamãe e trarei seus netos endemoniados para você cuidar.
Ela não me faria perder o controle. Forcei minha mente a não imaginar duas pestinhas feito ela, correndo pela casa e me chamando de vovô.
- Jacob já sabe muito bem como castrar um porco. E isso acontecerá se Liam relar a mão em você.
- Eu te odeio, pai. Eu te odeio.
Ela gritou e subiu as escadas correndo. Rolei meus olhos novamente para a cena de drama adolescente. Eu não fraquejaria na frente deles.
Nenhum dos dois se despediu de mim ao entrarem no jatinho. Apenas abraçaram Mel e Joseph. Um dia eles entenderiam que era apenas para o bem deles. Joseph não voltou a me olhar, mas pelo menos Mel se jogou nos meus braços quando o jatinho decolou, levando meus filhos. Mais tarde, ao lado da minha mulher, eu me permitiria ser fraco.
CONTINUA

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

FANFIC - "O PODEROSO SUEDE" - CAPÍTULO 06 - 2° TEMP.


Chay
Ultimamente esse era o modo que todos me encontravam: sentado na cadeira do escritório, cabeça jogada para trás e olhos fechados. Chegou um momento em que para todo lado que olhava... só via merda. Cada uma pior que a outra. Era a típica expressão: Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.
Como não sou homem de correr de nada, e muito menos ser comido por nada que não fosse minha esposa, levantei-me disposto a enfrentar a ala pediátrica e acabar de vez com aquele motim despropositado. Sabiamente eu me decidi por conversar com cada um deles separadamente. Conhecia as peculiaridades de cada um para saber como desarmá-los, sem que um fosse auxiliado pelo irmão. Não cheguei a sair do lugar e a porta foi aberta. Mel entrou e eu me sentei, já sabendo que ela pretendia conversar. Enquanto caminhava até mim, eu a olhei de cima a baixo. Segura de si, destemida, às vezes até prepotente demais para o meu gosto. Ela me olhava diretamente nos olhos.
- Sabe que a culpa disso tudo é sua, não sabe?
Ela parou de repente, surpresa com meu repentino ataque.
- Minha? Eu que tenho esse gênio do cão?
Perguntou, sentando-se sobre a mesa e colocando os pés calçados com botas sobre minha perna.
- A culpada é você. Se não tivesse aparecido na minha vida, eu não teria me casado e gerado esses gremlins do mal.
Ela arqueou a sobrancelha.
- Está arrependido? Ja existe divórcio há séculos, sabia disso?
- Você não vive sem mim, baby.
Falei colocando minhas mãos sobre sua panturrilha e apertando levemente.
- Digo o mesmo.
Eu ri e empurrei a cadeira mais para perto, abrindo mais as pernas dela e colocando a cabeça em seu colo.
- Sabe que estou brincando, não é? Pelo amor de Deus, não leve a sério o que falei. Eu amo você e meus filhos.
- Sei disso, seu idiota. Mas falando sério, Chay... eles não parecem de brincadeira. O que acha de nós dois conversarmos com eles?
- Eu estava indo fazer isso. Conversar com cada um deles, separadamente.
Mel acariciou meus cabelos, remexendo-se sobre a mesa.
- Rosalie e Alice me ligaram.
Ergui novamente a cabeça.
- E?
- As duas virão aqui amanhã. Estão ao mesmo tempo chocadas e chateadas com os maridos. Sequer pediram opinião delas e ainda apoiaram a loucura de Carlisle.
- Imaginei que ficariam. Principalmente Alice. Mas elas já deveriam saber que não se casaram com alguém tão legal quanto eu, que dá valor a opinião da esposa.
Mel rolou os olhos e me empurrou, saltando da mesa.
- Estou preocupada. E muito.
- E eu não? Acho que a primeira pedrada na cruz foi dada por mim. So pode ser isso.
- Ah com certeza. Deu a primeira pedrada e ainda incentivou o resto a fazer o mesmo.
Eu cruzei os braços diante da piada, encarando-a com a sobrancelha arqueada.
- É isso mesmo? Como se não bastassem seus pivetes me aporrinhando, vem você também?
- So confirmei sua dúvida. Mas e ai? Falaremos com eles? Ou prefere fazer isso sozinho?
- Eu prefiro ir sozinho. Você passa demais a mão na cabeça deles, sabe disso.
- Não pense que me ofende, porque não. Vou sair porque preciso ver aquele carregamento. A gente se encontra à noite.
Eu a puxei para os meus braços antes que ela se afastasse, enterrando meus rosto entre seus cabelos e aspirando seu cheiro. Mordi seu pescoço, rindo ao sentir o tremor em seu corpo.
- Não precisa ir tão cheirosa, tampouco com essa calça grudada ao corpo.
