sábado, 14 de novembro de 2015

CANCELADA 2° TEMPORADA


Fanfic maravilhosa, que infelizmente a segunda temporada foi cancelada.
Obrigada a todas pelo carinho de me acompanhar até aqui♥


Você pode ler também:

MAD TEMPTATION (FINALIZADA)
WEB CHAMEL (1° E 2° TEMPORADA FINALIZADA)
ESCRAVA SEXUAL (1° E 2° TEMPORADA FINALIZADA)
JOGO DE SENTIMENTOS (1° E 2° TEMPORADA CANCELADA)

(Em algumas semana pretendo começar uma nova Fanfic)
Abraços!

domingo, 18 de outubro de 2015

FANFIC - "O PODEROSO SUEDE" - CAPÍTULO 11- 2° TEMP.


Mel

Todos reunidos no escritório. Era até divertido ver como somente agora, nossos filhos pareciam tão comportados. Eu sabia que a pouca paciência de Chay estava sendo exaustivamente testada. E sabia também que estávamos pisando em terreno perigoso. Mas acima disso tudo, eu tinha total certeza que Chay não faria nada para se arrepender depois. Até tentou... quando quis me expulsar de casa. É... acho que eu jamais me esqueceria disso. Ainda estava furiosa com ele, mas, ao mesmo tempo, queria deitar em nossa cama e acariciar os cabelos dele, como sempre fazia quando queria acalmá-lo. Vez ou outra ele direcionava os olhos para mim, mas eu fingia não ver. Conhecia muito bem o poder de sedução do meu marido, e conhecia ainda mais minha rendição. Se ele continuasse me olhando daquele jeito, provavelmente estaríamos nus aqui mesmo no escritório. Seria muito bom se meus hormônios não cismassem de agir agora. Lembro-me perfeitamente bem de como fiquei quando engravidei de Valentina e Enzo.
Joseph pigarreou e voltei ao presente. Chay estava sentado na ponta da mesa, olhando fixamente para os filhos. Deus... como ele estava lindo.
– Ficaremos o resto do dia assim? Olhando para a cara um do outro sem dizer nada?
Chay estreitou os olhos, encarando Valentina.
– Vocês todos tem noção do quanto isso é difícil pra mim?
– Não comece, pai. Você prometeu e nunca volta atrás.
– Será que não?
Ele falou, olhando diretamente pra mim. Entendi muito bem o que ele quis dizer, mas continuei em silêncio. Por fim, ele bufou e se colocou de pé, colocando as duas mãos no bolso. Deu alguns passos, de cabeça baixa, depois deixou a cabeça pender um pouco para trás.
– Eu sei que nada do que eu disser ou fizer mudará a decisão de vocês. Eu só quero que... eu peço, aliás eu exijo que..
Ele fechou os olhos brevemente e eu quase pude sentir a angústia dele.
– Não se empolguem. Não tentem agir pela cabeça de vocês, achando que estão num parque de diversões. Isso é sério e pode ficar ainda pior. Sei que vocês tem a mente muito mais avançada do que muitos na idade de vocês. Está certo... eu duvidei disso. Aliás, não duvidei. Era minha arma, minha defesa. Entendam que, se eu era protetor, ficarei ainda pior porque vocês agora estarão diretamente na linha de tiro.
Afastou-se um pouco e passou a mão pelos cabelos. Ninguém ousava falar nada. Ele precisava desabafar.
– Nossa família já perdeu demais. Eu não posso nem sonhar em passar por isso novamente. Eu quero vocês seguros, vivos. Porra... quero ver vocês ao meu lado quando eu estiver pronto para deixar essa vida.
Eu arfei ao ouvir aquelas palavras. Era quase impossível imaginar meu poderoso... morto. Era absurdamente ridículo, eu sei, afinal ele não é imortal. Mas eu não conseguia visualizar essa cena. Ele deu um sorriso de lado, olhando diretamente pra mim.
– Quando eu estiver com uns cem anos, é claro.
Eu rolei meus olhos e não me permiti suspirar quando ele piscou para mim.
– E como ficaremos?
Enzo perguntou com evidente ansiedade. Até então eu tinha imaginado que a maior interessada nas atividades era Valentina. Enzo e Joseph apenas seguiram a mente maligna dela. Mas agora via como estava enganada. Todos eles estavam bem interessados em assumirem mesmo, um lugar ao meu lado e de Chay.
– É lógico que começarão nas coisas mais simples. Ainda não perdi completamente o juízo. Quando houver algo mais... perigoso, vocês ficarão em casa. Estamos entendidos? Disso eu não abrirei mão jamais.
Chay fixou o olhar por um tempo em cada um dos filhos. Dessa vez ele não me olhou, mas eu sabia que ele aguardava por um pronunciamento meu.
– Eu também não abro mão disso. Eu apoiei vocês e o mínimo que espero é um pouco de senso de responsabilidade. Eu só... consegui ser o que sou hoje porque ouvi os conselhos do pai de vocês. Ele esteve ao meu lado, ajudando-me em tudo. Eu espero que entendam isso e ajam de acordo com o que dissermos.
Eu sentia o olhar de Chay sobre mim. E sabia exatamente o que ele estava pensando. Somos parte um do outro. As coisas só funcionaram porque confiamos e acreditamos no potencial um do outro. Temos pleno entendimento que só somos fortes porque somos unidos. Aquela ideia absurda de separação nada mais foi que o auge do desespero. Eu entendia isso. Mas se eu não desse uma dura em Chay, ele continuaria com a ideia ridícula de nos afastarmos.
– Estamos de acordo. É como já dissemos, pai. Só queremos ajudar... somar. Não queremos trazer mais problemas.
Esse foi o Joseph. Sempre centrado. Sempre com as palavras certas, na hora certa. Eu consegui ver um brilho orgulhoso nos olhos de Chay. Por mais que tivesse brigado, agido com tirania, ele sentia orgulho dos nossos filhos. Não havia dúvida alguma.
– Bom... e como ficaremos? Como será feita a divisão? Ou não pensou nisso ainda?
– Ja pensei, Valentina.
Novamente ele se sentou na beirada da mesa, apoiando um dos braços na perna. Eu evitei olhar para ele, óbvio. Chay conseguia ser sexy usando cueca e meia... imagine naquela pose?
– Joseph ficará com Jack e Liam.Você bem sabe que Jaques é meu melhor homem, apesar dos últimos acontecimentos. Será um aprendizado e tanto ficar ao lado dele.
Joseph assentiu, e a julgar pela sua expressão, estava bem satisfeito com o que lhe foi oferecido.
– Enzo, você fica com sua mãe. Sei que...você não gosta muito disso e só está entrando para ajudar a família. Sua mãe... é incrível no que faz e tenho certeza que pegará gosto pela coisa só por acompanhá-la.
Mordi meus lábios com força. Ele queria me desestabilizar. Eu sabia disso.
Enzo sorriu abertamente pra mim e retribui.Ele estava fazendo exatamente da forma que imaginei. E da forma que eu mesma faria se estivesse no comando.
– Isso quer dizer que ficarei com você, pai? Seremos a dupla dinâmica?
Valentina perguntou com um sorriso de orelha a orelha, fazendo Chay revirar os olhos.
– É óbvio. Você precisa de alguém que não passará a mão em sua cabeça.
Dessa vez eu o encarei. Era a porra de uma indireta pra mim? Eu não passava a mão na cabeça de Valentina. So a defendia quando achava que o pai estava sendo carrasco demais. Talvez, percebendo a raiva em meu olhar, Valentina se levantou e foi até ele. Abraçou-o pela cintura e colocou a cabeça em seu peito.
– Não fique tão armado, pai. Eu juro que não aprontarei nada. So estou feliz em trabalhar ao seu lado. Vocês dois são meus ídolos, sabem disso. Amo vocês demais.
Chay ficou momentaneamente sem ação. Mas depois, abraçou Valentina e beijou os cabelos dela.
– Eu também amo vocês demais. Mas por favor...
– Eu não decepcionarei vocês. É uma promessa.
Joseph e Enzo se levantaram e também se aproximaram do pai. Enzo esticou a mão para mim e me puxou para mais perto. Fizemos uma roda bem apertada...nós cinco.
– Nossa família é o que temos de mais importante. Não perderemos isso.
Joseph falou olhando para nós dois. Chay colocou o braço sobre meu ombro e um tremor percorreu meu corpo. Sinceramente... eu já não sabia se conseguiria levar esse castigo adiante.
– Quando começaremos?
– Amanhã. Portanto... já sabem que às cinco já deverão estar prontos para sair.
– E quando voltarem as aulas?
– Conciliaremos isso.
