Mel
Todos reunidos no escritório. Era até divertido ver como somente agora, nossos filhos pareciam tão comportados. Eu sabia que a pouca paciência de Chay estava sendo exaustivamente testada. E sabia também que estávamos pisando em terreno perigoso. Mas acima disso tudo, eu tinha total certeza que Chay não faria nada para se arrepender depois. Até tentou... quando quis me expulsar de casa. É... acho que eu jamais me esqueceria disso. Ainda estava furiosa com ele, mas, ao mesmo tempo, queria deitar em nossa cama e acariciar os cabelos dele, como sempre fazia quando queria acalmá-lo. Vez ou outra ele direcionava os olhos para mim, mas eu fingia não ver. Conhecia muito bem o poder de sedução do meu marido, e conhecia ainda mais minha rendição. Se ele continuasse me olhando daquele jeito, provavelmente estaríamos nus aqui mesmo no escritório. Seria muito bom se meus hormônios não cismassem de agir agora. Lembro-me perfeitamente bem de como fiquei quando engravidei de Valentina e Enzo.
Joseph pigarreou e voltei ao presente. Chay estava sentado na ponta da mesa, olhando fixamente para os filhos. Deus... como ele estava lindo.
– Ficaremos o resto do dia assim? Olhando para a cara um do outro sem dizer nada?
Chay estreitou os olhos, encarando Valentina.
– Vocês todos tem noção do quanto isso é difícil pra mim?
– Não comece, pai. Você prometeu e nunca volta atrás.
– Será que não?
Ele falou, olhando diretamente pra mim. Entendi muito bem o que ele quis dizer, mas continuei em silêncio. Por fim, ele bufou e se colocou de pé, colocando as duas mãos no bolso. Deu alguns passos, de cabeça baixa, depois deixou a cabeça pender um pouco para trás.
– Eu sei que nada do que eu disser ou fizer mudará a decisão de vocês. Eu só quero que... eu peço, aliás eu exijo que..
Ele fechou os olhos brevemente e eu quase pude sentir a angústia dele.
– Não se empolguem. Não tentem agir pela cabeça de vocês, achando que estão num parque de diversões. Isso é sério e pode ficar ainda pior. Sei que vocês tem a mente muito mais avançada do que muitos na idade de vocês. Está certo... eu duvidei disso. Aliás, não duvidei. Era minha arma, minha defesa. Entendam que, se eu era protetor, ficarei ainda pior porque vocês agora estarão diretamente na linha de tiro.
Afastou-se um pouco e passou a mão pelos cabelos. Ninguém ousava falar nada. Ele precisava desabafar.
– Nossa família já perdeu demais. Eu não posso nem sonhar em passar por isso novamente. Eu quero vocês seguros, vivos. Porra... quero ver vocês ao meu lado quando eu estiver pronto para deixar essa vida.
Eu arfei ao ouvir aquelas palavras. Era quase impossível imaginar meu poderoso... morto. Era absurdamente ridículo, eu sei, afinal ele não é imortal. Mas eu não conseguia visualizar essa cena. Ele deu um sorriso de lado, olhando diretamente pra mim.
– Quando eu estiver com uns cem anos, é claro.
Eu rolei meus olhos e não me permiti suspirar quando ele piscou para mim.
– E como ficaremos?
Enzo perguntou com evidente ansiedade. Até então eu tinha imaginado que a maior interessada nas atividades era Valentina. Enzo e Joseph apenas seguiram a mente maligna dela. Mas agora via como estava enganada. Todos eles estavam bem interessados em assumirem mesmo, um lugar ao meu lado e de Chay.
– É lógico que começarão nas coisas mais simples. Ainda não perdi completamente o juízo. Quando houver algo mais... perigoso, vocês ficarão em casa. Estamos entendidos? Disso eu não abrirei mão jamais.
Chay fixou o olhar por um tempo em cada um dos filhos. Dessa vez ele não me olhou, mas eu sabia que ele aguardava por um pronunciamento meu.
– Eu também não abro mão disso. Eu apoiei vocês e o mínimo que espero é um pouco de senso de responsabilidade. Eu só... consegui ser o que sou hoje porque ouvi os conselhos do pai de vocês. Ele esteve ao meu lado, ajudando-me em tudo. Eu espero que entendam isso e ajam de acordo com o que dissermos.