Ela apenas me beijou rapidamente, empurrando-me em seguida.
- Sabe que certas coisas que fala comigo, nem entram em meus ouvidos. Até mais tarde, querido.
Balancei a cabeça, observando-a sair. E depois dizia que nossos filhos puxaram a mim. Aliás... era hora de dar uma volta no berçário. Joseph seria o primeiro. Era o mais tranquilo, o que sempre me ouvia e respeitava minhas opiniões. Estava na biblioteca, com vários livros abertos sobre a mesa.
- Atrapalho?
- Oi pai... pode entrar. So estava estudando um pouco.
Como sempre. Não me lembro de ter conhecido alguém tão estudioso quanto Joseph. E eu tinha um puta orgulho disso.
Sentei-me na cadeira à frente e o observei em silêncio. Ele enfrentou meu olhar, já sabendo o que eu pretendia.
- Pai...
Ele começou e eu o interrompi.
- Joseph, não. Você é o único normal dessa família, pelo amor de Deus. Se você embarca nessa loucura... eu me sentirei um fracasso como pai.
- Não seja dramático. Sabe que está falando isso só para nos fazer desistir.
- Também, mas não deixa de ser verdade. Vocês não entendem que isso não é um parque de diversão. Tudo bem... sei que estou pegando pesado e que jurei jamais tocar nesse assunto, mas você já se esqueceu em que circunstancias nos encontramos?
Ele engoliu seco e seu olhar ficou triste.
- Jamais poderia me esquecer.
- Então, merda.
Falei dando um tapa no braço da cadeira e me levantando, bagunçando meus cabelos. Ja estava começando a ficar nervoso antes mesmo de começar a conversa.
- Você viu que isso não é brincadeira. Você sabe do que a máfia é capaz. Nossa família mesmo, Joseph. Matamos a sangue frio quando qualquer coisa atravanca nosso caminho. Como eu poderia enfiar meus filhos nisso?
- Você já enfiou, pai. Se queria que vivêssemos numa redoma, deveria ter saído dessa vida há mais tempo. Ou então não deveria ter tido filhos.
Eu fiquei paralisado com a ousadia dele. Joseph jamais falou assim comigo. Apontei o dedo para ele.
- Olha só... eu relevarei isso que você falou. Porra, Joseph. Vocês são praticamente crianças.
- Eu tenho a mesma idade que você tinha quando começou a carregar tudo nas costas.
- É diferente, cacete. Olha... volta pra sua noiva, que nem me lembro o nome. Volte para suas criancinhas e deixe que eu cuido do resto, ok?
Ele balançou a cabeça.
- Definitivamente não. Não deixaremos nem você, nem a mamãe nessa merda sozinhos. Estou furioso com o tio Jasper e Emm por terem abandonado o barco. E foi melhor assim. Aqui não é lugar para covardes.
Eu apenas abri minha boca, sem emitir qualquer som. Meu filho dava um show de assustadora maturidade.
- Entendo você e até concordo com isso. Mas...
Abri os braços e voltei a baixá-los. Eu nem sabia mais o que dizer.
- Consegue imaginar Valentina com uma arma na mão?
Ele riu.
- Consigo.
- Seria apavorante. Ela seria capaz de estourar os miolos de alguém que risse do cabelo dela.
- Não é assim, pai. Caramba... somos seus filhos. Não somos irresponsáveis. Fomos muito bem criados para sabermos como agir. Somos filhos do todo poderoso Suede.
Bufei.
- O apelido de poderoso não é só por esse motivo.
- Ah sim, minha mãe já me contou. Poupe-me da parte podre da história.
Ele falou e gargalhou, ficando sério ao ver minha expressão nada satisfeita.
- Não terminamos esse assunto.
Eu disse, me preparando para sair. Confesso que estava pasmo. Tão irritantemente impressionado com Joseph que não tinha condições de falar mais nada naquele momento. Ja estava com a mão no trinco, quando ele me chamou.
- Pai? Estamos dentro, não estamos?
- Dentro da minha cabeça... me infernizando. Apenas isso.
Sai da biblioteca, subindo as escadas. Sentia minhas pernas mais pesadas que o normal. Desejei ser sintoma de velhice, e não o peso daquela revolução que acontecia em minha vida. Bati à porta do quarto do Enzo e abri, antes mesmo que ele dissesse alguma coisa.
Como sempre, estava absorto com suas fórmulas químicas. Ja perdi a conta de quantas vezes esse menino explodiu o quarto, inventando, ou tentando inventar algo. Mel ficava com os cabelos em pé, desesperada e com medo que algo acontecesse a ele. Mas eu me divertia. Às vezes estávamos em casa, conversando em nosso quarto quando ouvíamos o estrondo. De uns tempos pra cá, ele parece ter melhorado, já que os estrondos eram cada vez mais raros.
