domingo, 18 de outubro de 2015

FANFIC - "O PODEROSO SUEDE" - CAPÍTULO 11- 2° TEMP.


Mel

Todos reunidos no escritório. Era até divertido ver como somente agora, nossos filhos pareciam tão comportados. Eu sabia que a pouca paciência de Chay estava sendo exaustivamente testada. E sabia também que estávamos pisando em terreno perigoso. Mas acima disso tudo, eu tinha total certeza que Chay não faria nada para se arrepender depois. Até tentou... quando quis me expulsar de casa. É... acho que eu jamais me esqueceria disso. Ainda estava furiosa com ele, mas, ao mesmo tempo, queria deitar em nossa cama e acariciar os cabelos dele, como sempre fazia quando queria acalmá-lo. Vez ou outra ele direcionava os olhos para mim, mas eu fingia não ver. Conhecia muito bem o poder de sedução do meu marido, e conhecia ainda mais minha rendição. Se ele continuasse me olhando daquele jeito, provavelmente estaríamos nus aqui mesmo no escritório. Seria muito bom se meus hormônios não cismassem de agir agora. Lembro-me perfeitamente bem de como fiquei quando engravidei de Valentina e Enzo.
Joseph pigarreou e voltei ao presente. Chay estava sentado na ponta da mesa, olhando fixamente para os filhos. Deus... como ele estava lindo.
– Ficaremos o resto do dia assim? Olhando para a cara um do outro sem dizer nada?
Chay estreitou os olhos, encarando Valentina.
– Vocês todos tem noção do quanto isso é difícil pra mim?
– Não comece, pai. Você prometeu e nunca volta atrás.
– Será que não?
Ele falou, olhando diretamente pra mim. Entendi muito bem o que ele quis dizer, mas continuei em silêncio. Por fim, ele bufou e se colocou de pé, colocando as duas mãos no bolso. Deu alguns passos, de cabeça baixa, depois deixou a cabeça pender um pouco para trás.
– Eu sei que nada do que eu disser ou fizer mudará a decisão de vocês. Eu só quero que... eu peço, aliás eu exijo que..
Ele fechou os olhos brevemente e eu quase pude sentir a angústia dele.
– Não se empolguem. Não tentem agir pela cabeça de vocês, achando que estão num parque de diversões. Isso é sério e pode ficar ainda pior. Sei que vocês tem a mente muito mais avançada do que muitos na idade de vocês. Está certo... eu duvidei disso. Aliás, não duvidei. Era minha arma, minha defesa. Entendam que, se eu era protetor, ficarei ainda pior porque vocês agora estarão diretamente na linha de tiro.
Afastou-se um pouco e passou a mão pelos cabelos. Ninguém ousava falar nada. Ele precisava desabafar.
– Nossa família já perdeu demais. Eu não posso nem sonhar em passar por isso novamente. Eu quero vocês seguros, vivos. Porra... quero ver vocês ao meu lado quando eu estiver pronto para deixar essa vida.
Eu arfei ao ouvir aquelas palavras. Era quase impossível imaginar meu poderoso... morto. Era absurdamente ridículo, eu sei, afinal ele não é imortal. Mas eu não conseguia visualizar essa cena. Ele deu um sorriso de lado, olhando diretamente pra mim.
– Quando eu estiver com uns cem anos, é claro.
Eu rolei meus olhos e não me permiti suspirar quando ele piscou para mim.
– E como ficaremos?
Enzo perguntou com evidente ansiedade. Até então eu tinha imaginado que a maior interessada nas atividades era Valentina. Enzo e Joseph apenas seguiram a mente maligna dela. Mas agora via como estava enganada. Todos eles estavam bem interessados em assumirem mesmo, um lugar ao meu lado e de Chay.
– É lógico que começarão nas coisas mais simples. Ainda não perdi completamente o juízo. Quando houver algo mais... perigoso, vocês ficarão em casa. Estamos entendidos? Disso eu não abrirei mão jamais.
Chay fixou o olhar por um tempo em cada um dos filhos. Dessa vez ele não me olhou, mas eu sabia que ele aguardava por um pronunciamento meu.
– Eu também não abro mão disso. Eu apoiei vocês e o mínimo que espero é um pouco de senso de responsabilidade. Eu só... consegui ser o que sou hoje porque ouvi os conselhos do pai de vocês. Ele esteve ao meu lado, ajudando-me em tudo. Eu espero que entendam isso e ajam de acordo com o que dissermos.
Eu sentia o olhar de Chay sobre mim. E sabia exatamente o que ele estava pensando. Somos parte um do outro. As coisas só funcionaram porque confiamos e acreditamos no potencial um do outro. Temos pleno entendimento que só somos fortes porque somos unidos. Aquela ideia absurda de separação nada mais foi que o auge do desespero. Eu entendia isso. Mas se eu não desse uma dura em Chay, ele continuaria com a ideia ridícula de nos afastarmos.
– Estamos de acordo. É como já dissemos, pai. Só queremos ajudar... somar. Não queremos trazer mais problemas.
Esse foi o Joseph. Sempre centrado. Sempre com as palavras certas, na hora certa. Eu consegui ver um brilho orgulhoso nos olhos de Chay. Por mais que tivesse brigado, agido com tirania, ele sentia orgulho dos nossos filhos. Não havia dúvida alguma.
– Bom... e como ficaremos? Como será feita a divisão? Ou não pensou nisso ainda?
– Ja pensei, Valentina.
Novamente ele se sentou na beirada da mesa, apoiando um dos braços na perna. Eu evitei olhar para ele, óbvio. Chay conseguia ser sexy usando cueca e meia... imagine naquela pose?
– Joseph ficará com Jack e Liam.Você bem sabe que Jaques é meu melhor homem, apesar dos últimos acontecimentos. Será um aprendizado e tanto ficar ao lado dele.
Joseph assentiu, e a julgar pela sua expressão, estava bem satisfeito com o que lhe foi oferecido.
– Enzo, você fica com sua mãe. Sei que...você não gosta muito disso e só está entrando para ajudar a família. Sua mãe... é incrível no que faz e tenho certeza que pegará gosto pela coisa só por acompanhá-la.
Mordi meus lábios com força. Ele queria me desestabilizar. Eu sabia disso.
Enzo sorriu abertamente pra mim e retribui.Ele estava fazendo exatamente da forma que imaginei. E da forma que eu mesma faria se estivesse no comando.
– Isso quer dizer que ficarei com você, pai? Seremos a dupla dinâmica?
Valentina perguntou com um sorriso de orelha a orelha, fazendo Chay revirar os olhos.
– É óbvio. Você precisa de alguém que não passará a mão em sua cabeça.
Dessa vez eu o encarei. Era a porra de uma indireta pra mim? Eu não passava a mão na cabeça de Valentina. So a defendia quando achava que o pai estava sendo carrasco demais. Talvez, percebendo a raiva em meu olhar, Valentina se levantou e foi até ele. Abraçou-o pela cintura e colocou a cabeça em seu peito.