Nossos filhos tentavam controlar a euforia, mas parecia impossível. E eu tentava controlar o tremor em meu corpo. Os dedos longos de Chay acariciavam meu ombro e eu quase desfalecia diante de seu toque.
– Vocês já podem ir. Eu ainda preciso conversar com o Jack e o Liam.
– Obrigado pela confiança, pai. É importante pra nós.
Enzo falou e Chay sorriu, bagunçando os cabelos dele. Valentina o abraçou novamente, assim como Joseph. E quando eu tentei me afastar junto com meus filhos, Chay me segurou.
– Precisamos conversar... a sós.
Fiz força e me soltei.
– Eu sei. Aguardarei enquanto conversa com Jack e Liam.
Eu me afastei antes que ele dissesse mais alguma coisa. Passei pelos meus filhos na sala, subindo diretamente para o meu quarto. Eu adorava estar grávida. A única coisa que me irritava era essa rebelião de hormônios indecisos. Eu queria manter a calma e serenidade de sempre. A mesma capacidade de tomar decisões acertadas, sem me matar para chegar a uma conclusão do certo e errado. Entretanto, nesse momento, eu estava completamente indecisa. Diria até mesmo insegura. Lembrar-me do olhar perdido e quase implorativo de Chay me deixou sem rumo. Fez com que eu pensasse que minha atitude era tremendamente infantil. De certa forma era, afinal, eu entendia o motivo por trás daquelas palavras. No entanto, meu peito doía de forma absurda toda vez que me lembrava dele e de suas palavras, mandando-me embora dali. Mais de dezesseis anos juntos e ele nunca, nem de brincadeira, nem na hora da raiva havia me dito aquilo.
Suspirando, levantei-me e fui até o closet, separando algumas roupas dele. Nesse momento, mais do que nunca precisávamos de nossa confiança, cumplicidade. Ambos precisávamos sentir na pele como seria um sem o outro.
Estava acabando de dobrar as roupas sobre a cama quando ele entrou. Seu olhar incrédulo parou exatamente sobre a pilha de roupas.
– Mel... vamos parar, ok? Eu já pedi desculpas, já acertamos tudo.
– Mas eu ainda estou magoada, está bem?
– Eu falei da boca pra fora, porra.
Perdeu a paciência, bagunçando os cabelos.
–Você me queria fora da nossa casa, Chay. Ficaria sem sexo do mesmo jeito.
– Eu não estou falando de sexo... apenas de sexo.
– É lógico que está. Se não fosse isso, qual o motivo da irritação? Ainda estaremos sob o mesmo teto.
Meu corpo foi puxado de repente, chocando-se contra a muralha de músculos que era o peito de Chay. Seu olhar ardente quase perfurava o meu e eu podia sentir claramente toda sua irritação.
– Eu só quero poder me deitar todos os dias ao lado da minha esposa, contar a ela sobre minhas preocupações... essas coisas que fazemos desde sempre.
– E é claro... terminamos a noite com você extravasando seu estresse dentro de mim.
– Que eu saiba você nunca reclamou. E o sexo que rolava em seguida... era apenas consequência do que somos juntos, Mel.
Ele me empurrou com força desnecessária e cambaleei para trás, assustada com seu repentino ataque.
– Quer saber? Eu cansei. Ja não me lembro mais como é cuidar de bebezinhos e você está parecendo um.
Ele avançou até a porta, mas parou novamente antes de sair.
– Não reclame quando eu resolver extravasar meu estresse dentro de uma vadia qualquer.
Saiu e bateu a porta com tanta força que senti o lustre tremer. Eu sabia que ele nunca faria isso. Chay não era o tipo de homem que traía. Apostava muito mais em uma pegada a força comigo do que procurar outra mulher.
Mas eu não pude evitar uma pontada no peito quando, poucos minutos depois, eu ouvi o ronco do motor do carro. Corri até a varanda, a tempo de vê-lo acelerando para fora de nossa propriedade.
Chay
Eu esmurrava o volante com toda minha ira. Aquela situação absurda começava a me irritar profundamente. O que Mel estava pensando da vida hein? Então era assim? Uma briguinha e já dormíamos em quartos separados? Que porra era aquela? Ok... eu dava um desconto somente porque sabia do seu estado. Aquela confusão de hormônios a deixava louca, era fato.
Mas será que no meio daquilo tudo, ela não conseguia perceber que eu jamais me imaginaria sem ela ao meu lado? Eu? Separar-me dela? Estava louca. Ou andava lendo algum romance piegas escondido de mim? Verificaria isso. Com certeza estava mais sensível e abusava da leitura dessas novelinhas sem sentido, onde o casal se separa por motivos estúpidos. Ridículo. Desentendimentos todo casal tem. Mas chegar a separação... era coisa para os fracos, e não para um casal como nós.
Mas tudo bem... inspirei e tentei não fazer besteira. Queria só ver quantos dois dias ela suportaria aquela situação. Enquanto isso, eu me enfiaria no trabalho.
A conversa de mais cedo não me abalava mais. Não era homem de voltar atrás e o que foi feito foi com total certeza. Meus filhos, meus bebês agora estavam definitivamente dentro da máfia. Eu até ri com esse pensamento. E desde quando estiveram fora? Estavam dentro desde quando os coloquei na barriga daquela... gostosa.
Engraçado é que depois daquela conversa... eu não tinha mais medo. Minha maior preocupação era o deslumbramento que poderiam ter. Algo meio adolescente, do tipo... quererem se mostrar poderosos diante dos amigos. Mas eu vi que ali não era uma questão de ego... era amor a família. E isso era algo que Mel e eu vínhamos demonstrando há anos. Como eles poderiam ser diferentes se cresceram vendo nossa dedicação à família?
Além do mais, eles seriam treinados pelos melhores. Isso bastava. Minha conversa com Liam e Jack girou basicamente nisso. Nem mesmo toquei no assunto "Valentina e suas peripécias". Sabia que por trás daquela fachada de anjo havia um demônio. Eles não tiveram culpa, definitivamente. Jack era precavido demais, tanto que só bebia diretamente de sua garrafa. Quem imaginaria que os loucos fossem dopá-lo usando sua própria bebida? Nem eu sonharia isso! E Liam porque era um estúpido apaixonado, que aliás... eu ainda sentia vontade de cortar as bolas.
Rodei um pouco pela cidade, mas algo estranho estava acontecendo. Algo me puxava em direção aquele puteiro barato. NÃO! Definitivamente eu não estava a procura de sexo. Sou homem o suficiente para não precisar me enfiar em qualquer buraco para aliviar minhas necessidades. Às vezes eu tinha medo desses apitos que meu cérebro dava, quase me gritando com todas as letras que alguma merda estava para acontecer. E foi pensando nisso que adentrei aquele lugar, procurando um canto bem mais afastado de tudo. Eu não queria que aquela puta descarada me visse ali. Certamente correria para contar ao desmiolado do meu pai. Apesar do que, isso nem era garantia de nada. Ela saberia que eu estive aqui.
Bastou eu me sentar para que uma morena peituda se aproximasse, sentando-se sem pedir licença.
– Senhor Suede... é um prazer tê-lo aqui.
A princípio não respondi, ocupado em acender meu charuto e tragá-lo logo em seguida. A mulher ao meu lado era realmente belíssima... mas tão vulgar quanto. E se havia uma coisa capaz de me enojar e deixar meu pau morto... era vulgaridade.
– Não direi igualmente, pois mentira com certeza não é meu ponto forte.
Ela arfou, mas não se intimidou. Ajeitou seu decote e cruzou as pernas.
– Aceita uma bebida?
– Não. So quero... relaxar.
Ela abriu um sorriso cheio de dentes, já modificando completamente o sentido de minhas palavras. Ignorei e deixei meu olhar vagar pelo amplo salão. Aquela sensação de algo estranho continuava me cutucando. E não demorou muito para que eu tivesse a comprovação de que, mais uma vez, meu sexto sentido estava certo.
Estreitei meus olhos, pensando se não estava sonhando. So isso justificava o que via agora. Realmente eu não conseguia acreditar. Aliás... eu conseguia sim. Alguns seres humanos são burros o bastante para tomarem tal atitude. Na verdade, eu não queria acreditar, era diferente.