Eu sentia o olhar de Chay sobre mim. E sabia exatamente o que ele estava pensando. Somos parte um do outro. As coisas só funcionaram porque confiamos e acreditamos no potencial um do outro. Temos pleno entendimento que só somos fortes porque somos unidos. Aquela ideia absurda de separação nada mais foi que o auge do desespero. Eu entendia isso. Mas se eu não desse uma dura em Chay, ele continuaria com a ideia ridícula de nos afastarmos.
– Estamos de acordo. É como já dissemos, pai. Só queremos ajudar... somar. Não queremos trazer mais problemas.
Esse foi o Joseph. Sempre centrado. Sempre com as palavras certas, na hora certa. Eu consegui ver um brilho orgulhoso nos olhos de Chay. Por mais que tivesse brigado, agido com tirania, ele sentia orgulho dos nossos filhos. Não havia dúvida alguma.
– Bom... e como ficaremos? Como será feita a divisão? Ou não pensou nisso ainda?
– Ja pensei, Valentina.
Novamente ele se sentou na beirada da mesa, apoiando um dos braços na perna. Eu evitei olhar para ele, óbvio. Chay conseguia ser sexy usando cueca e meia... imagine naquela pose?
– Joseph ficará com Jack e Liam.Você bem sabe que Jaques é meu melhor homem, apesar dos últimos acontecimentos. Será um aprendizado e tanto ficar ao lado dele.
Joseph assentiu, e a julgar pela sua expressão, estava bem satisfeito com o que lhe foi oferecido.
– Enzo, você fica com sua mãe. Sei que...você não gosta muito disso e só está entrando para ajudar a família. Sua mãe... é incrível no que faz e tenho certeza que pegará gosto pela coisa só por acompanhá-la.
Mordi meus lábios com força. Ele queria me desestabilizar. Eu sabia disso.
Enzo sorriu abertamente pra mim e retribui.Ele estava fazendo exatamente da forma que imaginei. E da forma que eu mesma faria se estivesse no comando.
– Isso quer dizer que ficarei com você, pai? Seremos a dupla dinâmica?
Valentina perguntou com um sorriso de orelha a orelha, fazendo Chay revirar os olhos.
– É óbvio. Você precisa de alguém que não passará a mão em sua cabeça.
Dessa vez eu o encarei. Era a porra de uma indireta pra mim? Eu não passava a mão na cabeça de Valentina. So a defendia quando achava que o pai estava sendo carrasco demais. Talvez, percebendo a raiva em meu olhar, Valentina se levantou e foi até ele. Abraçou-o pela cintura e colocou a cabeça em seu peito.
– Não fique tão armado, pai. Eu juro que não aprontarei nada. So estou feliz em trabalhar ao seu lado. Vocês dois são meus ídolos, sabem disso. Amo vocês demais.
Chay ficou momentaneamente sem ação. Mas depois, abraçou Valentina e beijou os cabelos dela.
– Eu também amo vocês demais. Mas por favor...
– Eu não decepcionarei vocês. É uma promessa.
Joseph e Enzo se levantaram e também se aproximaram do pai. Enzo esticou a mão para mim e me puxou para mais perto. Fizemos uma roda bem apertada...nós cinco.
– Nossa família é o que temos de mais importante. Não perderemos isso.
Joseph falou olhando para nós dois. Chay colocou o braço sobre meu ombro e um tremor percorreu meu corpo. Sinceramente... eu já não sabia se conseguiria levar esse castigo adiante.
– Quando começaremos?
– Amanhã. Portanto... já sabem que às cinco já deverão estar prontos para sair.
– E quando voltarem as aulas?
– Conciliaremos isso.
Nossos filhos tentavam controlar a euforia, mas parecia impossível. E eu tentava controlar o tremor em meu corpo. Os dedos longos de Chay acariciavam meu ombro e eu quase desfalecia diante de seu toque.
– Vocês já podem ir. Eu ainda preciso conversar com o Jack e o Liam.
– Obrigado pela confiança, pai. É importante pra nós.