– Não fique tão armado, pai. Eu juro que não aprontarei nada. So estou feliz em trabalhar ao seu lado. Vocês dois são meus ídolos, sabem disso. Amo vocês demais.
Chay ficou momentaneamente sem ação. Mas depois, abraçou Valentina e beijou os cabelos dela.
– Eu também amo vocês demais. Mas por favor...
– Eu não decepcionarei vocês. É uma promessa.
Joseph e Enzo se levantaram e também se aproximaram do pai. Enzo esticou a mão para mim e me puxou para mais perto. Fizemos uma roda bem apertada...nós cinco.
– Nossa família é o que temos de mais importante. Não perderemos isso.
Joseph falou olhando para nós dois. Chay colocou o braço sobre meu ombro e um tremor percorreu meu corpo. Sinceramente... eu já não sabia se conseguiria levar esse castigo adiante.
– Quando começaremos?
– Amanhã. Portanto... já sabem que às cinco já deverão estar prontos para sair.
– E quando voltarem as aulas?
– Conciliaremos isso.
Nossos filhos tentavam controlar a euforia, mas parecia impossível. E eu tentava controlar o tremor em meu corpo. Os dedos longos de Chay acariciavam meu ombro e eu quase desfalecia diante de seu toque.
– Vocês já podem ir. Eu ainda preciso conversar com o Jack e o Liam.
– Obrigado pela confiança, pai. É importante pra nós.
Enzo falou e Chay sorriu, bagunçando os cabelos dele. Valentina o abraçou novamente, assim como Joseph. E quando eu tentei me afastar junto com meus filhos, Chay me segurou.
– Precisamos conversar... a sós.
Fiz força e me soltei.
– Eu sei. Aguardarei enquanto conversa com Jack e Liam.
Eu me afastei antes que ele dissesse mais alguma coisa. Passei pelos meus filhos na sala, subindo diretamente para o meu quarto. Eu adorava estar grávida. A única coisa que me irritava era essa rebelião de hormônios indecisos. Eu queria manter a calma e serenidade de sempre. A mesma capacidade de tomar decisões acertadas, sem me matar para chegar a uma conclusão do certo e errado. Entretanto, nesse momento, eu estava completamente indecisa. Diria até mesmo insegura. Lembrar-me do olhar perdido e quase implorativo de Chay me deixou sem rumo. Fez com que eu pensasse que minha atitude era tremendamente infantil. De certa forma era, afinal, eu entendia o motivo por trás daquelas palavras. No entanto, meu peito doía de forma absurda toda vez que me lembrava dele e de suas palavras, mandando-me embora dali. Mais de dezesseis anos juntos e ele nunca, nem de brincadeira, nem na hora da raiva havia me dito aquilo.
Suspirando, levantei-me e fui até o closet, separando algumas roupas dele. Nesse momento, mais do que nunca precisávamos de nossa confiança, cumplicidade. Ambos precisávamos sentir na pele como seria um sem o outro.
Estava acabando de dobrar as roupas sobre a cama quando ele entrou. Seu olhar incrédulo parou exatamente sobre a pilha de roupas.
– Mel... vamos parar, ok? Eu já pedi desculpas, já acertamos tudo.
– Mas eu ainda estou magoada, está bem?
– Eu falei da boca pra fora, porra.
Perdeu a paciência, bagunçando os cabelos.
–Você me queria fora da nossa casa, Chay. Ficaria sem sexo do mesmo jeito.
– Eu não estou falando de sexo... apenas de sexo.
– É lógico que está. Se não fosse isso, qual o motivo da irritação? Ainda estaremos sob o mesmo teto.
Meu corpo foi puxado de repente, chocando-se contra a muralha de músculos que era o peito de Chay. Seu olhar ardente quase perfurava o meu e eu podia sentir claramente toda sua irritação.
– Eu só quero poder me deitar todos os dias ao lado da minha esposa, contar a ela sobre minhas preocupações... essas coisas que fazemos desde sempre.
– E é claro... terminamos a noite com você extravasando seu estresse dentro de mim.
– Que eu saiba você nunca reclamou. E o sexo que rolava em seguida... era apenas consequência do que somos juntos, Mel.
Ele me empurrou com força desnecessária e cambaleei para trás, assustada com seu repentino ataque.
– Quer saber? Eu cansei. Ja não me lembro mais como é cuidar de bebezinhos e você está parecendo um.
Ele avançou até a porta, mas parou novamente antes de sair.
– Não reclame quando eu resolver extravasar meu estresse dentro de uma vadia qualquer.
Saiu e bateu a porta com tanta força que senti o lustre tremer. Eu sabia que ele nunca faria isso. Chay não era o tipo de homem que traía. Apostava muito mais em uma pegada a força comigo do que procurar outra mulher.
Mas eu não pude evitar uma pontada no peito quando, poucos minutos depois, eu ouvi o ronco do motor do carro. Corri até a varanda, a tempo de vê-lo acelerando para fora de nossa propriedade.
Chay
Eu esmurrava o volante com toda minha ira. Aquela situação absurda começava a me irritar profundamente. O que Mel estava pensando da vida hein? Então era assim? Uma briguinha e já dormíamos em quartos separados? Que porra era aquela? Ok... eu dava um desconto somente porque sabia do seu estado. Aquela confusão de hormônios a deixava louca, era fato.
Mas será que no meio daquilo tudo, ela não conseguia perceber que eu jamais me imaginaria sem ela ao meu lado? Eu? Separar-me dela? Estava louca. Ou andava lendo algum romance piegas escondido de mim? Verificaria isso. Com certeza estava mais sensível e abusava da leitura dessas novelinhas sem sentido, onde o casal se separa por motivos estúpidos. Ridículo. Desentendimentos todo casal tem. Mas chegar a separação... era coisa para os fracos, e não para um casal como nós.
Mas tudo bem... inspirei e tentei não fazer besteira. Queria só ver quantos dois dias ela suportaria aquela situação. Enquanto isso, eu me enfiaria no trabalho.
A conversa de mais cedo não me abalava mais. Não era homem de voltar atrás e o que foi feito foi com total certeza. Meus filhos, meus bebês agora estavam definitivamente dentro da máfia. Eu até ri com esse pensamento. E desde quando estiveram fora? Estavam dentro desde quando os coloquei na barriga daquela... gostosa.
Engraçado é que depois daquela conversa... eu não tinha mais medo. Minha maior preocupação era o deslumbramento que poderiam ter. Algo meio adolescente, do tipo... quererem se mostrar poderosos diante dos amigos. Mas eu vi que ali não era uma questão de ego... era amor a família. E isso era algo que Mel e eu vínhamos demonstrando há anos. Como eles poderiam ser diferentes se cresceram vendo nossa dedicação à família?
