Mel
Quanto tempo levei para assimilar aquelas palavras? Ou melhor, para acreditar nelas? Olhando para o rosto de Chay, percebi que até ele mesmo parecia surpreso com o que disse. Estávamos nervosos, obviamente. No mesmo instante em que trocávamos carícias e palavras de amor, estávamos novamente brigando. Nosso casamento começava a se desgastar, mas eu não estava disposta a permitir isso. Sei que todo relacionamento, ainda mais um tão longo quanto o nosso, jamais poderá ser perfeito por causa de besteiras. O que estava me matando era saber que chegamos a esse ponto por motivos alheios aos nossos sentimentos. Não queríamos aquilo. Não queríamos ficar nessa briga interminável.
Porém, Chay precisava entender que dessa vez as coisas não poderiam ser resolvidas somente do seu jeito. Ele precisava ver que o correto seria reunir a nossa família e conversar. Mas principalmente... ele precisava ouvir. Mas após ouvir essas palavras...
Ainda que fosse da boca pra fora, num momento de raiva... aquilo me magoou profundamente. Engoli a saliva, junto com as lágrimas e ergui meu rosto, empinando o queixo do jeito que ele odiava.
– É isso mesmo o que deseja, senhor fodido Suede? Destroçar sua família tal e qual meu querido sogro vem fazendo?
Ergui as mãos e o aplaudi, com um sorriso triste, mas, ao mesmo tempo, sarcástico.
– Parabéns! Você conseguiu.
– Mel...
Girei o corpo e sai do escritório, fazendo questão de puxar a porta com toda minha força, fechando-a com um estrondo. Joseph, que permaneceu esse tempo todo sentando no sofá, levantou-se e me olhou assustado.
– O que ele fez? Por que está chorando?
Eu, que não tinha percebido que chorava, passei a mão no rosto com raiva, começando a subir as escadas.
– Mãe!
– O que aconteceu é que seu pai é um estúpido. Um cavalo.
Joseph apenas arqueou a sobrancelha antes de dizer o óbvio.
– E o ama assim mesmo.
Não respondi. Apenas fui para o meu quarto, novamente batendo a porta com violência. Andei de um lado a outro, mordendo a ponta dos dedos, pensando no que fazer. A vontade que eu tinha era de apertar o pescoço de Chay, deixando-o sem ar. Mas essa era uma hipótese descartada, já que ele facilmente me impediria. Como pode ser tão turrão? Quer dizer... isso eu já sabia há anos. Mas antes ele pelo menos ouvia um pouco o que eu tinha a dizer. E agora nem isso! Apesar disso, não o recriminaria tanto. A carga estava pesada demais. Bem... recriminaria sim! Se estava pesada, era obrigação dele dividir tudo comigo, e não querer me excluir. Colocar-me pra fora de casa. Era só o que me faltava.
Sentei-me na cama e levei a mão ao rosto. Os malditos hormônios da gravidez provavelmente estavam dando o ar de sua graça. Por que comecei a chorar? Ah sim... porque aquelas palavras ainda doíam em mim. Bem que diziam que quando algo ruim lhe acontece, toda sua vida passa diante de seus olhos. A possibilidade de ficar longe de Chay oprimiu meu peito e eu vi todo o filme da minha vida, desde o momento em que os homens dele invadiram minha casa, trazendo-me para cá. Queria muito acreditar que aquilo foi um rompante, mas meu emocional estava um caos.
Ergui a cabeça ao ouvir o motor de um carro. Corri até a varanda do quarto e arfei ao ver a Mercedes entrando na propriedade.
– Puta que pariu...
So poderiam ser nossos filhos. Precisava estar ao lado deles ou não sabia do que Chay seria capaz.. Girei e corri até a porta, passando pelo corredor até alcançar a escada. Cheguei ao meio dela no momento em que Chay também aparecia, seguido por Joseph e seguia até a porta. Ele apenas me olhou rapidamente, sem sequer dar-me tempo para analisar sua expressão. Joseph parou, preocupado comigo, obviamente.
– Não deveria correr.
– E deixar seus irmãos nas garras do seu pai?
– Ele me contou o que houve.
Ignorei. No momento minha maior preocupação eram meus filhos. Aquela estupidez de Chay comigo, eu resolveria mais tarde.