Enzo falou e Chay sorriu, bagunçando os cabelos dele. Valentina o abraçou novamente, assim como Joseph. E quando eu tentei me afastar junto com meus filhos, Chay me segurou.
– Precisamos conversar... a sós.
Fiz força e me soltei.
– Eu sei. Aguardarei enquanto conversa com Jack e Liam.
Eu me afastei antes que ele dissesse mais alguma coisa. Passei pelos meus filhos na sala, subindo diretamente para o meu quarto. Eu adorava estar grávida. A única coisa que me irritava era essa rebelião de hormônios indecisos. Eu queria manter a calma e serenidade de sempre. A mesma capacidade de tomar decisões acertadas, sem me matar para chegar a uma conclusão do certo e errado. Entretanto, nesse momento, eu estava completamente indecisa. Diria até mesmo insegura. Lembrar-me do olhar perdido e quase implorativo de Chay me deixou sem rumo. Fez com que eu pensasse que minha atitude era tremendamente infantil. De certa forma era, afinal, eu entendia o motivo por trás daquelas palavras. No entanto, meu peito doía de forma absurda toda vez que me lembrava dele e de suas palavras, mandando-me embora dali. Mais de dezesseis anos juntos e ele nunca, nem de brincadeira, nem na hora da raiva havia me dito aquilo.
Suspirando, levantei-me e fui até o closet, separando algumas roupas dele. Nesse momento, mais do que nunca precisávamos de nossa confiança, cumplicidade. Ambos precisávamos sentir na pele como seria um sem o outro.
Estava acabando de dobrar as roupas sobre a cama quando ele entrou. Seu olhar incrédulo parou exatamente sobre a pilha de roupas.
– Mel... vamos parar, ok? Eu já pedi desculpas, já acertamos tudo.
– Mas eu ainda estou magoada, está bem?
– Eu falei da boca pra fora, porra.
Perdeu a paciência, bagunçando os cabelos.
–Você me queria fora da nossa casa, Chay. Ficaria sem sexo do mesmo jeito.
– Eu não estou falando de sexo... apenas de sexo.
– É lógico que está. Se não fosse isso, qual o motivo da irritação? Ainda estaremos sob o mesmo teto.
Meu corpo foi puxado de repente, chocando-se contra a muralha de músculos que era o peito de Chay. Seu olhar ardente quase perfurava o meu e eu podia sentir claramente toda sua irritação.
– Eu só quero poder me deitar todos os dias ao lado da minha esposa, contar a ela sobre minhas preocupações... essas coisas que fazemos desde sempre.
– E é claro... terminamos a noite com você extravasando seu estresse dentro de mim.
– Que eu saiba você nunca reclamou. E o sexo que rolava em seguida... era apenas consequência do que somos juntos, Mel.
Ele me empurrou com força desnecessária e cambaleei para trás, assustada com seu repentino ataque.
– Quer saber? Eu cansei. Ja não me lembro mais como é cuidar de bebezinhos e você está parecendo um.
Ele avançou até a porta, mas parou novamente antes de sair.
– Não reclame quando eu resolver extravasar meu estresse dentro de uma vadia qualquer.
Saiu e bateu a porta com tanta força que senti o lustre tremer. Eu sabia que ele nunca faria isso. Chay não era o tipo de homem que traía. Apostava muito mais em uma pegada a força comigo do que procurar outra mulher.
Mas eu não pude evitar uma pontada no peito quando, poucos minutos depois, eu ouvi o ronco do motor do carro. Corri até a varanda, a tempo de vê-lo acelerando para fora de nossa propriedade.
Chay
Eu esmurrava o volante com toda minha ira. Aquela situação absurda começava a me irritar profundamente. O que Mel estava pensando da vida hein? Então era assim? Uma briguinha e já dormíamos em quartos separados? Que porra era aquela? Ok... eu dava um desconto somente porque sabia do seu estado. Aquela confusão de hormônios a deixava louca, era fato.
Mas será que no meio daquilo tudo, ela não conseguia perceber que eu jamais me imaginaria sem ela ao meu lado? Eu? Separar-me dela? Estava louca. Ou andava lendo algum romance piegas escondido de mim? Verificaria isso. Com certeza estava mais sensível e abusava da leitura dessas novelinhas sem sentido, onde o casal se separa por motivos estúpidos. Ridículo. Desentendimentos todo casal tem. Mas chegar a separação... era coisa para os fracos, e não para um casal como nós.