Além do mais, eles seriam treinados pelos melhores. Isso bastava. Minha conversa com Liam e Jack girou basicamente nisso. Nem mesmo toquei no assunto "Valentina e suas peripécias". Sabia que por trás daquela fachada de anjo havia um demônio. Eles não tiveram culpa, definitivamente. Jack era precavido demais, tanto que só bebia diretamente de sua garrafa. Quem imaginaria que os loucos fossem dopá-lo usando sua própria bebida? Nem eu sonharia isso! E Liam porque era um estúpido apaixonado, que aliás... eu ainda sentia vontade de cortar as bolas.
Rodei um pouco pela cidade, mas algo estranho estava acontecendo. Algo me puxava em direção aquele puteiro barato. NÃO! Definitivamente eu não estava a procura de sexo. Sou homem o suficiente para não precisar me enfiar em qualquer buraco para aliviar minhas necessidades. Às vezes eu tinha medo desses apitos que meu cérebro dava, quase me gritando com todas as letras que alguma merda estava para acontecer. E foi pensando nisso que adentrei aquele lugar, procurando um canto bem mais afastado de tudo. Eu não queria que aquela puta descarada me visse ali. Certamente correria para contar ao desmiolado do meu pai. Apesar do que, isso nem era garantia de nada. Ela saberia que eu estive aqui.
Bastou eu me sentar para que uma morena peituda se aproximasse, sentando-se sem pedir licença.
– Senhor Suede... é um prazer tê-lo aqui.
A princípio não respondi, ocupado em acender meu charuto e tragá-lo logo em seguida. A mulher ao meu lado era realmente belíssima... mas tão vulgar quanto. E se havia uma coisa capaz de me enojar e deixar meu pau morto... era vulgaridade.
– Não direi igualmente, pois mentira com certeza não é meu ponto forte.
Ela arfou, mas não se intimidou. Ajeitou seu decote e cruzou as pernas.
– Aceita uma bebida?
– Não. So quero... relaxar.
Ela abriu um sorriso cheio de dentes, já modificando completamente o sentido de minhas palavras. Ignorei e deixei meu olhar vagar pelo amplo salão. Aquela sensação de algo estranho continuava me cutucando. E não demorou muito para que eu tivesse a comprovação de que, mais uma vez, meu sexto sentido estava certo.
Estreitei meus olhos, pensando se não estava sonhando. So isso justificava o que via agora. Realmente eu não conseguia acreditar. Aliás... eu conseguia sim. Alguns seres humanos são burros o bastante para tomarem tal atitude. Na verdade, eu não queria acreditar, era diferente.
De onde estava, eu não era visto, mas presenciava a cena com toda nitidez. Traguei meu charuto, deixando a fumaça preencher meu organismo para depois soprá-la lentamente, ainda com o olhar sobre o quarteto. Pela minha visão periférica, percebia claramente a vadia ao meu lado esfregando uma perna na outra. Coitadas dessas mulheres. Ainda não aprenderam que precisariam de muito mais que um par de coxas, seios e bunda para arrastar o poderoso para cama. Esse "muito mais" só uma mulher no mundo tinha. Ela ainda não percebeu que não mexia um décimo com minha libido?
Passei a mão no cabelo, irritado com aquela putaria toda. Meu Deus... como podem existir homens tão burros? Que merda eles tinham na cabeça? Não aguentando mais aquela situação, eu me levantei, fazendo a vadia suspirar.
– Vamos subir?
Ela perguntou e eu a olhei de cima a baixo, parando em seu olhar, sem qualquer emoção. Ela se encolheu. Palavras não seriam necessárias. Afastei-me e fui em direção aos dois crápulas que se agarravam com aquelas vagabundas. Parei a frente deles, observando-os sem emoção.
– Chay! O que...
Eu o silenciei apenas com o olhar.
– Se algum dia eu tive respeito por vocês... isso acabou agora. Espero sinceramente que esqueçam todas as pessoas que estão sob a minha proteção.
Afastei-me dali sem lhes dar tempo para resposta. Era assim que o clã Smith chegaria ao fim? Não bastava Carlisle Cullen. Agora Emmet e Jasper se atracavam com qualquer vagabunda de um puteiro de quinta. Não consigo imaginar como Rosalie e Alice reagiriam a isso.
Merda! E pensar que eu chegaria em casa e nem teria minha esposa para ouvir meu relato. Tudo bem que ela estaria la, sempre para me ouvir. Mas eu não a procuraria agora. Com certeza pensaria que eu queria sexo após isso. E por incrível que pareça, nesse exato momento, sexo nem me passava pela cabeça. Principalmente depois de ter saído daquele ambiente.
Meu celular tocou várias vezes enquanto dirigia de volta pra casa. Jasper. Depois Emmet. Não atendi nenhum dos dois. Maldita hora que resolvi sair de casa. Agora aquela cena ficaria martelando em minha mente. E o pior de tudo... eu não sabia se deveria contar aquilo a Rose e Alice. Estaria me metendo na vida pessoal delas e definitivamente, eu não gostava disso.
– Merda, Mel... por que teve que ficar emburrada logo agora?
Sem alternativa, e sem paciência para pensar em uma saída, eu cheguei em casa e fui direto para um dos quartos vagos na casa. Passei pelo quarto dos meus filhos e depois parei à porta do meu quarto. Mas não entrei. Nem me arrisquei a olhar como Angie estava. Eu não imploraria por seus carinhos... pelo menos, não agora.
Joguei-me na cama do jeito que estava, sem ao menos tirar os sapatos. Algumas horas de sono. Era tudo o que eu precisava agora.
O banho me deixou revigorado. Meu corpo estava incrivelmente relaxado, como se não existisse aquela porra de novo problema atormentando minha mente. Vesti-me totalmente de negro. Jeans, camisa e sobretudo. Puxei um pouco a gola para cima, peguei celular e as duas armas, já colocando uma delas em minha cintura.
A casa inteira deveria dormir, afinal eram quatro da manhã. Sai do quarto, mas ao passar em frente ao meu "antigo" quarto, a porta foi aberta e Mel apareceu. Olhei-a de cima a baixo, apreciando o jeans colado em suas coxas grossas. Usava roupas escuras, assim como eu. A diferença eram as botas que quase alcançavam seus joelhos. Eu nem precisava dizer o que pensava da mulher à minha frente.
– Bom dia, Melanie.
Ela estreitou o olhar e passou a mão no cabelo, jogando-o de lado. Estava irritada por ser chamada assim.
– Bom dia, Berllucci.
Falou e se afastou pelo corredor, rebolando aqueles quadris que me levavam à loucura. Sussurrei assim que ela saiu do meu campo de visão.
– Provoca, diaba. Tenho dó de você... quando eu te pegar de novo.