- Está tentando explodir o que ai?
Ele riu, remexendo um liquido estranho.
- Eu nunca tento explodir, pai. Isso é só consequência.
Eu ri e me joguei na poltrona, encarando-o.
- Pode parar um instante?
- Eu já sei sobre o que quer falar.
Ele disse, mas abandonou sua experiência e se sentou no chão à minha frente.
- Que bom que você sabe. Espero que saiba também o quanto essa situação é absurda.
Ele deu de ombros.
- Não vejo nada de absurdo. Somos filhos da máfia. Nada mais natural.
- Não. O fato de serem filhos de um porra louca feito eu não quer dizer nada. Que pai deseja isso para os filhos?
- Pai...
- Ok. Deixe-me reformular. Não quer dizer que eu não vá nunca aceitar vocês ao meu lado. Entendam que esse não é o momento.
- Como não? É exatamente o momento. Enquanto alguns abandonam o barco, nós queremos nos unir, pai. Entenda isso. Não é tão absurdo.
- Não seria tão absurdo se vocês tivessem idade para isso. Vocês só tem dezesseis anos.
- Nossa mãe tinha dezenove.
- Epa.. nem vem. Ela tinha dezenove quando se casou comigo. Ela só entrou para os negócios algum tempo depois.
- Que seja. Mas idade quer dizer realmente alguma coisa? Não somos imaturos e inconsequentes.
Ele quase repetia o discurso do Joseph, o que me fez revirar os olhos. Parecia que eles ensaiaram direitinho o que diriam.
- Para a máfia, são sim. Isso não é um passeio num parque, Enzo.
- Sabemos disso. E estamos preparados. Nós vivemos dezesseis anos de nossas vidas sob o mesmo teto que um homem íntegro, forte, destemido e uma mulher tão forte e destemida quanto ele. Não somos franguinhos de leite com medo do lobo mau debaixo da cama.
- Eu sei. Eu vejo isso. Vocês só não percebem que a prática é um milhão de vezes pior que a teoria.
Ele se levantou e colocou a mão em meu ombro.
- Tio Jaspere tio Emm fugiram do pau. Meu avô, como você mesmo disse, está senil. Nós temos que ajudar. Ja se esqueceu de suas próprias palavras pai? Nós somos uma família... e defendemos a família.
Enterrei meus dedos em meus cabelos. Minhas próprias palavras jogadas contra mim. Era fim de carreira pra mim. Devo ter desvirtuado algum anjinho da guarda, oferecendo droga pra ele. Não era possível tamanha provação.
- Não terminamos esse assunto.
Falei, repetindo o que disse ao Joseph. O pior era agora. Aquela topetuda seria a pior parte. Não baixava a porra da crista de jeito nenhum.
Fui até o quarto de Valentina. A porta estava entreaberta e fiquei parado um tempo do lado de fora. So agora percebia como minha cabeça estava dolorida. E olha que raramente eu tinha esse tipo de dor.
- Entra logo, pai.
Bufei e empurrei a porta.
- Como sabia que eu estava aqui?
- Pelo cheiro.
- Hum...
- Se veio falar sobre nossa entrada nos negócios, pode dar meia volta.
- Olha como fala comigo, menina.
Valentina realmente era o capeta. Tanto Joseph quanto Enzo me chamaram para entrar e sentar para conversarmos. Somente ela me pedia para dar meia-volta. Mas era um filhote de Mel mesmo. Tão atrevida quanto a mãe.
- Só estou dizendo para não gastar saliva com algo que já está decidido.
- Decidido porra nenhuma. Eu ainda mando nessa merda, Valentina. E minha resposta é não. Nem que eu tenha que mandá-los para um internato do outro lado do mundo.
- Eu não vejo o motivo para tanto destempero.
- Não vê porque é uma louca, inconsequente. Ah qual é, Valentina? Estão entendiados? Por que não vão fazer as coreografias do Menudo e esquecem a Máfia?
Ela apenas rolou os olhos e torceu os lábios, como sempre fazia quando achava as coisas absurdas demais.
- Porque esse tal de Menudo é da sua época e não da minha. Eu gosto de Maroon 5. Adam Levine é tudo de bom.
- Mas hein?
Eu falei com os olhos arregalados, assombrado com o que acabei de ouvir da boca da minha garotinha.
- É isso mesmo.
Cocei minha cabeça, esfreguei meus dedos na testa e assoprei o ar com irritação.
- Ok. Então vá curtir as músicas disso ai. Faça um fã clube pro carinha tudo de bom e esqueça isso.
Ela jogou a revista para o lado e se levantou, encarando-me com as mãos na cintura.
- O que está pegando, pai? Sabemos onde estamos nos metendo. Somos crus ainda? Claro que somos. Mas a mamãe também era e hoje ela é foda. Nós seremos treinados pelos melhores... nossos ídolos.