Fui com Joseph até a varanda e parei ao lado de Chay. Pude notar seus músculos tensos, as mãos fechadas e o maxilar travado. Ele observava o carro com olhos estreitados, daquele jeito perigoso que fazia qualquer um tremer. Qualquer um, exceto eu... e a doida que acabava de descer do carro. O vento jogava seus cabelos no rosto e Valentina simplesmente balançou a cabeça, afastando os fios. Seu olhar parou no pai... desafiador, sem qualquer vestígio de medo. Enzo desceu logo depois, seguido por Liam e Jack.
Valentina abriu os braços, sorrindo abertamente.
– Voltei!
Falou enquanto caminhava até nós. Joseph prendeu um riso e Chay cruzou os braços em frente ao peito. Parecia um leão de chácara... todo imponente... todo gostoso e... E nada! Eu ainda estava com raiva dele. Muita. Antes que Valentina chegasse ate o pai, eu me adiantei e a abracei com força.
– Você ficou maluca? O que deu um você?
– Até parece que eu aceitaria isso tão facilmente.
– E você Enzo? Embarcou na dela?
Ele me olhou sem jeito e deu de ombros. Epa. Eu estava mesmo criticando meus filhos? Esse não era o momento dos hormônios agirem. Eu estava a favor deles!
– Ah tudo bem. Esqueçam.
Apressei-me em dizer.
– Tudo bem merda nenhuma. Você...
Chay vociferou, apontando para Valentina.
– Vá para o escritório A.GO.RA.
– Eu já sei, papai. E o Enzo?
– Enzo foi apenas um boneco na sua mão. Mas ele também terá seu momento a sós comigo. Mas você, como mentora da merda... você vem primeiro.
Valentina apenas ajeitou os cabelos e passou por nós, entrando na casa. Enzo me abraçou enquanto observávamos Jack e Liam se aproximarem. Agora o osso do maxilar de Chay tremia, como sempre acontecia quando sua raiva estava chegando ao limite.
– Chefe...
– Chefe o caralho. Chefe de vocês agora é a pistoleira mirim, não é? Recebem ordens de dois pirralhos e vem me chamar de chefe?
Jack abriu a boca, alarmando e indignado.
– Eu não cumpri ordem deles. Aquela peste me dopou.
– Hei... vê la como fala da minha filha!
Interferi, erguendo o dedo em riste e o encarando. Mas Chay bufou e balançou a cabeça, remexendo nos cabelos.
– Eu converso com vocês depois. Tenho que eliminar a líder terrorista primeiro... depois cuido dos capachos dela.
Disse e se virou, deixando o silêncio reinando entre nós. Eu queria entrar atrás dos dois, mas não interferiria naquela conversa agora.
– Se quiserem entrar... comer alguma coisa...
Falei para Jack e Liam. Eles não poderiam se afastar daqui enquanto não enfrentassem a fúria de Chay. Os dois negaram e se afastaram. Jack parecia arrasado. E já era de se esperar. Sempre se orgulhou de ser um dos melhores homens de Chay. Nunca descumpriu uma única ordem. O próprio Chay disse inúmeras vezes que se existia alguém capaz de substitui-lo, esse alguém era Jack. Isso, antes de eu entrar para os negócios, claro.
– Mãe... não acha melhor entrar também?
– As coisas estão desandando por aqui, Enzo. É melhor eu deixar seu pai pensar que está no controle.
– Como assim?
Suspirei. A minha bipolaridade regida por meus hormônios estava me enlouquecendo. Ha poucos instantes eu chorava, com medo e querendo acreditar que Chay não teria mesmo coragem de nos mandar embora. Agora eu estava aqui, decidida a manter minha família, nem que para isso precisasse tomar medidas drásticas.
Chay
Eu ainda estava sob o efeito da minha própria loucura quando ouvi o som do automóvel que se aproximava. Esqueci-me completamente de minhas palavras duras de instantes atrás. Minha raiva tinha alvo certo agora. Os verdadeiros culpados pelo meu destempero acabavam de chegar. Felizmente, chegaram a tempo de eu não revelar minha fraqueza ao Joseph. Ele acabou entrando no escritório após a saída de Mel, enfrentando-me e querendo saber o motivo do choro da mãe. Com o peito massacrado, eu revelei o que disse a Mel. Joseph não teve tempo de dizer nada, mas seu olhar me dizia tudo. E se havia uma coisa que eu odiava ver no olhar da minha família era isso: decepção.