De onde estava, eu não era visto, mas presenciava a cena com toda nitidez. Traguei meu charuto, deixando a fumaça preencher meu organismo para depois soprá-la lentamente, ainda com o olhar sobre o quarteto. Pela minha visão periférica, percebia claramente a vadia ao meu lado esfregando uma perna na outra. Coitadas dessas mulheres. Ainda não aprenderam que precisariam de muito mais que um par de coxas, seios e bunda para arrastar o poderoso para cama. Esse "muito mais" só uma mulher no mundo tinha. Ela ainda não percebeu que não mexia um décimo com minha libido?
Passei a mão no cabelo, irritado com aquela putaria toda. Meu Deus... como podem existir homens tão burros? Que merda eles tinham na cabeça? Não aguentando mais aquela situação, eu me levantei, fazendo a vadia suspirar.
– Vamos subir?
Ela perguntou e eu a olhei de cima a baixo, parando em seu olhar, sem qualquer emoção. Ela se encolheu. Palavras não seriam necessárias. Afastei-me e fui em direção aos dois crápulas que se agarravam com aquelas vagabundas. Parei a frente deles, observando-os sem emoção.
– Chay! O que...
Eu o silenciei apenas com o olhar.
– Se algum dia eu tive respeito por vocês... isso acabou agora. Espero sinceramente que esqueçam todas as pessoas que estão sob a minha proteção.
Afastei-me dali sem lhes dar tempo para resposta. Era assim que o clã Smith chegaria ao fim? Não bastava Carlisle Cullen. Agora Emmet e Jasper se atracavam com qualquer vagabunda de um puteiro de quinta. Não consigo imaginar como Rosalie e Alice reagiriam a isso.
Merda! E pensar que eu chegaria em casa e nem teria minha esposa para ouvir meu relato. Tudo bem que ela estaria la, sempre para me ouvir. Mas eu não a procuraria agora. Com certeza pensaria que eu queria sexo após isso. E por incrível que pareça, nesse exato momento, sexo nem me passava pela cabeça. Principalmente depois de ter saído daquele ambiente.
Meu celular tocou várias vezes enquanto dirigia de volta pra casa. Jasper. Depois Emmet. Não atendi nenhum dos dois. Maldita hora que resolvi sair de casa. Agora aquela cena ficaria martelando em minha mente. E o pior de tudo... eu não sabia se deveria contar aquilo a Rose e Alice. Estaria me metendo na vida pessoal delas e definitivamente, eu não gostava disso.
– Merda, Mel... por que teve que ficar emburrada logo agora?
Sem alternativa, e sem paciência para pensar em uma saída, eu cheguei em casa e fui direto para um dos quartos vagos na casa. Passei pelo quarto dos meus filhos e depois parei à porta do meu quarto. Mas não entrei. Nem me arrisquei a olhar como Angie estava. Eu não imploraria por seus carinhos... pelo menos, não agora.
Joguei-me na cama do jeito que estava, sem ao menos tirar os sapatos. Algumas horas de sono. Era tudo o que eu precisava agora.
O banho me deixou revigorado. Meu corpo estava incrivelmente relaxado, como se não existisse aquela porra de novo problema atormentando minha mente. Vesti-me totalmente de negro. Jeans, camisa e sobretudo. Puxei um pouco a gola para cima, peguei celular e as duas armas, já colocando uma delas em minha cintura.
A casa inteira deveria dormir, afinal eram quatro da manhã. Sai do quarto, mas ao passar em frente ao meu "antigo" quarto, a porta foi aberta e Mel apareceu. Olhei-a de cima a baixo, apreciando o jeans colado em suas coxas grossas. Usava roupas escuras, assim como eu. A diferença eram as botas que quase alcançavam seus joelhos. Eu nem precisava dizer o que pensava da mulher à minha frente.
– Bom dia, Melanie.
Ela estreitou o olhar e passou a mão no cabelo, jogando-o de lado. Estava irritada por ser chamada assim.
– Bom dia, Berllucci.
Falou e se afastou pelo corredor, rebolando aqueles quadris que me levavam à loucura. Sussurrei assim que ela saiu do meu campo de visão.
– Provoca, diaba. Tenho dó de você... quando eu te pegar de novo.
Ao contrário do que ela possa ter imaginado, não fui atrás dela. Entrei no quarto de Valentina, observando-a completamente desmaiada na cama. Dei um sorriso de lado e fui até a janela, puxando as cortinas. Obviamente não adiantaria muita coisa, já que ainda não tinha amanhecido. Fui até sua cama, observando a cabeleira espalhada pelo travesseiro. Estava de bruços, com uma das pernas quase fora da cama. Malvadamente, puxei suas cobertas, jogando-as para o lado.
– Ei...
Ela protestou, girando na cama. Colocou uma das mãos sobre os olhos, forçando a visão.
– Pai!
– Hora de acordar princesa.
Meu tom era debochado e ela bufou, sentando-se na cama. Os cabelos estavam uma bagunça, exatamente iguais aos da mãe ao acordar.
– Que horas são?
– Hora de trabalhar, óbvio.
Falei e joguei a arma sobre o colo dela. Ela arregalou os olhos e não conseguiu esconder seu entusiasmo.
– Pai...
Eu a interrompi. Não tinha tempo a perder.
– Você tem quinze minutos para trocar a fralda e descer. Se atrasar um minuto... ficará para trás.
Falei e sai do quarto, mas ainda consegui ouvir sua reclamação.
– Minha mãe fecha as pernas e eu pago o pato.
– Fingirei que não ouvi isso, hein?
Ela gargalhou e do lado de fora do quarto... eu ri também. Desci e fui direto ao escritório, abrindo o cofre. Conferi a munição, pegando também a que seria de Valentina. Obviamente não a entreguei carregada a ela. Louca do jeito que era, seria bem capaz de testar em alguma coisa no quarto.
Quando sai, encontrei todos em volta da mesa do café. Joseph e Enzo quase dormiam sobre a xícara de café. Mas Valentina, que acabava de se levantar da cadeira, ainda bebendo o café, parecia ter saído de uma sessão fotográfica. Usava uma roupa toda de couro e parecia mais desperta do que nunca. Alguém ai tinha dúvida de quem ela puxou?
– Pronto, pai. Podemos ir.
– Eu mal me aguento em pé de sono.
Joseph resmungou, fazendo Valentina rolar os olhos e debochar.
– Bando de frouxos.
– Vamos, Valentina. Não podemos nos atrasar.
– Ninguém vai comer nada?
Mel perguntou, segurando uma assadeira de vidro com algumas broas.
– Eu como...
Respondi, caminhando até ela e parando à sua frente. Peguei uma broa e inclinei-me um pouco, passando bem rente ao seu ouvido e sussurrei.
– Você...
Mel arfou e enquanto eu me distanciava, ouvi o barulho da assadeira indo de encontro ao chão.
– Merda.
Praguejou e eu gargalhei, afastando-me com Valentina em meu encalço. Mordi um pedaço e olhei para a pentelha ao meu lado.
– Você não vale nada, pai.
Eu ri novamente e passei meu braço em volta do ombro dela.
– Acho que faremos uma dupla imbatível.
Ela arqueou a sobrancelha, cinicamente.
– Descobriu isso agora? Eu sempre soube disso.
Rolei meus olhos.
– Vamos lá. Temos um carregamento gigante para receber.
Meu estado de espírito efusivo nada mais era que uma forma de não pensar na pedreira que teria pela frente. Acordei decidido a não deixar Rose e Aliie no escuro. Por mais que eu fosse invasivo, sei que ficariam ainda mais furiosas quando descobrissem que eu sabia e não disse nada. Além do mais, eu não poderia permitir que se arriscassem. Estúpidos do jeito que eram, não duvidava nada que aqueles dois tivessem se enfiado naquelas vadias sem qualquer proteção.
– Está acontecendo mais alguma coisa, não está?
Valentina perguntou assim que abri a porta do carro pra ela.
– Está, mas não falarei sobre isso agora. Temos muito trabalho pela frente, Cheetara.
Ela me olhou, demonstrando sua insatisfação com o novo apelido. Ja dentro do carro, nos olhamos. O dia ainda não tinha clareado, mas nós dois, ao mesmo tempo, colocamos os óculos escuros. Nossa primeira missão juntos. Mas eu não demonstraria o quanto aquilo me assustava... e enchia de orgulho ao mesmo tempo.