Ao contrário do que ela possa ter imaginado, não fui atrás dela. Entrei no quarto de Valentina, observando-a completamente desmaiada na cama. Dei um sorriso de lado e fui até a janela, puxando as cortinas. Obviamente não adiantaria muita coisa, já que ainda não tinha amanhecido. Fui até sua cama, observando a cabeleira espalhada pelo travesseiro. Estava de bruços, com uma das pernas quase fora da cama. Malvadamente, puxei suas cobertas, jogando-as para o lado.
– Ei...
Ela protestou, girando na cama. Colocou uma das mãos sobre os olhos, forçando a visão.
– Pai!
– Hora de acordar princesa.
Meu tom era debochado e ela bufou, sentando-se na cama. Os cabelos estavam uma bagunça, exatamente iguais aos da mãe ao acordar.
– Que horas são?
– Hora de trabalhar, óbvio.
Falei e joguei a arma sobre o colo dela. Ela arregalou os olhos e não conseguiu esconder seu entusiasmo.
– Pai...
Eu a interrompi. Não tinha tempo a perder.
– Você tem quinze minutos para trocar a fralda e descer. Se atrasar um minuto... ficará para trás.
Falei e sai do quarto, mas ainda consegui ouvir sua reclamação.
– Minha mãe fecha as pernas e eu pago o pato.
– Fingirei que não ouvi isso, hein?
Ela gargalhou e do lado de fora do quarto... eu ri também. Desci e fui direto ao escritório, abrindo o cofre. Conferi a munição, pegando também a que seria de Valentina. Obviamente não a entreguei carregada a ela. Louca do jeito que era, seria bem capaz de testar em alguma coisa no quarto.
Quando sai, encontrei todos em volta da mesa do café. Joseph e Enzo quase dormiam sobre a xícara de café. Mas Valentina, que acabava de se levantar da cadeira, ainda bebendo o café, parecia ter saído de uma sessão fotográfica. Usava uma roupa toda de couro e parecia mais desperta do que nunca. Alguém ai tinha dúvida de quem ela puxou?
– Pronto, pai. Podemos ir.
– Eu mal me aguento em pé de sono.
Joseph resmungou, fazendo Valentina rolar os olhos e debochar.
– Bando de frouxos.
– Vamos, Valentina. Não podemos nos atrasar.
– Ninguém vai comer nada?
Mel perguntou, segurando uma assadeira de vidro com algumas broas.
– Eu como...
Respondi, caminhando até ela e parando à sua frente. Peguei uma broa e inclinei-me um pouco, passando bem rente ao seu ouvido e sussurrei.
– Você...
Mel arfou e enquanto eu me distanciava, ouvi o barulho da assadeira indo de encontro ao chão.
– Merda.
Praguejou e eu gargalhei, afastando-me com Valentina em meu encalço. Mordi um pedaço e olhei para a pentelha ao meu lado.
– Você não vale nada, pai.
Eu ri novamente e passei meu braço em volta do ombro dela.
– Acho que faremos uma dupla imbatível.
Ela arqueou a sobrancelha, cinicamente.
– Descobriu isso agora? Eu sempre soube disso.
Rolei meus olhos.
– Vamos lá. Temos um carregamento gigante para receber.
Meu estado de espírito efusivo nada mais era que uma forma de não pensar na pedreira que teria pela frente. Acordei decidido a não deixar Rose e Aliie no escuro. Por mais que eu fosse invasivo, sei que ficariam ainda mais furiosas quando descobrissem que eu sabia e não disse nada. Além do mais, eu não poderia permitir que se arriscassem. Estúpidos do jeito que eram, não duvidava nada que aqueles dois tivessem se enfiado naquelas vadias sem qualquer proteção.
– Está acontecendo mais alguma coisa, não está?
Valentina perguntou assim que abri a porta do carro pra ela.
– Está, mas não falarei sobre isso agora. Temos muito trabalho pela frente, Cheetara.
Ela me olhou, demonstrando sua insatisfação com o novo apelido. Ja dentro do carro, nos olhamos. O dia ainda não tinha clareado, mas nós dois, ao mesmo tempo, colocamos os óculos escuros. Nossa primeira missão juntos. Mas eu não demonstraria o quanto aquilo me assustava... e enchia de orgulho ao mesmo tempo.

CONTINUA
DEMOREI UM POUQUINHO A MAIS QUE OS OUTROS MAS ME PERDOEM MIL VEZES ♥
E LEIAM A FIC DE CHAMEL DA NOSSA COMENTARISTA ♥ VOCÊS NÃO VÃO SE ARREPENDER: Passado Distorcido

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

FANFIC - "O PODEROSO SUEDE" - CAPÍTULO 10- 2° TEMP.


Mel

Quanto tempo levei para assimilar aquelas palavras? Ou melhor, para acreditar nelas? Olhando para o rosto de Chay, percebi que até ele mesmo parecia surpreso com o que disse. Estávamos nervosos, obviamente. No mesmo instante em que trocávamos carícias e palavras de amor, estávamos novamente brigando. Nosso casamento começava a se desgastar, mas eu não estava disposta a permitir isso. Sei que todo relacionamento, ainda mais um tão longo quanto o nosso, jamais poderá ser perfeito por causa de besteiras. O que estava me matando era saber que chegamos a esse ponto por motivos alheios aos nossos sentimentos. Não queríamos aquilo. Não queríamos ficar nessa briga interminável.
Porém, Chay precisava entender que dessa vez as coisas não poderiam ser resolvidas somente do seu jeito. Ele precisava ver que o correto seria reunir a nossa família e conversar. Mas principalmente... ele precisava ouvir. Mas após ouvir essas palavras...
Ainda que fosse da boca pra fora, num momento de raiva... aquilo me magoou profundamente. Engoli a saliva, junto com as lágrimas e ergui meu rosto, empinando o queixo do jeito que ele odiava.
– É isso mesmo o que deseja, senhor fodido Suede? Destroçar sua família tal e qual meu querido sogro vem fazendo?
Ergui as mãos e o aplaudi, com um sorriso triste, mas, ao mesmo tempo, sarcástico.
– Parabéns! Você conseguiu.
– Mel...
Girei o corpo e sai do escritório, fazendo questão de puxar a porta com toda minha força, fechando-a com um estrondo. Joseph, que permaneceu esse tempo todo sentando no sofá, levantou-se e me olhou assustado.
– O que ele fez? Por que está chorando?
Eu, que não tinha percebido que chorava, passei a mão no rosto com raiva, começando a subir as escadas.
– Mãe!
– O que aconteceu é que seu pai é um estúpido. Um cavalo.
Joseph apenas arqueou a sobrancelha antes de dizer o óbvio.
– E o ama assim mesmo.