Mas ele precisavam me entender. Eu estava nervoso, porra! E isso piorou com a chegada dos delinquentes. Sai apressadamente do escritório, percebendo Joseph em meu encalço. Ao chegar a sala, notei que Mel descia a escada, mas não lhe dei muita atenção. Mel sempre seria meu ponto fraco e olhar para ela agora só faria com que eu voltasse atrás. Lógico que eu só a mandei embora de casa num momento de total descontrole. Não era o maldito Chay apaixonado que tinha dito aquilo. Foi o bendito cavalo mafioso que ainda tinha um pouco sanidade. Mas agora eu via que agi certo. Era um modo de deixá-los protegidos. Ainda que longe de mim, eu garantiria toda a segurança deles.
Parei na varanda e Mel parou ao meu lado. Novamente evitei seu olhar. E nem foi por querer. Toda minha atenção, minha ira estavam voltadas para a destrambelhada da Valentina. Desceu jogando os cabelos, exalando... poder. Inferno. Era o xerox do demônio, ou seja, Mel. No fundo, eu senti um puta orgulho. Duas mulheres poderosas... e eram minhas. Mas o que eu estou pensando? Que maluquice era essa? Desde quando Valentina era uma mulher poderosa? Era um bebê chorão isso sim. Minha bebê.
E Enzo...meu pequeno gênio. Será que ele conseguiria produzir alguns explosivos legais para usarmos numa briga? Travei meu maxilar, sentindo raiva de mim mesmo.
Que merda estava acontecendo? Então era isso? Mel engravidava, esbanjava hormônios... e eu ficava bipolar e maluco? Eu tinha que reverter esse breve momento de demência.
Impossível não me lembrar de quando conheci Mel, no momento em que Valentina passou por mim em direção ao escritório. Foi justamente esse atrevimento, essa petulância em Mel que me atraiu. Mas não poderia me perder em pensamentos sentimentaloides agora. A saída foi direcionar minha raiva para os dois frouxos, Jack e Liam. Mas no fundo eu sabia que eles não tinham culpa. Não totalmente. Valentina era o cão e com certeza fez tudo muito bem-feito.
Antes de me afastar indo atrás dela, eu dei um olhar quase imperceptível na direção de Mel. Apostava todas as minhas fichas que Mel estaria la em cinco minutos, querendo se intrometer na conversa.
Entrei e fechei a porta, deixando-a bater, mas Valentina nem se abalou. Continuou sentada, muito interessada em suas unhas. Dei a volta por trás da poltrona onde estava e parei a frente dela. Com as mãos na cintura, eu a encarei, estreitando meu olhar. A bandida apenas deu um sorriso tímido, completamente dissimulado.
– Eu já estava com saudade, papai.
Estreitei ainda mais o meu olhar. Atriz. Merecedora de Oscar.
– Pode parar com a palhaçada. Desembucha.
– Nossa... o que?
– Como o que? Que merda você fez naquele jatinho? Enganar o idiota do Liam eu entendo, afinal ele anda se esfregando em você, feito o vadio que é. Mas o Jack... o Jacob? Meu melhor homem? Ande... pode começar a falar.
Ela se empertigou ainda mais, jogando aquele monte de fio selvagem para trás.
– Muito bem. Foi assim...
Lembranças – Por Valentina
Estava sentindo uma raiva tão grande do meu pai! Sério! Como ele podia ser tão cabeçudo? E como minha mãe ainda conseguia se derreter com seus coices? Serei sincera... eu entendo como ela aguenta. Ela o ama. Assim como eu amo aquele cabeçudo. Mas custa nos ouvir um pouco? Pelo jeito sim, pois agiu como um ditador, impondo suas vontades e nem ao menos ouvindo minha mãe. A coisa estava feia. De uns tempos pra cá, ele sempre a ouvia. Mas eu sou uma mistura perfeita dos dois. E não desistiria fácil. Quando ele chegou, cheio de marra, obrigando-nos a partir, eu fiz a famosa cena. Subi para o meu quarto, batendo os pés. Mas não fui exatamente para o meu quarto. Fui para o quarto dos meus pais. Corri até o armário do banheiro, onde eu sabia que minha mãe guardava alguns medicamentos. Somente quando precisava mesmo descansar, ela fazia uso de algum remédio para dormir. E era disso que eu precisava agora. Peguei logo dois vidros, embora soubesse que só um seria suficiente.