CONTINUA
DEMOREI UM POUQUINHO A MAIS QUE OS OUTROS MAS ME PERDOEM MIL VEZES ♥
E LEIAM A FIC DE CHAMEL DA NOSSA COMENTARISTA ♥ VOCÊS NÃO VÃO SE ARREPENDER: Passado Distorcido

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

FANFIC - "O PODEROSO SUEDE" - CAPÍTULO 10- 2° TEMP.


Mel

Quanto tempo levei para assimilar aquelas palavras? Ou melhor, para acreditar nelas? Olhando para o rosto de Chay, percebi que até ele mesmo parecia surpreso com o que disse. Estávamos nervosos, obviamente. No mesmo instante em que trocávamos carícias e palavras de amor, estávamos novamente brigando. Nosso casamento começava a se desgastar, mas eu não estava disposta a permitir isso. Sei que todo relacionamento, ainda mais um tão longo quanto o nosso, jamais poderá ser perfeito por causa de besteiras. O que estava me matando era saber que chegamos a esse ponto por motivos alheios aos nossos sentimentos. Não queríamos aquilo. Não queríamos ficar nessa briga interminável.
Porém, Chay precisava entender que dessa vez as coisas não poderiam ser resolvidas somente do seu jeito. Ele precisava ver que o correto seria reunir a nossa família e conversar. Mas principalmente... ele precisava ouvir. Mas após ouvir essas palavras...
Ainda que fosse da boca pra fora, num momento de raiva... aquilo me magoou profundamente. Engoli a saliva, junto com as lágrimas e ergui meu rosto, empinando o queixo do jeito que ele odiava.
– É isso mesmo o que deseja, senhor fodido Suede? Destroçar sua família tal e qual meu querido sogro vem fazendo?
Ergui as mãos e o aplaudi, com um sorriso triste, mas, ao mesmo tempo, sarcástico.
– Parabéns! Você conseguiu.
– Mel...
Girei o corpo e sai do escritório, fazendo questão de puxar a porta com toda minha força, fechando-a com um estrondo. Joseph, que permaneceu esse tempo todo sentando no sofá, levantou-se e me olhou assustado.
– O que ele fez? Por que está chorando?
Eu, que não tinha percebido que chorava, passei a mão no rosto com raiva, começando a subir as escadas.
– Mãe!
– O que aconteceu é que seu pai é um estúpido. Um cavalo.
Joseph apenas arqueou a sobrancelha antes de dizer o óbvio.
– E o ama assim mesmo.
Não respondi. Apenas fui para o meu quarto, novamente batendo a porta com violência. Andei de um lado a outro, mordendo a ponta dos dedos, pensando no que fazer. A vontade que eu tinha era de apertar o pescoço de Chay, deixando-o sem ar. Mas essa era uma hipótese descartada, já que ele facilmente me impediria. Como pode ser tão turrão? Quer dizer... isso eu já sabia há anos. Mas antes ele pelo menos ouvia um pouco o que eu tinha a dizer. E agora nem isso! Apesar disso, não o recriminaria tanto. A carga estava pesada demais. Bem... recriminaria sim! Se estava pesada, era obrigação dele dividir tudo comigo, e não querer me excluir. Colocar-me pra fora de casa. Era só o que me faltava.
Sentei-me na cama e levei a mão ao rosto. Os malditos hormônios da gravidez provavelmente estavam dando o ar de sua graça. Por que comecei a chorar? Ah sim... porque aquelas palavras ainda doíam em mim. Bem que diziam que quando algo ruim lhe acontece, toda sua vida passa diante de seus olhos. A possibilidade de ficar longe de Chay oprimiu meu peito e eu vi todo o filme da minha vida, desde o momento em que os homens dele invadiram minha casa, trazendo-me para cá. Queria muito acreditar que aquilo foi um rompante, mas meu emocional estava um caos.
Ergui a cabeça ao ouvir o motor de um carro. Corri até a varanda do quarto e arfei ao ver a Mercedes entrando na propriedade.
– Puta que pariu...
So poderiam ser nossos filhos. Precisava estar ao lado deles ou não sabia do que Chay seria capaz.. Girei e corri até a porta, passando pelo corredor até alcançar a escada. Cheguei ao meio dela no momento em que Chay também aparecia, seguido por Joseph e seguia até a porta. Ele apenas me olhou rapidamente, sem sequer dar-me tempo para analisar sua expressão. Joseph parou, preocupado comigo, obviamente.
– Não deveria correr.
– E deixar seus irmãos nas garras do seu pai?
– Ele me contou o que houve.
Ignorei. No momento minha maior preocupação eram meus filhos. Aquela estupidez de Chay comigo, eu resolveria mais tarde.
Fui com Joseph até a varanda e parei ao lado de Chay. Pude notar seus músculos tensos, as mãos fechadas e o maxilar travado. Ele observava o carro com olhos estreitados, daquele jeito perigoso que fazia qualquer um tremer. Qualquer um, exceto eu... e a doida que acabava de descer do carro. O vento jogava seus cabelos no rosto e Valentina simplesmente balançou a cabeça, afastando os fios. Seu olhar parou no pai... desafiador, sem qualquer vestígio de medo. Enzo desceu logo depois, seguido por Liam e Jack.
Valentina abriu os braços, sorrindo abertamente.
– Voltei!
Falou enquanto caminhava até nós. Joseph prendeu um riso e Chay cruzou os braços em frente ao peito. Parecia um leão de chácara... todo imponente... todo gostoso e... E nada! Eu ainda estava com raiva dele. Muita. Antes que Valentina chegasse ate o pai, eu me adiantei e a abracei com força.
– Você ficou maluca? O que deu um você?
– Até parece que eu aceitaria isso tão facilmente.
– E você Enzo? Embarcou na dela?
Ele me olhou sem jeito e deu de ombros. Epa. Eu estava mesmo criticando meus filhos? Esse não era o momento dos hormônios agirem. Eu estava a favor deles!
– Ah tudo bem. Esqueçam.
Apressei-me em dizer.
– Tudo bem merda nenhuma. Você...
Chay vociferou, apontando para Valentina.
– Vá para o escritório A.GO.RA.
– Eu já sei, papai. E o Enzo?
– Enzo foi apenas um boneco na sua mão. Mas ele também terá seu momento a sós comigo. Mas você, como mentora da merda... você vem primeiro.
Valentina apenas ajeitou os cabelos e passou por nós, entrando na casa. Enzo me abraçou enquanto observávamos Jack e Liam se aproximarem. Agora o osso do maxilar de Chay tremia, como sempre acontecia quando sua raiva estava chegando ao limite.
– Chefe...
– Chefe o caralho. Chefe de vocês agora é a pistoleira mirim, não é? Recebem ordens de dois pirralhos e vem me chamar de chefe?
Jack abriu a boca, alarmando e indignado.
– Eu não cumpri ordem deles. Aquela peste me dopou.
– Hei... vê la como fala da minha filha!
Interferi, erguendo o dedo em riste e o encarando. Mas Chay bufou e balançou a cabeça, remexendo nos cabelos.
– Eu converso com vocês depois. Tenho que eliminar a líder terrorista primeiro... depois cuido dos capachos dela.
Disse e se virou, deixando o silêncio reinando entre nós. Eu queria entrar atrás dos dois, mas não interferiria naquela conversa agora.
– Se quiserem entrar... comer alguma coisa...