Não respondi. Apenas fui para o meu quarto, novamente batendo a porta com violência. Andei de um lado a outro, mordendo a ponta dos dedos, pensando no que fazer. A vontade que eu tinha era de apertar o pescoço de Chay, deixando-o sem ar. Mas essa era uma hipótese descartada, já que ele facilmente me impediria. Como pode ser tão turrão? Quer dizer... isso eu já sabia há anos. Mas antes ele pelo menos ouvia um pouco o que eu tinha a dizer. E agora nem isso! Apesar disso, não o recriminaria tanto. A carga estava pesada demais. Bem... recriminaria sim! Se estava pesada, era obrigação dele dividir tudo comigo, e não querer me excluir. Colocar-me pra fora de casa. Era só o que me faltava.
Sentei-me na cama e levei a mão ao rosto. Os malditos hormônios da gravidez provavelmente estavam dando o ar de sua graça. Por que comecei a chorar? Ah sim... porque aquelas palavras ainda doíam em mim. Bem que diziam que quando algo ruim lhe acontece, toda sua vida passa diante de seus olhos. A possibilidade de ficar longe de Chay oprimiu meu peito e eu vi todo o filme da minha vida, desde o momento em que os homens dele invadiram minha casa, trazendo-me para cá. Queria muito acreditar que aquilo foi um rompante, mas meu emocional estava um caos.
Ergui a cabeça ao ouvir o motor de um carro. Corri até a varanda do quarto e arfei ao ver a Mercedes entrando na propriedade.
– Puta que pariu...
So poderiam ser nossos filhos. Precisava estar ao lado deles ou não sabia do que Chay seria capaz.. Girei e corri até a porta, passando pelo corredor até alcançar a escada. Cheguei ao meio dela no momento em que Chay também aparecia, seguido por Joseph e seguia até a porta. Ele apenas me olhou rapidamente, sem sequer dar-me tempo para analisar sua expressão. Joseph parou, preocupado comigo, obviamente.
– Não deveria correr.
– E deixar seus irmãos nas garras do seu pai?
– Ele me contou o que houve.
Ignorei. No momento minha maior preocupação eram meus filhos. Aquela estupidez de Chay comigo, eu resolveria mais tarde.
Fui com Joseph até a varanda e parei ao lado de Chay. Pude notar seus músculos tensos, as mãos fechadas e o maxilar travado. Ele observava o carro com olhos estreitados, daquele jeito perigoso que fazia qualquer um tremer. Qualquer um, exceto eu... e a doida que acabava de descer do carro. O vento jogava seus cabelos no rosto e Valentina simplesmente balançou a cabeça, afastando os fios. Seu olhar parou no pai... desafiador, sem qualquer vestígio de medo. Enzo desceu logo depois, seguido por Liam e Jack.
Valentina abriu os braços, sorrindo abertamente.
– Voltei!
Falou enquanto caminhava até nós. Joseph prendeu um riso e Chay cruzou os braços em frente ao peito. Parecia um leão de chácara... todo imponente... todo gostoso e... E nada! Eu ainda estava com raiva dele. Muita. Antes que Valentina chegasse ate o pai, eu me adiantei e a abracei com força.
– Você ficou maluca? O que deu um você?
– Até parece que eu aceitaria isso tão facilmente.
– E você Enzo? Embarcou na dela?
Ele me olhou sem jeito e deu de ombros. Epa. Eu estava mesmo criticando meus filhos? Esse não era o momento dos hormônios agirem. Eu estava a favor deles!
– Ah tudo bem. Esqueçam.
Apressei-me em dizer.
– Tudo bem merda nenhuma. Você...
Chay vociferou, apontando para Valentina.
– Vá para o escritório A.GO.RA.
– Eu já sei, papai. E o Enzo?
– Enzo foi apenas um boneco na sua mão. Mas ele também terá seu momento a sós comigo. Mas você, como mentora da merda... você vem primeiro.
Valentina apenas ajeitou os cabelos e passou por nós, entrando na casa. Enzo me abraçou enquanto observávamos Jack e Liam se aproximarem. Agora o osso do maxilar de Chay tremia, como sempre acontecia quando sua raiva estava chegando ao limite.
– Chefe...
– Chefe o caralho. Chefe de vocês agora é a pistoleira mirim, não é? Recebem ordens de dois pirralhos e vem me chamar de chefe?
Jack abriu a boca, alarmando e indignado.
– Eu não cumpri ordem deles. Aquela peste me dopou.
– Hei... vê la como fala da minha filha!
Interferi, erguendo o dedo em riste e o encarando. Mas Chay bufou e balançou a cabeça, remexendo nos cabelos.
– Eu converso com vocês depois. Tenho que eliminar a líder terrorista primeiro... depois cuido dos capachos dela.
Disse e se virou, deixando o silêncio reinando entre nós. Eu queria entrar atrás dos dois, mas não interferiria naquela conversa agora.
– Se quiserem entrar... comer alguma coisa...
Falei para Jack e Liam. Eles não poderiam se afastar daqui enquanto não enfrentassem a fúria de Chay. Os dois negaram e se afastaram. Jack parecia arrasado. E já era de se esperar. Sempre se orgulhou de ser um dos melhores homens de Chay. Nunca descumpriu uma única ordem. O próprio Chay disse inúmeras vezes que se existia alguém capaz de substitui-lo, esse alguém era Jack. Isso, antes de eu entrar para os negócios, claro.
– Mãe... não acha melhor entrar também?
– As coisas estão desandando por aqui, Enzo. É melhor eu deixar seu pai pensar que está no controle.
– Como assim?
Suspirei. A minha bipolaridade regida por meus hormônios estava me enlouquecendo. Ha poucos instantes eu chorava, com medo e querendo acreditar que Chay não teria mesmo coragem de nos mandar embora. Agora eu estava aqui, decidida a manter minha família, nem que para isso precisasse tomar medidas drásticas.
Chay
Eu ainda estava sob o efeito da minha própria loucura quando ouvi o som do automóvel que se aproximava. Esqueci-me completamente de minhas palavras duras de instantes atrás. Minha raiva tinha alvo certo agora. Os verdadeiros culpados pelo meu destempero acabavam de chegar. Felizmente, chegaram a tempo de eu não revelar minha fraqueza ao Joseph. Ele acabou entrando no escritório após a saída de Mel, enfrentando-me e querendo saber o motivo do choro da mãe. Com o peito massacrado, eu revelei o que disse a Mel. Joseph não teve tempo de dizer nada, mas seu olhar me dizia tudo. E se havia uma coisa que eu odiava ver no olhar da minha família era isso: decepção.
Mas ele precisavam me entender. Eu estava nervoso, porra! E isso piorou com a chegada dos delinquentes. Sai apressadamente do escritório, percebendo Joseph em meu encalço. Ao chegar a sala, notei que Mel descia a escada, mas não lhe dei muita atenção. Mel sempre seria meu ponto fraco e olhar para ela agora só faria com que eu voltasse atrás. Lógico que eu só a mandei embora de casa num momento de total descontrole. Não era o maldito Chay apaixonado que tinha dito aquilo. Foi o bendito cavalo mafioso que ainda tinha um pouco sanidade. Mas agora eu via que agi certo. Era um modo de deixá-los protegidos. Ainda que longe de mim, eu garantiria toda a segurança deles.