Sai dali rapidamente e fui para o meu quarto, guardando-o junto com minhas roupas. Pouco depois ouvi a porta do quarto do Enzo bater e fui até la.
– Precisamos fazer alguma coisa.
Falei assim que entrei. Ele me olhou, sem entender.
– O que? Viu como nosso pai está. Não há a mínima chance.
– Não seja frouxo. Eu já tenho algumas ideias.
– Val... não vamos provocar a ira do nosso pai, ok?
Eu tinha acabado de me sentar e fiquei de pé, olhando-o indignada.
– Vai desistir assim? Sem lutar?
– Você sabe que nossa mãe é que sofrerá. E no estado dela...
Bufei. Tínhamos acabado de descobrir que a família teria novo membro. Que péssima hora para minha mãe engravidar! Mas enfim... esperava que fosse mais uma menina, pelo menos.
– Nossa mãe é forte. Muito mais do que imaginamos. A não ser que esteja com medo.
– Está me chamando de maricas?
Apenas dei um sorriso debochado. As vezes ele era mesmo. Bem parecido com o tio Jasper. Mas resolvi não me expressar em palavras ou ele poderia se aborrecer.
– Claro que não. Mas escute... temos que ser rápidos.
Contei rapidamente o plano a ele. Coisa simples, mas que daria certo. Depois disso, fui para o meu quarto pegar minha mala. E ele pegaria algumas coisas em seu "laboratório".
Foi ruim me despedir da minha mãe. Ela estava mais sensível por causa da gravidez. Mas nem olhei na direção do meu pai. Não por raiva. Eu estava chateada, não com raiva. Mas evitei seu olhar por um único motivo. Embora ele dissesse que eu puxei tudo da minha mãe, ele sabia que eu sou muito parecida com ele. E portanto... perceberia que eu estava aprontando alguma.
Entramos no jatinho e eu me sentei, ajeitando o cinto. Jack deu um sorrisinho sarcástico.
– Terá trabalho com a namoradinha hoje, Liam.
– Pare de latir, cãozinho adestrado do Berllucci.
Tirei o sorriso daquele rosto bonito, mas irritante. Liam só me olhava, quase implorando para que eu conversasse com ele. Também não sentia raiva, afinal ele apenas cumpria ordem. Mas fazia parte do meu plano, então... o ignorei.
– Precisam entender que o pai de você é macaco velho nesse assunto. Você, Enzo, que tem mais juízo que a Valentina... procure entender os motivos dele.
– Argh...
Eu me levantei, cansada daquele papinho do Jacob.
– Onde pensa que vai?
– Pegar um livro para ler. Ou isso também é proibido?
Jack bufou, mas não tentou me impedir. Entrei no quarto, peguei o livro, mas peguei também o sonífero, colocando-o dentro da blusa. Voltei com minha carinha inocente e me sentei, abrindo o livro. Teria que ter paciência. Esperar o momento em que Jack saísse para pegar a garrafa dele. É... ele tinha essa hábito estúpido de só beber algo de sua garrafa. Os outros dois seguranças estavam na pequena sala que meu pai utilizava para monitorar alguma coisa. Creio que esses dariam menos trabalho que Jack.
Liam, por fim, desistiu de chamar minha atenção. Fechou os olhos e se recostou na poltrona. Jack revezava olhares. Observava Enzo, depois me encarava. Eu, óbvio, fingia não perceber, entretida na leitura.
– O que tem de tão interessante nesse livro, Val?
Enzo perguntou e veio se sentar ao meu lado. Liam ergueu a cabeça, olhou para nós dois e depois voltou a fechar os olhos.
E finalmente o momento esperado. Jacob se levantou para usar o banheiro. Tínhamos pouco tempo. Rapidamente passei o frasco para Enzo. Enquanto ele ia até a poltrona do Jaques pegar a garrafa, eu me levantei, ajoelhando-me a frente de Liam. Espalmei minhas mãos na coxa dele, e mordi meus lábios, num gesto herdado de minha mãe. Lembrei de nossa cachorra ...isso me faria chorar. Imediatamente meus olhos ficaram úmidos.
Ele me encarava, um pouco torturado.
– Pode me desculpar? Por favor?
– Eu não tenho culpa. Sabe que só estou cumprindo ordens.