Falei para Jack e Liam. Eles não poderiam se afastar daqui enquanto não enfrentassem a fúria de Chay. Os dois negaram e se afastaram. Jack parecia arrasado. E já era de se esperar. Sempre se orgulhou de ser um dos melhores homens de Chay. Nunca descumpriu uma única ordem. O próprio Chay disse inúmeras vezes que se existia alguém capaz de substitui-lo, esse alguém era Jack. Isso, antes de eu entrar para os negócios, claro.
– Mãe... não acha melhor entrar também?
– As coisas estão desandando por aqui, Enzo. É melhor eu deixar seu pai pensar que está no controle.
– Como assim?
Suspirei. A minha bipolaridade regida por meus hormônios estava me enlouquecendo. Ha poucos instantes eu chorava, com medo e querendo acreditar que Chay não teria mesmo coragem de nos mandar embora. Agora eu estava aqui, decidida a manter minha família, nem que para isso precisasse tomar medidas drásticas.
Chay
Eu ainda estava sob o efeito da minha própria loucura quando ouvi o som do automóvel que se aproximava. Esqueci-me completamente de minhas palavras duras de instantes atrás. Minha raiva tinha alvo certo agora. Os verdadeiros culpados pelo meu destempero acabavam de chegar. Felizmente, chegaram a tempo de eu não revelar minha fraqueza ao Joseph. Ele acabou entrando no escritório após a saída de Mel, enfrentando-me e querendo saber o motivo do choro da mãe. Com o peito massacrado, eu revelei o que disse a Mel. Joseph não teve tempo de dizer nada, mas seu olhar me dizia tudo. E se havia uma coisa que eu odiava ver no olhar da minha família era isso: decepção.
Mas ele precisavam me entender. Eu estava nervoso, porra! E isso piorou com a chegada dos delinquentes. Sai apressadamente do escritório, percebendo Joseph em meu encalço. Ao chegar a sala, notei que Mel descia a escada, mas não lhe dei muita atenção. Mel sempre seria meu ponto fraco e olhar para ela agora só faria com que eu voltasse atrás. Lógico que eu só a mandei embora de casa num momento de total descontrole. Não era o maldito Chay apaixonado que tinha dito aquilo. Foi o bendito cavalo mafioso que ainda tinha um pouco sanidade. Mas agora eu via que agi certo. Era um modo de deixá-los protegidos. Ainda que longe de mim, eu garantiria toda a segurança deles.
Parei na varanda e Mel parou ao meu lado. Novamente evitei seu olhar. E nem foi por querer. Toda minha atenção, minha ira estavam voltadas para a destrambelhada da Valentina. Desceu jogando os cabelos, exalando... poder. Inferno. Era o xerox do demônio, ou seja, Mel. No fundo, eu senti um puta orgulho. Duas mulheres poderosas... e eram minhas. Mas o que eu estou pensando? Que maluquice era essa? Desde quando Valentina era uma mulher poderosa? Era um bebê chorão isso sim. Minha bebê.
E Enzo...meu pequeno gênio. Será que ele conseguiria produzir alguns explosivos legais para usarmos numa briga? Travei meu maxilar, sentindo raiva de mim mesmo.
Que merda estava acontecendo? Então era isso? Mel engravidava, esbanjava hormônios... e eu ficava bipolar e maluco? Eu tinha que reverter esse breve momento de demência.
Impossível não me lembrar de quando conheci Mel, no momento em que Valentina passou por mim em direção ao escritório. Foi justamente esse atrevimento, essa petulância em Mel que me atraiu. Mas não poderia me perder em pensamentos sentimentaloides agora. A saída foi direcionar minha raiva para os dois frouxos, Jack e Liam. Mas no fundo eu sabia que eles não tinham culpa. Não totalmente. Valentina era o cão e com certeza fez tudo muito bem-feito.
Antes de me afastar indo atrás dela, eu dei um olhar quase imperceptível na direção de Mel. Apostava todas as minhas fichas que Mel estaria la em cinco minutos, querendo se intrometer na conversa.
Entrei e fechei a porta, deixando-a bater, mas Valentina nem se abalou. Continuou sentada, muito interessada em suas unhas. Dei a volta por trás da poltrona onde estava e parei a frente dela. Com as mãos na cintura, eu a encarei, estreitando meu olhar. A bandida apenas deu um sorriso tímido, completamente dissimulado.
– Eu já estava com saudade, papai.
Estreitei ainda mais o meu olhar. Atriz. Merecedora de Oscar.
– Pode parar com a palhaçada. Desembucha.
– Nossa... o que?
– Como o que? Que merda você fez naquele jatinho? Enganar o idiota do Liam eu entendo, afinal ele anda se esfregando em você, feito o vadio que é. Mas o Jack... o Jacob? Meu melhor homem? Ande... pode começar a falar.
Ela se empertigou ainda mais, jogando aquele monte de fio selvagem para trás.
– Muito bem. Foi assim...
Lembranças – Por Valentina
Estava sentindo uma raiva tão grande do meu pai! Sério! Como ele podia ser tão cabeçudo? E como minha mãe ainda conseguia se derreter com seus coices? Serei sincera... eu entendo como ela aguenta. Ela o ama. Assim como eu amo aquele cabeçudo. Mas custa nos ouvir um pouco? Pelo jeito sim, pois agiu como um ditador, impondo suas vontades e nem ao menos ouvindo minha mãe. A coisa estava feia. De uns tempos pra cá, ele sempre a ouvia. Mas eu sou uma mistura perfeita dos dois. E não desistiria fácil. Quando ele chegou, cheio de marra, obrigando-nos a partir, eu fiz a famosa cena. Subi para o meu quarto, batendo os pés. Mas não fui exatamente para o meu quarto. Fui para o quarto dos meus pais. Corri até o armário do banheiro, onde eu sabia que minha mãe guardava alguns medicamentos. Somente quando precisava mesmo descansar, ela fazia uso de algum remédio para dormir. E era disso que eu precisava agora. Peguei logo dois vidros, embora soubesse que só um seria suficiente.
Sai dali rapidamente e fui para o meu quarto, guardando-o junto com minhas roupas. Pouco depois ouvi a porta do quarto do Enzo bater e fui até la.
– Precisamos fazer alguma coisa.
Falei assim que entrei. Ele me olhou, sem entender.
– O que? Viu como nosso pai está. Não há a mínima chance.
– Não seja frouxo. Eu já tenho algumas ideias.
– Val... não vamos provocar a ira do nosso pai, ok?
Eu tinha acabado de me sentar e fiquei de pé, olhando-o indignada.
– Vai desistir assim? Sem lutar?
– Você sabe que nossa mãe é que sofrerá. E no estado dela...
Bufei. Tínhamos acabado de descobrir que a família teria novo membro. Que péssima hora para minha mãe engravidar! Mas enfim... esperava que fosse mais uma menina, pelo menos.
– Nossa mãe é forte. Muito mais do que imaginamos. A não ser que esteja com medo.
– Está me chamando de maricas?
Apenas dei um sorriso debochado. As vezes ele era mesmo. Bem parecido com o tio Jasper. Mas resolvi não me expressar em palavras ou ele poderia se aborrecer.
– Claro que não. Mas escute... temos que ser rápidos.
Contei rapidamente o plano a ele. Coisa simples, mas que daria certo. Depois disso, fui para o meu quarto pegar minha mala. E ele pegaria algumas coisas em seu "laboratório".