Mas tudo bem... inspirei e tentei não fazer besteira. Queria só ver quantos dois dias ela suportaria aquela situação. Enquanto isso, eu me enfiaria no trabalho.
A conversa de mais cedo não me abalava mais. Não era homem de voltar atrás e o que foi feito foi com total certeza. Meus filhos, meus bebês agora estavam definitivamente dentro da máfia. Eu até ri com esse pensamento. E desde quando estiveram fora? Estavam dentro desde quando os coloquei na barriga daquela... gostosa.
Engraçado é que depois daquela conversa... eu não tinha mais medo. Minha maior preocupação era o deslumbramento que poderiam ter. Algo meio adolescente, do tipo... quererem se mostrar poderosos diante dos amigos. Mas eu vi que ali não era uma questão de ego... era amor a família. E isso era algo que Mel e eu vínhamos demonstrando há anos. Como eles poderiam ser diferentes se cresceram vendo nossa dedicação à família?
Além do mais, eles seriam treinados pelos melhores. Isso bastava. Minha conversa com Liam e Jack girou basicamente nisso. Nem mesmo toquei no assunto "Valentina e suas peripécias". Sabia que por trás daquela fachada de anjo havia um demônio. Eles não tiveram culpa, definitivamente. Jack era precavido demais, tanto que só bebia diretamente de sua garrafa. Quem imaginaria que os loucos fossem dopá-lo usando sua própria bebida? Nem eu sonharia isso! E Liam porque era um estúpido apaixonado, que aliás... eu ainda sentia vontade de cortar as bolas.
Rodei um pouco pela cidade, mas algo estranho estava acontecendo. Algo me puxava em direção aquele puteiro barato. NÃO! Definitivamente eu não estava a procura de sexo. Sou homem o suficiente para não precisar me enfiar em qualquer buraco para aliviar minhas necessidades. Às vezes eu tinha medo desses apitos que meu cérebro dava, quase me gritando com todas as letras que alguma merda estava para acontecer. E foi pensando nisso que adentrei aquele lugar, procurando um canto bem mais afastado de tudo. Eu não queria que aquela puta descarada me visse ali. Certamente correria para contar ao desmiolado do meu pai. Apesar do que, isso nem era garantia de nada. Ela saberia que eu estive aqui.
Bastou eu me sentar para que uma morena peituda se aproximasse, sentando-se sem pedir licença.
– Senhor Suede... é um prazer tê-lo aqui.
A princípio não respondi, ocupado em acender meu charuto e tragá-lo logo em seguida. A mulher ao meu lado era realmente belíssima... mas tão vulgar quanto. E se havia uma coisa capaz de me enojar e deixar meu pau morto... era vulgaridade.
– Não direi igualmente, pois mentira com certeza não é meu ponto forte.
Ela arfou, mas não se intimidou. Ajeitou seu decote e cruzou as pernas.
– Aceita uma bebida?
– Não. So quero... relaxar.
Ela abriu um sorriso cheio de dentes, já modificando completamente o sentido de minhas palavras. Ignorei e deixei meu olhar vagar pelo amplo salão. Aquela sensação de algo estranho continuava me cutucando. E não demorou muito para que eu tivesse a comprovação de que, mais uma vez, meu sexto sentido estava certo.
Estreitei meus olhos, pensando se não estava sonhando. So isso justificava o que via agora. Realmente eu não conseguia acreditar. Aliás... eu conseguia sim. Alguns seres humanos são burros o bastante para tomarem tal atitude. Na verdade, eu não queria acreditar, era diferente.
De onde estava, eu não era visto, mas presenciava a cena com toda nitidez. Traguei meu charuto, deixando a fumaça preencher meu organismo para depois soprá-la lentamente, ainda com o olhar sobre o quarteto. Pela minha visão periférica, percebia claramente a vadia ao meu lado esfregando uma perna na outra. Coitadas dessas mulheres. Ainda não aprenderam que precisariam de muito mais que um par de coxas, seios e bunda para arrastar o poderoso para cama. Esse "muito mais" só uma mulher no mundo tinha. Ela ainda não percebeu que não mexia um décimo com minha libido?