Parei na varanda e Mel parou ao meu lado. Novamente evitei seu olhar. E nem foi por querer. Toda minha atenção, minha ira estavam voltadas para a destrambelhada da Valentina. Desceu jogando os cabelos, exalando... poder. Inferno. Era o xerox do demônio, ou seja, Mel. No fundo, eu senti um puta orgulho. Duas mulheres poderosas... e eram minhas. Mas o que eu estou pensando? Que maluquice era essa? Desde quando Valentina era uma mulher poderosa? Era um bebê chorão isso sim. Minha bebê.
E Enzo...meu pequeno gênio. Será que ele conseguiria produzir alguns explosivos legais para usarmos numa briga? Travei meu maxilar, sentindo raiva de mim mesmo.
Que merda estava acontecendo? Então era isso? Mel engravidava, esbanjava hormônios... e eu ficava bipolar e maluco? Eu tinha que reverter esse breve momento de demência.
Impossível não me lembrar de quando conheci Mel, no momento em que Valentina passou por mim em direção ao escritório. Foi justamente esse atrevimento, essa petulância em Mel que me atraiu. Mas não poderia me perder em pensamentos sentimentaloides agora. A saída foi direcionar minha raiva para os dois frouxos, Jack e Liam. Mas no fundo eu sabia que eles não tinham culpa. Não totalmente. Valentina era o cão e com certeza fez tudo muito bem-feito.
Antes de me afastar indo atrás dela, eu dei um olhar quase imperceptível na direção de Mel. Apostava todas as minhas fichas que Mel estaria la em cinco minutos, querendo se intrometer na conversa.
Entrei e fechei a porta, deixando-a bater, mas Valentina nem se abalou. Continuou sentada, muito interessada em suas unhas. Dei a volta por trás da poltrona onde estava e parei a frente dela. Com as mãos na cintura, eu a encarei, estreitando meu olhar. A bandida apenas deu um sorriso tímido, completamente dissimulado.
– Eu já estava com saudade, papai.
Estreitei ainda mais o meu olhar. Atriz. Merecedora de Oscar.
– Pode parar com a palhaçada. Desembucha.
– Nossa... o que?
– Como o que? Que merda você fez naquele jatinho? Enganar o idiota do Liam eu entendo, afinal ele anda se esfregando em você, feito o vadio que é. Mas o Jack... o Jacob? Meu melhor homem? Ande... pode começar a falar.
Ela se empertigou ainda mais, jogando aquele monte de fio selvagem para trás.
– Muito bem. Foi assim...
Lembranças – Por Valentina
Estava sentindo uma raiva tão grande do meu pai! Sério! Como ele podia ser tão cabeçudo? E como minha mãe ainda conseguia se derreter com seus coices? Serei sincera... eu entendo como ela aguenta. Ela o ama. Assim como eu amo aquele cabeçudo. Mas custa nos ouvir um pouco? Pelo jeito sim, pois agiu como um ditador, impondo suas vontades e nem ao menos ouvindo minha mãe. A coisa estava feia. De uns tempos pra cá, ele sempre a ouvia. Mas eu sou uma mistura perfeita dos dois. E não desistiria fácil. Quando ele chegou, cheio de marra, obrigando-nos a partir, eu fiz a famosa cena. Subi para o meu quarto, batendo os pés. Mas não fui exatamente para o meu quarto. Fui para o quarto dos meus pais. Corri até o armário do banheiro, onde eu sabia que minha mãe guardava alguns medicamentos. Somente quando precisava mesmo descansar, ela fazia uso de algum remédio para dormir. E era disso que eu precisava agora. Peguei logo dois vidros, embora soubesse que só um seria suficiente.
Sai dali rapidamente e fui para o meu quarto, guardando-o junto com minhas roupas. Pouco depois ouvi a porta do quarto do Enzo bater e fui até la.
– Precisamos fazer alguma coisa.
Falei assim que entrei. Ele me olhou, sem entender.
– O que? Viu como nosso pai está. Não há a mínima chance.
– Não seja frouxo. Eu já tenho algumas ideias.
– Val... não vamos provocar a ira do nosso pai, ok?
Eu tinha acabado de me sentar e fiquei de pé, olhando-o indignada.
– Vai desistir assim? Sem lutar?
– Você sabe que nossa mãe é que sofrerá. E no estado dela...
Bufei. Tínhamos acabado de descobrir que a família teria novo membro. Que péssima hora para minha mãe engravidar! Mas enfim... esperava que fosse mais uma menina, pelo menos.
– Nossa mãe é forte. Muito mais do que imaginamos. A não ser que esteja com medo.
– Está me chamando de maricas?
Apenas dei um sorriso debochado. As vezes ele era mesmo. Bem parecido com o tio Jasper. Mas resolvi não me expressar em palavras ou ele poderia se aborrecer.
– Claro que não. Mas escute... temos que ser rápidos.
Contei rapidamente o plano a ele. Coisa simples, mas que daria certo. Depois disso, fui para o meu quarto pegar minha mala. E ele pegaria algumas coisas em seu "laboratório".
Foi ruim me despedir da minha mãe. Ela estava mais sensível por causa da gravidez. Mas nem olhei na direção do meu pai. Não por raiva. Eu estava chateada, não com raiva. Mas evitei seu olhar por um único motivo. Embora ele dissesse que eu puxei tudo da minha mãe, ele sabia que eu sou muito parecida com ele. E portanto... perceberia que eu estava aprontando alguma.
Entramos no jatinho e eu me sentei, ajeitando o cinto. Jack deu um sorrisinho sarcástico.
– Terá trabalho com a namoradinha hoje, Liam.
– Pare de latir, cãozinho adestrado do Berllucci.
Tirei o sorriso daquele rosto bonito, mas irritante. Liam só me olhava, quase implorando para que eu conversasse com ele. Também não sentia raiva, afinal ele apenas cumpria ordem. Mas fazia parte do meu plano, então... o ignorei.
– Precisam entender que o pai de você é macaco velho nesse assunto. Você, Enzo, que tem mais juízo que a Valentina... procure entender os motivos dele.
– Argh...
Eu me levantei, cansada daquele papinho do Jacob.
– Onde pensa que vai?
– Pegar um livro para ler. Ou isso também é proibido?
Jack bufou, mas não tentou me impedir. Entrei no quarto, peguei o livro, mas peguei também o sonífero, colocando-o dentro da blusa. Voltei com minha carinha inocente e me sentei, abrindo o livro. Teria que ter paciência. Esperar o momento em que Jack saísse para pegar a garrafa dele. É... ele tinha essa hábito estúpido de só beber algo de sua garrafa. Os outros dois seguranças estavam na pequena sala que meu pai utilizava para monitorar alguma coisa. Creio que esses dariam menos trabalho que Jack.