Foi ruim me despedir da minha mãe. Ela estava mais sensível por causa da gravidez. Mas nem olhei na direção do meu pai. Não por raiva. Eu estava chateada, não com raiva. Mas evitei seu olhar por um único motivo. Embora ele dissesse que eu puxei tudo da minha mãe, ele sabia que eu sou muito parecida com ele. E portanto... perceberia que eu estava aprontando alguma.
Entramos no jatinho e eu me sentei, ajeitando o cinto. Jack deu um sorrisinho sarcástico.
– Terá trabalho com a namoradinha hoje, Liam.
– Pare de latir, cãozinho adestrado do Berllucci.
Tirei o sorriso daquele rosto bonito, mas irritante. Liam só me olhava, quase implorando para que eu conversasse com ele. Também não sentia raiva, afinal ele apenas cumpria ordem. Mas fazia parte do meu plano, então... o ignorei.
– Precisam entender que o pai de você é macaco velho nesse assunto. Você, Enzo, que tem mais juízo que a Valentina... procure entender os motivos dele.
– Argh...
Eu me levantei, cansada daquele papinho do Jacob.
– Onde pensa que vai?
– Pegar um livro para ler. Ou isso também é proibido?
Jack bufou, mas não tentou me impedir. Entrei no quarto, peguei o livro, mas peguei também o sonífero, colocando-o dentro da blusa. Voltei com minha carinha inocente e me sentei, abrindo o livro. Teria que ter paciência. Esperar o momento em que Jack saísse para pegar a garrafa dele. É... ele tinha essa hábito estúpido de só beber algo de sua garrafa. Os outros dois seguranças estavam na pequena sala que meu pai utilizava para monitorar alguma coisa. Creio que esses dariam menos trabalho que Jack.
Liam, por fim, desistiu de chamar minha atenção. Fechou os olhos e se recostou na poltrona. Jack revezava olhares. Observava Enzo, depois me encarava. Eu, óbvio, fingia não perceber, entretida na leitura.
– O que tem de tão interessante nesse livro, Val?
Enzo perguntou e veio se sentar ao meu lado. Liam ergueu a cabeça, olhou para nós dois e depois voltou a fechar os olhos.
E finalmente o momento esperado. Jacob se levantou para usar o banheiro. Tínhamos pouco tempo. Rapidamente passei o frasco para Enzo. Enquanto ele ia até a poltrona do Jaques pegar a garrafa, eu me levantei, ajoelhando-me a frente de Liam. Espalmei minhas mãos na coxa dele, e mordi meus lábios, num gesto herdado de minha mãe. Lembrei de nossa cachorra ...isso me faria chorar. Imediatamente meus olhos ficaram úmidos.
Ele me encarava, um pouco torturado.
– Pode me desculpar? Por favor?
– Eu não tenho culpa. Sabe que só estou cumprindo ordens.
– Eu sei. Eu fiquei nervosa com a truculência do meu pai. E também porque ficaremos separados por um tempo.
– Eu também pensei nisso.
Passou a mão em meu rosto e eu fechei os olhos.
– Podemos namorar um pouco depois? Sentirei sua falta. Ou meu pai proibiu isso também?
Eu sabia que mesmo odiando meu relacionamento com Liam, ele estava focado em minha segurança. Nem se importaria se déssemos uns amassos, desde que eu ficasse longe de casa.
– Ele não disse nada.
– Ótimo.
Deitei a cabeça na perna dele, vendo Enzo voltar para o lugar. Era um medroso mesmo. Seu rosto estava vermelho, e para disfarçar, pegou meu livro.
Segundos depois Jack voltou e se sentou, olhando para Enzo.
– O que tem nesse livro? Está envergonhado?
Falou e riu alto. Jacob era um palhaço.
– Não é da sua conta, cão.
Ele latiu pra mim e acabei rindo. Voltei para meu lugar, após ser repreendida por ele. Estava aflita para vê-lo pegando aquela garrafa. Meu pensamento era tão forte que logo ele levou a mão à pequena garrafa prateada.
– Bebendo em serviço? Meu pai ficará furioso.
– Ele sabe que dou apenas uma bebericada. E aliás, ele mesmo me disse que eu precisaria de doses extras para aturar vocês.
Levou a garrafa à boca e franziu a testa. Merda. So faltava notar o gosto um pouco diferente. Mas ele nada disse. Bebeu mais um pouco e guardou a garrafa.
– Vamos jogar xadrez, Jack? Acho que meu pai tem um aqui, não tem?
– Eu? Jogando com o pequeno gênio?
– Com medo?
Eu perguntei, instigando-o. Depois pisquei para Enzo. Ele era fera no xadrez e deixaria Jack entretido até pegar no sono.
– Enquanto jogam, vou namorar um pouco.
– Mas não mesmo!
Enzo esbravejou, e ao perceber que ele falava sério, eu quis avançar nele. Fixei bem meus olhos nele, até o lerdo perceber o que eu faria. Como ele imaginou que eu anularia Liam?
– Val... nosso pai...
– Ele não proibiu, não é Jack?
Perguntei e ele assentiu. Estendi a mão para Liam e seguimos para o quarto. Eu estava me sentindo péssima por fazer isso com ele. Mas não havia outro jeito. Eu me deitei na cama e fiz um sinal para que ele se aproximasse. Imediatamente ele se deitou ao meu lado, beijando-me apaixonadamente. Eu correspondi, é claro. Afinal, sabia que ele nem poderia me olhar assim que voltássemos. Esse seria o castigo do todo poderoso.
– Hum... isso está me incomodando.
Apontei para a arma em sua cintura, enquanto mordiscava seus lábios e arranhava seu peito, através da camisa já aberta. Eu sabia que não poderia passar dos limites. Gostava do Liam e dos amassos que trocávamos, mas tenho plena consciência que tenho apenas dezesseis anos. É cedo para sexo com alguém que nem sei se é amor de verdade ou simples paixão. Mas que aquela situação me excitava... ah...
Liam parecia tão excitado quanto eu. Aliás, ele estava... eu sentia, obviamente. Rapidamente ele tirou a arma, colocando-a ao lado da estreita cama. Aproveitei e girei na cama ficando sobre ele. Voltei a beijá-lo, beijando também seu peito, até ouvi-lo implorar para que eu parasse. E eu... simplesmente parei, mas pegando a arma, e com muita agilidade, coloquei-me de pé. Ele arregalou os olhos e se sentou, mas...
– Parado ai... eu juro que qualquer tentativa sua... eu atirarei. E eu posso me ferir... e se isso acontecer, o todo poderoso acaba com você.
Ele engoliu seco e eu quase me arrependi ao ver a tristeza em seus olhos.
– Era... era tudo fingimento?
– Não... não era. Eu só unir o agradável ao extremamente necessário.
– Valentina...
– Se você gosta mesmo de mim, não tente me impedir, por favor.
Ele baixou a cabeça, balançando-a, desconsolado.
– Chay vai me matar.
– Eu jamais direi que você colaborou. Eu juro.
– Tudo bem. O que quer que eu faça?
– Apenas fique quietinho, por enquanto. Eu quero ver o Jack. E depois teremos que dar um jeito nos outros dois seguranças.
Derrotado, ele apenas assentiu. Quando sai do quarto, Enzo já amarrava Jacob. Caramba... tão rápido? Parecendo adivinhar meus pensamentos, Enzo ergueu o frasco. Arregalei meus olhos. Estava praticamente vazio.
– Você é louco? Ele pode morrer, caralho.
– Agora é tarde.
– Deus... bom, já está feito. Agora você tem que chamar um dos seguranças. Diga a ele que o Jaques está chamando. Mas espere até eu voltar ao quarto.