– Eu sei. Eu fiquei nervosa com a truculência do meu pai. E também porque ficaremos separados por um tempo.
– Eu também pensei nisso.
Passou a mão em meu rosto e eu fechei os olhos.
– Podemos namorar um pouco depois? Sentirei sua falta. Ou meu pai proibiu isso também?
Eu sabia que mesmo odiando meu relacionamento com Liam, ele estava focado em minha segurança. Nem se importaria se déssemos uns amassos, desde que eu ficasse longe de casa.
– Ele não disse nada.
– Ótimo.
Deitei a cabeça na perna dele, vendo Enzo voltar para o lugar. Era um medroso mesmo. Seu rosto estava vermelho, e para disfarçar, pegou meu livro.
Segundos depois Jack voltou e se sentou, olhando para Enzo.
– O que tem nesse livro? Está envergonhado?
Falou e riu alto. Jacob era um palhaço.
– Não é da sua conta, cão.
Ele latiu pra mim e acabei rindo. Voltei para meu lugar, após ser repreendida por ele. Estava aflita para vê-lo pegando aquela garrafa. Meu pensamento era tão forte que logo ele levou a mão à pequena garrafa prateada.
– Bebendo em serviço? Meu pai ficará furioso.
– Ele sabe que dou apenas uma bebericada. E aliás, ele mesmo me disse que eu precisaria de doses extras para aturar vocês.
Levou a garrafa à boca e franziu a testa. Merda. So faltava notar o gosto um pouco diferente. Mas ele nada disse. Bebeu mais um pouco e guardou a garrafa.
– Vamos jogar xadrez, Jack? Acho que meu pai tem um aqui, não tem?
– Eu? Jogando com o pequeno gênio?
– Com medo?
Eu perguntei, instigando-o. Depois pisquei para Enzo. Ele era fera no xadrez e deixaria Jack entretido até pegar no sono.
– Enquanto jogam, vou namorar um pouco.
– Mas não mesmo!
Enzo esbravejou, e ao perceber que ele falava sério, eu quis avançar nele. Fixei bem meus olhos nele, até o lerdo perceber o que eu faria. Como ele imaginou que eu anularia Liam?
– Val... nosso pai...
– Ele não proibiu, não é Jack?
Perguntei e ele assentiu. Estendi a mão para Liam e seguimos para o quarto. Eu estava me sentindo péssima por fazer isso com ele. Mas não havia outro jeito. Eu me deitei na cama e fiz um sinal para que ele se aproximasse. Imediatamente ele se deitou ao meu lado, beijando-me apaixonadamente. Eu correspondi, é claro. Afinal, sabia que ele nem poderia me olhar assim que voltássemos. Esse seria o castigo do todo poderoso.
– Hum... isso está me incomodando.
Apontei para a arma em sua cintura, enquanto mordiscava seus lábios e arranhava seu peito, através da camisa já aberta. Eu sabia que não poderia passar dos limites. Gostava do Liam e dos amassos que trocávamos, mas tenho plena consciência que tenho apenas dezesseis anos. É cedo para sexo com alguém que nem sei se é amor de verdade ou simples paixão. Mas que aquela situação me excitava... ah...
Liam parecia tão excitado quanto eu. Aliás, ele estava... eu sentia, obviamente. Rapidamente ele tirou a arma, colocando-a ao lado da estreita cama. Aproveitei e girei na cama ficando sobre ele. Voltei a beijá-lo, beijando também seu peito, até ouvi-lo implorar para que eu parasse. E eu... simplesmente parei, mas pegando a arma, e com muita agilidade, coloquei-me de pé. Ele arregalou os olhos e se sentou, mas...
– Parado ai... eu juro que qualquer tentativa sua... eu atirarei. E eu posso me ferir... e se isso acontecer, o todo poderoso acaba com você.
Ele engoliu seco e eu quase me arrependi ao ver a tristeza em seus olhos.
– Era... era tudo fingimento?
– Não... não era. Eu só unir o agradável ao extremamente necessário.
– Valentina...
– Se você gosta mesmo de mim, não tente me impedir, por favor.
Ele baixou a cabeça, balançando-a, desconsolado.
– Chay vai me matar.
– Eu jamais direi que você colaborou. Eu juro.
– Tudo bem. O que quer que eu faça?