Passei a mão no cabelo, irritado com aquela putaria toda. Meu Deus... como podem existir homens tão burros? Que merda eles tinham na cabeça? Não aguentando mais aquela situação, eu me levantei, fazendo a vadia suspirar.
– Vamos subir?
Ela perguntou e eu a olhei de cima a baixo, parando em seu olhar, sem qualquer emoção. Ela se encolheu. Palavras não seriam necessárias. Afastei-me e fui em direção aos dois crápulas que se agarravam com aquelas vagabundas. Parei a frente deles, observando-os sem emoção.
– Chay! O que...
Eu o silenciei apenas com o olhar.
– Se algum dia eu tive respeito por vocês... isso acabou agora. Espero sinceramente que esqueçam todas as pessoas que estão sob a minha proteção.
Afastei-me dali sem lhes dar tempo para resposta. Era assim que o clã Smith chegaria ao fim? Não bastava Carlisle Cullen. Agora Emmet e Jasper se atracavam com qualquer vagabunda de um puteiro de quinta. Não consigo imaginar como Rosalie e Alice reagiriam a isso.
Merda! E pensar que eu chegaria em casa e nem teria minha esposa para ouvir meu relato. Tudo bem que ela estaria la, sempre para me ouvir. Mas eu não a procuraria agora. Com certeza pensaria que eu queria sexo após isso. E por incrível que pareça, nesse exato momento, sexo nem me passava pela cabeça. Principalmente depois de ter saído daquele ambiente.
Meu celular tocou várias vezes enquanto dirigia de volta pra casa. Jasper. Depois Emmet. Não atendi nenhum dos dois. Maldita hora que resolvi sair de casa. Agora aquela cena ficaria martelando em minha mente. E o pior de tudo... eu não sabia se deveria contar aquilo a Rose e Alice. Estaria me metendo na vida pessoal delas e definitivamente, eu não gostava disso.
– Merda, Mel... por que teve que ficar emburrada logo agora?
Sem alternativa, e sem paciência para pensar em uma saída, eu cheguei em casa e fui direto para um dos quartos vagos na casa. Passei pelo quarto dos meus filhos e depois parei à porta do meu quarto. Mas não entrei. Nem me arrisquei a olhar como Angie estava. Eu não imploraria por seus carinhos... pelo menos, não agora.
Joguei-me na cama do jeito que estava, sem ao menos tirar os sapatos. Algumas horas de sono. Era tudo o que eu precisava agora.
O banho me deixou revigorado. Meu corpo estava incrivelmente relaxado, como se não existisse aquela porra de novo problema atormentando minha mente. Vesti-me totalmente de negro. Jeans, camisa e sobretudo. Puxei um pouco a gola para cima, peguei celular e as duas armas, já colocando uma delas em minha cintura.
A casa inteira deveria dormir, afinal eram quatro da manhã. Sai do quarto, mas ao passar em frente ao meu "antigo" quarto, a porta foi aberta e Mel apareceu. Olhei-a de cima a baixo, apreciando o jeans colado em suas coxas grossas. Usava roupas escuras, assim como eu. A diferença eram as botas que quase alcançavam seus joelhos. Eu nem precisava dizer o que pensava da mulher à minha frente.
– Bom dia, Melanie.
Ela estreitou o olhar e passou a mão no cabelo, jogando-o de lado. Estava irritada por ser chamada assim.
– Bom dia, Berllucci.
Falou e se afastou pelo corredor, rebolando aqueles quadris que me levavam à loucura. Sussurrei assim que ela saiu do meu campo de visão.
– Provoca, diaba. Tenho dó de você... quando eu te pegar de novo.
Ao contrário do que ela possa ter imaginado, não fui atrás dela. Entrei no quarto de Valentina, observando-a completamente desmaiada na cama. Dei um sorriso de lado e fui até a janela, puxando as cortinas. Obviamente não adiantaria muita coisa, já que ainda não tinha amanhecido. Fui até sua cama, observando a cabeleira espalhada pelo travesseiro. Estava de bruços, com uma das pernas quase fora da cama. Malvadamente, puxei suas cobertas, jogando-as para o lado.