E assim fizemos. Quando um dos seguranças saiu, Liam o neutralizou. Cuidar do outro foi fácil, já que agora éramos três contra um. Quando percebeu que o companheiro não voltava, Max saiu da salinha... e assim como Vitorio, foi neutralizado por Liam com o famoso lenço embebido em éter.
– Eu... eu preciso prender você, Liam. Só para o caso de...
– Eu já sei.
Ele se sentou na poltrona, evitando me olhar. Usando as cordas que Enzo, inteligentemente trouxe antes de sairmos de casa, eu o amarrei, fazendo o famoso nó que minha mãe ensinou.
– Muito bem, Enzo. Confesso que nem pensei em algo para amarrá-los.
– Você não é a única esperta da casa, Val.
– Eu sou a esperta, você é o gênio.
Batemos as mãos e seguimos até a cabine do piloto. Eu usava a arma do Liam e Enzo empunhava a do Jack. Essa seria a parte mais fácil. O piloto era um borra botas, como diria meu pai. Ficaria dividido entre o medo de fazermos essa merda cair e o medo de ser arrebentado pelas mãos do meu pai. O fato é que conseguimos... mal saímos de casa e já estávamos voltando.
Fim - Lembranças
– Bonito! Tudo isso pra que, hã? Pra mostrar a grande desmiolada que é? Ou melhor, os dois são. Enzo me decepcionou e muito. Inferno... só conseguiram piorar mais a situação. Agora além de vocês, sua mãe também irá. Eu os quero fora daqui.
Ela se levantou no mesmo instante. Deveria achar que eu enlouqueci de vez.
– Pirou? Está dizendo que expulsou minha mãe?
Eu não respondi, mas aquele ossinho que eu percebia latejando em minha mandíbula dizia tudo. E ela não se segurou, mesmo sabendo que estava extrapolando, desrespeitando-me.
– Ficou maluco? Ou emburreceu? Vai ficar longe da minha mãe por causa de... capricho? Por usar uma viseira que não o deixa ver o óbvio?
– Valentina!
Eu berrei, mas ela fingiu não ouvir.
– Não vê que vão definhar longe um do outro? Não percebe que juntos são fortes demais? Meu Deus, pai... que segurança é essa que pretende? Esqueceu que foi baleado bem aqui, em nosso jardim? Minha mãe me contou o desespero dela, pai. Tudo o que sofreu. Como tem coragem de fazer isso com ela agora? Está ficando tão caduco quanto meu avô?
Eu me arrependi do meu ato no exato instante em que minha mão tocou a face de Valentina. Levei uma das mãos à cabeça e fechei meus olhos, mas não deixando de ver as lágrimas que escorreram pelo seu rosto. Se fosse qualquer garota de sua idade, teria colocado a mão no rosto e corrido dali, buscando consolo nos braços da mãe. Mas aquela era Valentina, cópia exata de Mel. Ela se levantou do sofá onde caiu e veio até mim, parando à minha frente.
– Eu já esperava por isso. Ja perdeu o controle até com minha mãe, não é? E sei que agora deve estar pensando que eu o odeio. Mas a resposta é não. E deve também estar suspirando aliviado, pensando que essa atitude fez com que eu desistisse do meu propósito. Sinto muito, papai, mas a resposta também é não.
Estreitei meus olhos. A culpa já não existia em mim. Ela realmente mereceu.
– Eu sabia que não deveríamos mimá-la tanto.
– Mimada? Pense bem no que está falando, pai. Eu nunca fui mimada. Tanto eu quanto Enzo sempre tivemos que fazer nossa parte para ganhar qualquer coisa. Nunca tivemos nada de mão beijada. Aprendemos a arrumar nossas coisas, a estudar, tirar boas notas. Ou era isso ou nada de regalias. Isso é ser mimado?
Continuei parado, mas ela me pegou de surpresa, abraçando-me pela cintura.
– Paizinho... eu entendo sua aflição. Mas não somos inconsequentes, pai. Somos uma família, não poderemos destruir isso como o vovô fez. Você sempre foi meu ídolo, meu herói, meu exemplo... mas, olhe só o que está fazendo! A mamãe provavelmente foi arrumar as malas. É isso o que quer? Ver seus filhos crescendo longe de você? E pior... linda do jeito que é, não passará uma semana e haverá uma fila de homens em nossa porta.
Eu a afastei bruscamente, sentindo a adrenalina e a raiva percorrerem minhas veias. Sem dizer nada, eu me afastei de Valentina, caminhando pesadamente até a porta. Assim que a abri com violência, vi Mel parada, prestes a abrir a porta. Nossos olhares se encontraram. Raiva, rancor, mágoa, medo, paixão...
Mas antes que eu dissesse alguma coisa, pela segunda vez no dia ela apontou o dedo em meu peito.
– Eu não sairei daqui. Não mesmo. Repito um milhão de vezes que nunca fui mulher de fugir de merda nenhuma. Se você se cansou de mim, seja homem para dizer em minha cara. E se nos quer mesmo fora da sua vida... que saia você então. Nós não sairemos.
Maluca. Completamente louca se acreditava mesmo que eu a deixaria partir. Claro que, aquelas palavras de Valentina foram como um soco em meu estômago. Logo eu me imaginei sem ela, a casa vazia... e algum desocupado e sem amor à vida atrás dela. Quase trinquei meus dentes enquanto dava dois passos e a segurava pelos braços.
– Pai..
Joseph e Enzo que estavam logo atrás disseram juntos, mas eu os coloquei em seus devidos lugares.
– Quietos! Meu assunto agora é com essa...
Não terminei de falar. Girei com ela, empurrando-a para o escritório e prensando seu corpo contra a parede ao lado da porta. Busquei sua boca feito um desesperado, agarrando seus cabelos. Ela retribuiu, para meu alívio, puxando-me para ela e gemendo contra minha boca.
Mas do nada... assim... de repente, ela me empurrou, olhando furiosa pra mim.
– Dessa vez não será como você pensa, Chay. Você me magoa, me deixa em frangalhos e depois resolvemos tudo na cama? Não.
Fiquei estático. Que porra era aquela agora? Percebi que estávamos sozinhos. De alguma forma Valentina saiu sem ser notada.
– Que maluquice é essa agora? Eu amo você... não sairão da minha vida. Nenhum de vocês.
Ela cruzou os braços em frente ao peito.
– Ja viu do que seus filhos são capazes, não é? Eles estão dentro ou não?
Eu não tinha mais para onde fugir. A valentia, perseverança e união que eles demonstraram me pegaram de calças curtas. E ainda veio Valentina com aquelas palavras.
– Conversaremos. Todos nós. Agora.
Ela arqueou a sobrancelha e perdi a paciência. Diabo de mulher tinhosa.
– Inferno, Mel. Eles estão dentro. Agora diga que me perdoa.
– Não digo, pois não perdoo. Não sairemos daqui, mas não muda o fato de ter me mandado embora. Por ora... estamos em quartos separados.
– O QUE? Mel... vamos parar com a palhaçada.
– Eu repito... temos arestas a aparar. Nem tudo se resolve com sexo. Dessa vez será diferente. Chamarei nossos filhos e conversaremos. Trate-os como adultos. Eles já provaram o que são.
Ela nem esperou que eu respondesse e saiu, chamando-os. Vi um a um passar pela porta, cada um com um brilho no olhar. Estavam se divertindo, os delinquentes. E por fim, ela fechou a porta. Encarou-me toda poderosa. Ela tinha noção do quanto me excitava quando encarnava a primeira-dama do submundo? Sabia... claro que sabia. E sabia também, que eu estava mais uma vez em suas mãos. E eu odiava isso.