– Apenas fique quietinho, por enquanto. Eu quero ver o Jack. E depois teremos que dar um jeito nos outros dois seguranças.
Derrotado, ele apenas assentiu. Quando sai do quarto, Enzo já amarrava Jacob. Caramba... tão rápido? Parecendo adivinhar meus pensamentos, Enzo ergueu o frasco. Arregalei meus olhos. Estava praticamente vazio.
– Você é louco? Ele pode morrer, caralho.
– Agora é tarde.
– Deus... bom, já está feito. Agora você tem que chamar um dos seguranças. Diga a ele que o Jaques está chamando. Mas espere até eu voltar ao quarto.
E assim fizemos. Quando um dos seguranças saiu, Liam o neutralizou. Cuidar do outro foi fácil, já que agora éramos três contra um. Quando percebeu que o companheiro não voltava, Max saiu da salinha... e assim como Vitorio, foi neutralizado por Liam com o famoso lenço embebido em éter.
– Eu... eu preciso prender você, Liam. Só para o caso de...
– Eu já sei.
Ele se sentou na poltrona, evitando me olhar. Usando as cordas que Enzo, inteligentemente trouxe antes de sairmos de casa, eu o amarrei, fazendo o famoso nó que minha mãe ensinou.
– Muito bem, Enzo. Confesso que nem pensei em algo para amarrá-los.
– Você não é a única esperta da casa, Val.
– Eu sou a esperta, você é o gênio.
Batemos as mãos e seguimos até a cabine do piloto. Eu usava a arma do Liam e Enzo empunhava a do Jack. Essa seria a parte mais fácil. O piloto era um borra botas, como diria meu pai. Ficaria dividido entre o medo de fazermos essa merda cair e o medo de ser arrebentado pelas mãos do meu pai. O fato é que conseguimos... mal saímos de casa e já estávamos voltando.
Fim - Lembranças
– Bonito! Tudo isso pra que, hã? Pra mostrar a grande desmiolada que é? Ou melhor, os dois são. Enzo me decepcionou e muito. Inferno... só conseguiram piorar mais a situação. Agora além de vocês, sua mãe também irá. Eu os quero fora daqui.
Ela se levantou no mesmo instante. Deveria achar que eu enlouqueci de vez.
– Pirou? Está dizendo que expulsou minha mãe?
Eu não respondi, mas aquele ossinho que eu percebia latejando em minha mandíbula dizia tudo. E ela não se segurou, mesmo sabendo que estava extrapolando, desrespeitando-me.
– Ficou maluco? Ou emburreceu? Vai ficar longe da minha mãe por causa de... capricho? Por usar uma viseira que não o deixa ver o óbvio?
– Valentina!
Eu berrei, mas ela fingiu não ouvir.
– Não vê que vão definhar longe um do outro? Não percebe que juntos são fortes demais? Meu Deus, pai... que segurança é essa que pretende? Esqueceu que foi baleado bem aqui, em nosso jardim? Minha mãe me contou o desespero dela, pai. Tudo o que sofreu. Como tem coragem de fazer isso com ela agora? Está ficando tão caduco quanto meu avô?
Eu me arrependi do meu ato no exato instante em que minha mão tocou a face de Valentina. Levei uma das mãos à cabeça e fechei meus olhos, mas não deixando de ver as lágrimas que escorreram pelo seu rosto. Se fosse qualquer garota de sua idade, teria colocado a mão no rosto e corrido dali, buscando consolo nos braços da mãe. Mas aquela era Valentina, cópia exata de Mel. Ela se levantou do sofá onde caiu e veio até mim, parando à minha frente.
– Eu já esperava por isso. Ja perdeu o controle até com minha mãe, não é? E sei que agora deve estar pensando que eu o odeio. Mas a resposta é não. E deve também estar suspirando aliviado, pensando que essa atitude fez com que eu desistisse do meu propósito. Sinto muito, papai, mas a resposta também é não.
Estreitei meus olhos. A culpa já não existia em mim. Ela realmente mereceu.
– Eu sabia que não deveríamos mimá-la tanto.
– Mimada? Pense bem no que está falando, pai. Eu nunca fui mimada. Tanto eu quanto Enzo sempre tivemos que fazer nossa parte para ganhar qualquer coisa. Nunca tivemos nada de mão beijada. Aprendemos a arrumar nossas coisas, a estudar, tirar boas notas. Ou era isso ou nada de regalias. Isso é ser mimado?