– Ei...
Ela protestou, girando na cama. Colocou uma das mãos sobre os olhos, forçando a visão.
– Pai!
– Hora de acordar princesa.
Meu tom era debochado e ela bufou, sentando-se na cama. Os cabelos estavam uma bagunça, exatamente iguais aos da mãe ao acordar.
– Que horas são?
– Hora de trabalhar, óbvio.
Falei e joguei a arma sobre o colo dela. Ela arregalou os olhos e não conseguiu esconder seu entusiasmo.
– Pai...
Eu a interrompi. Não tinha tempo a perder.
– Você tem quinze minutos para trocar a fralda e descer. Se atrasar um minuto... ficará para trás.
Falei e sai do quarto, mas ainda consegui ouvir sua reclamação.
– Minha mãe fecha as pernas e eu pago o pato.
– Fingirei que não ouvi isso, hein?
Ela gargalhou e do lado de fora do quarto... eu ri também. Desci e fui direto ao escritório, abrindo o cofre. Conferi a munição, pegando também a que seria de Valentina. Obviamente não a entreguei carregada a ela. Louca do jeito que era, seria bem capaz de testar em alguma coisa no quarto.
Quando sai, encontrei todos em volta da mesa do café. Joseph e Enzo quase dormiam sobre a xícara de café. Mas Valentina, que acabava de se levantar da cadeira, ainda bebendo o café, parecia ter saído de uma sessão fotográfica. Usava uma roupa toda de couro e parecia mais desperta do que nunca. Alguém ai tinha dúvida de quem ela puxou?
– Pronto, pai. Podemos ir.
– Eu mal me aguento em pé de sono.
Joseph resmungou, fazendo Valentina rolar os olhos e debochar.
– Bando de frouxos.
– Vamos, Valentina. Não podemos nos atrasar.
– Ninguém vai comer nada?
Mel perguntou, segurando uma assadeira de vidro com algumas broas.
– Eu como...
Respondi, caminhando até ela e parando à sua frente. Peguei uma broa e inclinei-me um pouco, passando bem rente ao seu ouvido e sussurrei.
– Você...
Mel arfou e enquanto eu me distanciava, ouvi o barulho da assadeira indo de encontro ao chão.
– Merda.
Praguejou e eu gargalhei, afastando-me com Valentina em meu encalço. Mordi um pedaço e olhei para a pentelha ao meu lado.
– Você não vale nada, pai.
Eu ri novamente e passei meu braço em volta do ombro dela.
– Acho que faremos uma dupla imbatível.
Ela arqueou a sobrancelha, cinicamente.
– Descobriu isso agora? Eu sempre soube disso.
Rolei meus olhos.
– Vamos lá. Temos um carregamento gigante para receber.
Meu estado de espírito efusivo nada mais era que uma forma de não pensar na pedreira que teria pela frente. Acordei decidido a não deixar Rose e Aliie no escuro. Por mais que eu fosse invasivo, sei que ficariam ainda mais furiosas quando descobrissem que eu sabia e não disse nada. Além do mais, eu não poderia permitir que se arriscassem. Estúpidos do jeito que eram, não duvidava nada que aqueles dois tivessem se enfiado naquelas vadias sem qualquer proteção.
– Está acontecendo mais alguma coisa, não está?
Valentina perguntou assim que abri a porta do carro pra ela.
– Está, mas não falarei sobre isso agora. Temos muito trabalho pela frente, Cheetara.
Ela me olhou, demonstrando sua insatisfação com o novo apelido. Ja dentro do carro, nos olhamos. O dia ainda não tinha clareado, mas nós dois, ao mesmo tempo, colocamos os óculos escuros. Nossa primeira missão juntos. Mas eu não demonstraria o quanto aquilo me assustava... e enchia de orgulho ao mesmo tempo.
CONTINUA
DEMOREI UM POUQUINHO A MAIS QUE OS OUTROS MAS ME PERDOEM MIL VEZES ♥
E LEIAM A FIC DE CHAMEL DA NOSSA COMENTARISTA ♥ VOCÊS NÃO VÃO SE ARREPENDER: Passado Distorcido