Liam, por fim, desistiu de chamar minha atenção. Fechou os olhos e se recostou na poltrona. Jack revezava olhares. Observava Enzo, depois me encarava. Eu, óbvio, fingia não perceber, entretida na leitura.
– O que tem de tão interessante nesse livro, Val?
Enzo perguntou e veio se sentar ao meu lado. Liam ergueu a cabeça, olhou para nós dois e depois voltou a fechar os olhos.
E finalmente o momento esperado. Jacob se levantou para usar o banheiro. Tínhamos pouco tempo. Rapidamente passei o frasco para Enzo. Enquanto ele ia até a poltrona do Jaques pegar a garrafa, eu me levantei, ajoelhando-me a frente de Liam. Espalmei minhas mãos na coxa dele, e mordi meus lábios, num gesto herdado de minha mãe. Lembrei de nossa cachorra ...isso me faria chorar. Imediatamente meus olhos ficaram úmidos.
Ele me encarava, um pouco torturado.
– Pode me desculpar? Por favor?
– Eu não tenho culpa. Sabe que só estou cumprindo ordens.
– Eu sei. Eu fiquei nervosa com a truculência do meu pai. E também porque ficaremos separados por um tempo.
– Eu também pensei nisso.
Passou a mão em meu rosto e eu fechei os olhos.
– Podemos namorar um pouco depois? Sentirei sua falta. Ou meu pai proibiu isso também?
Eu sabia que mesmo odiando meu relacionamento com Liam, ele estava focado em minha segurança. Nem se importaria se déssemos uns amassos, desde que eu ficasse longe de casa.
– Ele não disse nada.
– Ótimo.
Deitei a cabeça na perna dele, vendo Enzo voltar para o lugar. Era um medroso mesmo. Seu rosto estava vermelho, e para disfarçar, pegou meu livro.
Segundos depois Jack voltou e se sentou, olhando para Enzo.
– O que tem nesse livro? Está envergonhado?
Falou e riu alto. Jacob era um palhaço.
– Não é da sua conta, cão.
Ele latiu pra mim e acabei rindo. Voltei para meu lugar, após ser repreendida por ele. Estava aflita para vê-lo pegando aquela garrafa. Meu pensamento era tão forte que logo ele levou a mão à pequena garrafa prateada.
– Bebendo em serviço? Meu pai ficará furioso.
– Ele sabe que dou apenas uma bebericada. E aliás, ele mesmo me disse que eu precisaria de doses extras para aturar vocês.
Levou a garrafa à boca e franziu a testa. Merda. So faltava notar o gosto um pouco diferente. Mas ele nada disse. Bebeu mais um pouco e guardou a garrafa.
– Vamos jogar xadrez, Jack? Acho que meu pai tem um aqui, não tem?
– Eu? Jogando com o pequeno gênio?
– Com medo?
Eu perguntei, instigando-o. Depois pisquei para Enzo. Ele era fera no xadrez e deixaria Jack entretido até pegar no sono.
– Enquanto jogam, vou namorar um pouco.
– Mas não mesmo!
Enzo esbravejou, e ao perceber que ele falava sério, eu quis avançar nele. Fixei bem meus olhos nele, até o lerdo perceber o que eu faria. Como ele imaginou que eu anularia Liam?
– Val... nosso pai...
– Ele não proibiu, não é Jack?
Perguntei e ele assentiu. Estendi a mão para Liam e seguimos para o quarto. Eu estava me sentindo péssima por fazer isso com ele. Mas não havia outro jeito. Eu me deitei na cama e fiz um sinal para que ele se aproximasse. Imediatamente ele se deitou ao meu lado, beijando-me apaixonadamente. Eu correspondi, é claro. Afinal, sabia que ele nem poderia me olhar assim que voltássemos. Esse seria o castigo do todo poderoso.
– Hum... isso está me incomodando.
Apontei para a arma em sua cintura, enquanto mordiscava seus lábios e arranhava seu peito, através da camisa já aberta. Eu sabia que não poderia passar dos limites. Gostava do Liam e dos amassos que trocávamos, mas tenho plena consciência que tenho apenas dezesseis anos. É cedo para sexo com alguém que nem sei se é amor de verdade ou simples paixão. Mas que aquela situação me excitava... ah...
Liam parecia tão excitado quanto eu. Aliás, ele estava... eu sentia, obviamente. Rapidamente ele tirou a arma, colocando-a ao lado da estreita cama. Aproveitei e girei na cama ficando sobre ele. Voltei a beijá-lo, beijando também seu peito, até ouvi-lo implorar para que eu parasse. E eu... simplesmente parei, mas pegando a arma, e com muita agilidade, coloquei-me de pé. Ele arregalou os olhos e se sentou, mas...
– Parado ai... eu juro que qualquer tentativa sua... eu atirarei. E eu posso me ferir... e se isso acontecer, o todo poderoso acaba com você.
Ele engoliu seco e eu quase me arrependi ao ver a tristeza em seus olhos.
– Era... era tudo fingimento?
– Não... não era. Eu só unir o agradável ao extremamente necessário.
– Valentina...
– Se você gosta mesmo de mim, não tente me impedir, por favor.
Ele baixou a cabeça, balançando-a, desconsolado.
– Chay vai me matar.
– Eu jamais direi que você colaborou. Eu juro.
– Tudo bem. O que quer que eu faça?
– Apenas fique quietinho, por enquanto. Eu quero ver o Jack. E depois teremos que dar um jeito nos outros dois seguranças.
Derrotado, ele apenas assentiu. Quando sai do quarto, Enzo já amarrava Jacob. Caramba... tão rápido? Parecendo adivinhar meus pensamentos, Enzo ergueu o frasco. Arregalei meus olhos. Estava praticamente vazio.
– Você é louco? Ele pode morrer, caralho.
– Agora é tarde.
– Deus... bom, já está feito. Agora você tem que chamar um dos seguranças. Diga a ele que o Jaques está chamando. Mas espere até eu voltar ao quarto.
E assim fizemos. Quando um dos seguranças saiu, Liam o neutralizou. Cuidar do outro foi fácil, já que agora éramos três contra um. Quando percebeu que o companheiro não voltava, Max saiu da salinha... e assim como Vitorio, foi neutralizado por Liam com o famoso lenço embebido em éter.
– Eu... eu preciso prender você, Liam. Só para o caso de...
– Eu já sei.
Ele se sentou na poltrona, evitando me olhar. Usando as cordas que Enzo, inteligentemente trouxe antes de sairmos de casa, eu o amarrei, fazendo o famoso nó que minha mãe ensinou.
– Muito bem, Enzo. Confesso que nem pensei em algo para amarrá-los.
– Você não é a única esperta da casa, Val.
– Eu sou a esperta, você é o gênio.