Continuei parado, mas ela me pegou de surpresa, abraçando-me pela cintura.
– Paizinho... eu entendo sua aflição. Mas não somos inconsequentes, pai. Somos uma família, não poderemos destruir isso como o vovô fez. Você sempre foi meu ídolo, meu herói, meu exemplo... mas, olhe só o que está fazendo! A mamãe provavelmente foi arrumar as malas. É isso o que quer? Ver seus filhos crescendo longe de você? E pior... linda do jeito que é, não passará uma semana e haverá uma fila de homens em nossa porta.
Eu a afastei bruscamente, sentindo a adrenalina e a raiva percorrerem minhas veias. Sem dizer nada, eu me afastei de Valentina, caminhando pesadamente até a porta. Assim que a abri com violência, vi Mel parada, prestes a abrir a porta. Nossos olhares se encontraram. Raiva, rancor, mágoa, medo, paixão...
Mas antes que eu dissesse alguma coisa, pela segunda vez no dia ela apontou o dedo em meu peito.
– Eu não sairei daqui. Não mesmo. Repito um milhão de vezes que nunca fui mulher de fugir de merda nenhuma. Se você se cansou de mim, seja homem para dizer em minha cara. E se nos quer mesmo fora da sua vida... que saia você então. Nós não sairemos.
Maluca. Completamente louca se acreditava mesmo que eu a deixaria partir. Claro que, aquelas palavras de Valentina foram como um soco em meu estômago. Logo eu me imaginei sem ela, a casa vazia... e algum desocupado e sem amor à vida atrás dela. Quase trinquei meus dentes enquanto dava dois passos e a segurava pelos braços.
– Pai..
Joseph e Enzo que estavam logo atrás disseram juntos, mas eu os coloquei em seus devidos lugares.
– Quietos! Meu assunto agora é com essa...
Não terminei de falar. Girei com ela, empurrando-a para o escritório e prensando seu corpo contra a parede ao lado da porta. Busquei sua boca feito um desesperado, agarrando seus cabelos. Ela retribuiu, para meu alívio, puxando-me para ela e gemendo contra minha boca.
Mas do nada... assim... de repente, ela me empurrou, olhando furiosa pra mim.
– Dessa vez não será como você pensa, Chay. Você me magoa, me deixa em frangalhos e depois resolvemos tudo na cama? Não.
Fiquei estático. Que porra era aquela agora? Percebi que estávamos sozinhos. De alguma forma Valentina saiu sem ser notada.
– Que maluquice é essa agora? Eu amo você... não sairão da minha vida. Nenhum de vocês.
Ela cruzou os braços em frente ao peito.
– Ja viu do que seus filhos são capazes, não é? Eles estão dentro ou não?
Eu não tinha mais para onde fugir. A valentia, perseverança e união que eles demonstraram me pegaram de calças curtas. E ainda veio Valentina com aquelas palavras.
– Conversaremos. Todos nós. Agora.
Ela arqueou a sobrancelha e perdi a paciência. Diabo de mulher tinhosa.
– Inferno, Mel. Eles estão dentro. Agora diga que me perdoa.
– Não digo, pois não perdoo. Não sairemos daqui, mas não muda o fato de ter me mandado embora. Por ora... estamos em quartos separados.
– O QUE? Mel... vamos parar com a palhaçada.
– Eu repito... temos arestas a aparar. Nem tudo se resolve com sexo. Dessa vez será diferente. Chamarei nossos filhos e conversaremos. Trate-os como adultos. Eles já provaram o que são.
Ela nem esperou que eu respondesse e saiu, chamando-os. Vi um a um passar pela porta, cada um com um brilho no olhar. Estavam se divertindo, os delinquentes. E por fim, ela fechou a porta. Encarou-me toda poderosa. Ela tinha noção do quanto me excitava quando encarnava a primeira-dama do submundo? Sabia... claro que sabia. E sabia também, que eu estava mais uma vez em suas mãos. E eu odiava isso.
Chay tem bosta na cabeça só pode
ResponderExcluirMel difícil
Valentina do Mal
Continua ♥
Precisa de alguma coisa?
ResponderExcluirNão
Continua ♥
Xoxo^^
Demais
ResponderExcluirPQP
ResponderExcluirA MELHOR WEB
CONTINUA