Ela me olhou daquele jeito que sabia que me desarmava.
- Pelos nossos pais. Nosso maior exemplo. Não faremos nada além do devido, pai. Dê-nos um crédito.
- Vocês não tem idade para isso.
- Não cronologicamente. Mas temos maturidade.
Dei um sorriso torto.
- Será?
- Temos sim. E nem vem com esse sorrisinho pra mim, porque ele só cola com a mamãe.
Resolvi mudar de tática. Valentina parecia ser a cabeça daquele motim traiçoeiro.
- Não meça forças comigo. Seus irmãos já entenderam que é melhor ficarem afastados.
Ela franziu a testa, meio incrédula, mas depois empinou o nariz.
- Porque são frouxos. Pior pra eles. Eu já entrei. Daqui não saio, daqui ninguém me tira.
- Veremos se uma cinta no seu lombo não tira você daqui. E você não entrou porra nenhuma.
- Pense bem, pai. Poderíamos nos drogar, aprontar todas. Fazer um monte de merda. Mas só estamos querendo ajudar.
- Podem ajudar molhando menos as fraldas e continuando no berço, quietinhos.
- É melhor do que eu ficar namorando escondido, transando e transformando você em vovô antes da hora.
Eu arfei, arregalando os meus olhos. Se ela pretendia me assustar... com certeza conseguiu. Apontei o dedo em seu rosto, quase tocando seu nariz, mas a bandida nem ao menos piscou.
- Você não brinca com uma coisa dessa, Valentina. Eu sou capaz de matar você. E não quero mais saber de papo não. Topetuda dos infernos.
Estava saindo do quarto, mas antes que eu repetisse as mesmas palavras ditas a Joseph e Enzo, Valentina falou em tom debochado.
- Nossa conversa termina aqui, pai.
Eu não falei nada. Não queria dar os dezesseis anos de tapas que Valentina merecia. Eu só queria me deitar numa cama, fechar os olhos e só acordar daqui a mil anos. Sabe quando você percebe que a merda está espalhada por todos os lados? Eu via isso agora.
Ja tinha tomado minha decisão e só esperaria Mel voltar para conversarmos. Fui para o escritório e peguei um copo com uísque e meu charuto. Queimar a garganta com o álcool e entupir meu cérebro de nicotina seria meu único alívio no momento.
;:*:;
Olhei para o celular que vibrava sobre a mesa e estiquei a mão. Creio que cochilei um pouco, pois me sentia um pouco grogue. Não era por causa da bebida... talvez.
Minha respiração ficou suspensa ao reconhecer o número. Pelo jeito, a notícia se espalhou rápido.
- Suede.
Falei secamente.
- Ola Suede.
- Don Andreolli...
Falei, já sabendo do que se tratava.
- Então Suede... acho que precisamos conversar não é?
- Duvido muito. Nossos negócios são absolutamente distintos.
- Uma porra que é. Seu papaizinho está se enfiando onde não deve e acho melhor você resolver essa situação.
- Meu pai e eu não estamos mais juntos.
- Isso é uma surpresa. O império Suede desmantelado? Mas não interessa... se seu pai continuar fazendo merda... vai sobrar pra você. Portanto, meu caro... precisamos nos encontrar sim.
Acabei marcando de me encontrar com ele. Era o que sempre disse. Ainda que não estivéssemos mais unidos, qualquer coisa que meu pai fizesse, resvalaria em minha família. Talvez fosse o momento de colocá-lo numa camisa de força.
- Inferno.
Falei jogando o copo com força contra a porta. Um segundo depois melabriu a porta.
- Ah se esse copo me acerta, Berllucci.
Fiz uma careta e me levantei enquanto ela se aproximava.
- Problemas?
- E desde quando não os tenho?
Puxei-a para mim, que me olhou estranho.
- Bebeu a ponto de ficar bêbado?
- Não estou bêbado. Estou momentaneamente... animado.
Falei e girei-a de costas para mim, prensando seu corpo contra a mesa e meu próprio corpo. Desci minha mão pela sua carne farta, apertando-a, enquanto mordia seu pescoço.
- Queria dar uma surra no maldito que inventou calças para mulheres.
Ela escorreu o corpo pelo meu, passando sob meu braço. Parou atrás de mim e cruzou os braços, desafiando-me.
- Precisamos conversar. E é sério.
Abri meus braços, completamente vencido.
- E eu tenho escolha? É o mundo contra Chay Suede.
- Com certeza.
Ok... eu só quis testar minha veia dramática. Mas a resposta dela me deixou alerta. Vinha mais merda por ai? Olhei para o alto, mirando Deus. Quantas vezes mais ELE me faria visitar o inferno?