Batemos as mãos e seguimos até a cabine do piloto. Eu usava a arma do Liam e Enzo empunhava a do Jack. Essa seria a parte mais fácil. O piloto era um borra botas, como diria meu pai. Ficaria dividido entre o medo de fazermos essa merda cair e o medo de ser arrebentado pelas mãos do meu pai. O fato é que conseguimos... mal saímos de casa e já estávamos voltando.
Fim - Lembranças
– Bonito! Tudo isso pra que, hã? Pra mostrar a grande desmiolada que é? Ou melhor, os dois são. Enzo me decepcionou e muito. Inferno... só conseguiram piorar mais a situação. Agora além de vocês, sua mãe também irá. Eu os quero fora daqui.
Ela se levantou no mesmo instante. Deveria achar que eu enlouqueci de vez.
– Pirou? Está dizendo que expulsou minha mãe?
Eu não respondi, mas aquele ossinho que eu percebia latejando em minha mandíbula dizia tudo. E ela não se segurou, mesmo sabendo que estava extrapolando, desrespeitando-me.
– Ficou maluco? Ou emburreceu? Vai ficar longe da minha mãe por causa de... capricho? Por usar uma viseira que não o deixa ver o óbvio?
– Valentina!
Eu berrei, mas ela fingiu não ouvir.
– Não vê que vão definhar longe um do outro? Não percebe que juntos são fortes demais? Meu Deus, pai... que segurança é essa que pretende? Esqueceu que foi baleado bem aqui, em nosso jardim? Minha mãe me contou o desespero dela, pai. Tudo o que sofreu. Como tem coragem de fazer isso com ela agora? Está ficando tão caduco quanto meu avô?
Eu me arrependi do meu ato no exato instante em que minha mão tocou a face de Valentina. Levei uma das mãos à cabeça e fechei meus olhos, mas não deixando de ver as lágrimas que escorreram pelo seu rosto. Se fosse qualquer garota de sua idade, teria colocado a mão no rosto e corrido dali, buscando consolo nos braços da mãe. Mas aquela era Valentina, cópia exata de Mel. Ela se levantou do sofá onde caiu e veio até mim, parando à minha frente.
– Eu já esperava por isso. Ja perdeu o controle até com minha mãe, não é? E sei que agora deve estar pensando que eu o odeio. Mas a resposta é não. E deve também estar suspirando aliviado, pensando que essa atitude fez com que eu desistisse do meu propósito. Sinto muito, papai, mas a resposta também é não.
Estreitei meus olhos. A culpa já não existia em mim. Ela realmente mereceu.
– Eu sabia que não deveríamos mimá-la tanto.
– Mimada? Pense bem no que está falando, pai. Eu nunca fui mimada. Tanto eu quanto Enzo sempre tivemos que fazer nossa parte para ganhar qualquer coisa. Nunca tivemos nada de mão beijada. Aprendemos a arrumar nossas coisas, a estudar, tirar boas notas. Ou era isso ou nada de regalias. Isso é ser mimado?
Continuei parado, mas ela me pegou de surpresa, abraçando-me pela cintura.
– Paizinho... eu entendo sua aflição. Mas não somos inconsequentes, pai. Somos uma família, não poderemos destruir isso como o vovô fez. Você sempre foi meu ídolo, meu herói, meu exemplo... mas, olhe só o que está fazendo! A mamãe provavelmente foi arrumar as malas. É isso o que quer? Ver seus filhos crescendo longe de você? E pior... linda do jeito que é, não passará uma semana e haverá uma fila de homens em nossa porta.
Eu a afastei bruscamente, sentindo a adrenalina e a raiva percorrerem minhas veias. Sem dizer nada, eu me afastei de Valentina, caminhando pesadamente até a porta. Assim que a abri com violência, vi Mel parada, prestes a abrir a porta. Nossos olhares se encontraram. Raiva, rancor, mágoa, medo, paixão...
Mas antes que eu dissesse alguma coisa, pela segunda vez no dia ela apontou o dedo em meu peito.
– Eu não sairei daqui. Não mesmo. Repito um milhão de vezes que nunca fui mulher de fugir de merda nenhuma. Se você se cansou de mim, seja homem para dizer em minha cara. E se nos quer mesmo fora da sua vida... que saia você então. Nós não sairemos.
Maluca. Completamente louca se acreditava mesmo que eu a deixaria partir. Claro que, aquelas palavras de Valentina foram como um soco em meu estômago. Logo eu me imaginei sem ela, a casa vazia... e algum desocupado e sem amor à vida atrás dela. Quase trinquei meus dentes enquanto dava dois passos e a segurava pelos braços.
– Pai..
Joseph e Enzo que estavam logo atrás disseram juntos, mas eu os coloquei em seus devidos lugares.
– Quietos! Meu assunto agora é com essa...
Não terminei de falar. Girei com ela, empurrando-a para o escritório e prensando seu corpo contra a parede ao lado da porta. Busquei sua boca feito um desesperado, agarrando seus cabelos. Ela retribuiu, para meu alívio, puxando-me para ela e gemendo contra minha boca.
Mas do nada... assim... de repente, ela me empurrou, olhando furiosa pra mim.
– Dessa vez não será como você pensa, Chay. Você me magoa, me deixa em frangalhos e depois resolvemos tudo na cama? Não.
Fiquei estático. Que porra era aquela agora? Percebi que estávamos sozinhos. De alguma forma Valentina saiu sem ser notada.
– Que maluquice é essa agora? Eu amo você... não sairão da minha vida. Nenhum de vocês.
Ela cruzou os braços em frente ao peito.
– Ja viu do que seus filhos são capazes, não é? Eles estão dentro ou não?
Eu não tinha mais para onde fugir. A valentia, perseverança e união que eles demonstraram me pegaram de calças curtas. E ainda veio Valentina com aquelas palavras.
– Conversaremos. Todos nós. Agora.
Ela arqueou a sobrancelha e perdi a paciência. Diabo de mulher tinhosa.
– Inferno, Mel. Eles estão dentro. Agora diga que me perdoa.
– Não digo, pois não perdoo. Não sairemos daqui, mas não muda o fato de ter me mandado embora. Por ora... estamos em quartos separados.
– O QUE? Mel... vamos parar com a palhaçada.
– Eu repito... temos arestas a aparar. Nem tudo se resolve com sexo. Dessa vez será diferente. Chamarei nossos filhos e conversaremos. Trate-os como adultos. Eles já provaram o que são.
Ela nem esperou que eu respondesse e saiu, chamando-os. Vi um a um passar pela porta, cada um com um brilho no olhar. Estavam se divertindo, os delinquentes. E por fim, ela fechou a porta. Encarou-me toda poderosa. Ela tinha noção do quanto me excitava quando encarnava a primeira-dama do submundo? Sabia... claro que sabia. E sabia também, que eu estava mais uma vez em suas mãos. E eu odiava isso.