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

FANFIC - "O PODEROSO SUEDE" - CAPÍTULO 09 - 2° TEMP.


Mel

Não sei o que acontecia comigo. Fiquei covarde de repente. Não sentia medo de Chay obviamente. Ele não era louco de tentar algo contra mim. Meu único medo era da rejeição. Dizem que os bebês sentem tudo o que a mãe sente. Mesmo tão novinho, ele sentiria minha decepção caso o pai o rejeitasse. O pior de tudo era ver a incredulidade nos olhos de Chay. Ele parecia me chamar de louca silenciosamente.
As mãos dele estavam fechadas fortemente ao longo do corpo e seus lábios crispados numa linha fina. Eu esperava sua explosão a qualquer momento. No entanto, o que ouvi foi sua voz baixa, quase cansada.
– Quer que eu arranque essa resposta à força?
– Pai!
– Fique quieto, Joseph. Com você eu me entendo depois. Sabia de tudo e escondeu de mim. Estavam de conluio. Quem mais falta me trair?
Aquilo me irritou profundamente. O fato de não encontrar ocasião propícia para contar significava que o trai? Que o apunhalei pelas costas? Chateada com as palavras dele, empinei meu nariz, olhando-o desafiadoramente.
– Sim, Chay. Eu estou grávida.
Ele deixou escapar um rugido e se afastou, agarrando os cabelos com uma das mãos e esmurrando a parede com a outra. Joseph apertou minha mão, olhando-me com um pedido mudo para que eu me acalmasse.
Chay se virou novamente e vi a fúria em seus olhos.
– Você... você...
Apontou o dedo para mim.
– Você ficou maluca? Ter um filho com o mundo desabando em nossa cabeça? Como pode parar de se prevenir e não falar nada comigo?
Não aguentei tanta injustiça e explodi.
– Porque você sempre quis outro filho, seu estúpido. Eu engravidei antes do meu querido sogro surtar!
– Isso só pode ser brincadeira. Resolveram desanuviar o ambiente e inventaram essa piada de humor negro não é?
O impacto de suas palavras teve a força de uma bofetada, para dizer o mínimo. Coloquei-me de pé no mesmo instante e Joseph me segurou. Foi melhor assim, ou eu avançaria em Chay agora mesmo. Mas apenas deixei que minha tristeza saísse através de minhas palavras.
– É isso o que pensa do nosso filho? Que ele é uma piada agourenta? Saia daqui, Chay. Agora.
– Está me expulsando do nosso quarto?
– Eu queria expulsa-lo da minha vida, desgraçado. Saia daqui.
Eu berrei, descontrolada, não segurando mais a avalanche de lágrimas que desceu pelo meu rosto. Percebi que Chay ficou momentaneamente petrificado, sem ação.
– Por favor, pai... vá. Precisam se acalmar.
Ele não disse nada, sequer me olhou. Saiu do quarto, batendo a porta com tanta força que tive a certeza de sentir as paredes balançarem.
– Calma, mãe. Por favor. Pense no bebê.
– Você o ouviu, filho. Ele... ele...
– Ele nada, mãe. Está nervoso. Daqui a pouco ele volta com o rabo entre as pernas como sempre.
– Vá ver onde ele foi, Joseph. Tenho medo que saia assim.
Ele rolou os olhos. Mesmo com raiva de Chay, eu me preocupava com ele.
– Fique quietinha aqui. Eu já volto.
Mas eu não fiquei. Mal Joseph saiu do quarto... eu sai também. Além da nossa briga, ainda havia o mais grave: o desaparecimento dos nossos filhos. Será que tinha mesmo dedo da Valentina nisso? Minha filha seria tão louca a ponto de fazer com que desviassem a rota do jatinho? Claro que não. Jack estava lá e ele sempre cumpriu as ordens de Chay sem pestanejar.
A não ser que... Céus! Valentina teria coragem de fazer algo contra o Jack? A verdade era assustadora. Sim, ela teria.
– Merda.
Acabei de descer as escadas e quase dei um esbarrão em Joseph que já estava voltando.
– Por que será que eu tinha certeza que não ficaria no quarto?
– Porque conhece sua mãe muito bem.
– Teimosa.
Falou, segurando-me pela mão e me guiando até o sofá, onde nos sentamos.
– Nem precisa dizer onde ele está.
– Eu irei até la, mãe.
– Não... por favor...
Falei ao ouvir coisas sendo quebradas. Um cansaço imenso se abateu sobre mim. Talvez fossem os hormônios já agindo, mas eu me sentia tão frágil, tão... perdida. Eu que imaginei meu marido chorando ao meu lado mais uma vez ao saber que seria pai! Ledo engano. Ele odiou a ideia.
Percebi que chorava quando Joseph me puxou para os seus braços, secando minhas lágrimas.
– Não sei o que fazer...
– Sabe. So está nervosa. Sempre foi forte, mãe. Eu diria até mais forte que meu pai. Ele tem força física e psicológica também. Mas você tem muito mais.
Eu sabia disso, porém não conseguia encontrar essa força agora. E ao entender isso... nova onda de choro me dominou.
Eu me encolhia a cada estrondo vindo do escritório. Sabia que Chay estava quebrando tudo, descontando toda sua ira em qualquer coisa que visse pela frente. Chorava incessantemente porque não foi essa reação que imaginei. Óbvio que sabia que ele ficaria preocupado, mas nunca imaginei que sua fúria seria nessa proporção. Joseph tentou intervir, mas eu o impedi. Não sabia do que o pai seria capaz estando naquele estado.
Toquei meu ventre plano. A rejeição caiu como uma bomba sobre minha cabeça. Ele simplesmente nem quis saber do filho! Saiu feito um búfalo logo após ter a confirmação.
Bodas de rosas... dezessete anos. Ja tivemos várias brigas, dormimos em quartos separados, mas Chay nunca agiu dessa forma. E agora eu me perguntava se seria esse nosso fim.
Deixei meus olhos percorrerem a sala, lembrando-me das tantas vezes que nos reunimos aqui, felizes. A primeira vez que olhei a decoração, na época bem diferente, sabendo que seria a senhora Suede. Lembrei-me das tantas vezes em que Alice e eu ficamos sentadas aqui, conversando à espera de Chay. Por que isso aconteceu? Onde foi que aquele casal forte se perdeu? De repente eu senti raiva de Chay. Raiva por fraquejar e por contribuir para minha própria fraqueza. Coloquei-me de pé num rompante.
Nosso casamento poderia até acabar, mas não sem uma boa luta. E muito menos sem que eu dissesse algumas verdades para meu marido.
Percebendo minha intenção, Joseph tentou me impedir.
– Mãe... eu acho que...
– Você não acha nada. Quieto ai senão sobrará pra você também.
Ele arregalou os olhos, mas não esboçou reação. Tinha percebido que a mãe poderosa e tão bipolar quanto o pai, resolveu ressurgir. Eu lutaria, não por causa do meu amor por Chay, mas por meus filhos. Empurrei a porta do escritório, fazendo-a bater contra a parede e quase voltar de encontro a mim. Ele girou o corpo, me encarando. Eu amava demais aquele desgraçado. Minha vontade era de me jogar sobre ele, enchê-lo de socos enquanto o beijava furiosamente. Entretanto, minha raiva era ainda maior que meu tesão. Apontei meu dedo em seu peito e comecei a despejar toda minha ira sobre ele. Mostraria a ele que não se casou com uma qualquer. Caso tenha se esquecido, nunca fui de me rebaixar. Muito menos pra ele.
-Chay
Eu ria. Ria descontrolado, agarrando meus cabelos, andando pelo escritório e enfiando o pé em tudo o que via pela frente.
"Sim, Chay. Eu estou grávida." Sim, Chay. Eu estou grávida."
Aquela droga de frase não saia da minha cabeça e eu berrei, chutando a cadeira que bateu com força contra a parede. Fechei minhas mãos com força, tentando raciocinar, o que era impossível nesse momento. Na verdade, eu queria socar o filho da puta do querubim que estava tomando conta de mim nesses dias. Era essa explicação. Deus resolveu tirar férias e colocou a porra de um anjo estagiário em seu lugar. So isso para explicar tanta merda junta e ainda sobre minha cabeça.
Meu pai... puteiro...pivetes revolucionários... e mais um filho. Minha poderosa... grávida de novo. Eu ainda esperava o fim da piada, porque até o momento não achei graça.
Como um filho poderia vir ao mundo em meio a esse inferno? Eu sequer podia cogitar a hipótese de me afastar, como fiz quando Valentina e Enzo nasceram. Meu primeiro pensamento foi também tirar Mel do país. Mas logo em seguida eu me lembrei, que se fizesse isso, assinaria minha sentença de morte. Mel agora era metade de minha força. Sem ela por perto, eu seria dizimado a pó.
E por isso, volto a repetir: estou na merda.
Girei meu corpo quando ouvi a porta bater, mas nem tive tempo de pensar. Mel entrou feito um furacão, parando à minha frente com fúria quase incontida.
– Agora escute aqui, seu Berllucci filho da puta. Se não quiser nosso filho, então que vá se fuder. Eu irei atrás dos meus filhos e juntos enfrentaremos tudo. Muito me admira você fugindo da raia agora.
Arregalei meus olhos. Aquele pedaço de mulher, alguns bons centímetros mais baixa que eu, apontava o dedo em meu peito, empurrando-me sem qualquer receio.
– Que isso? Resolveu se rebelar também?
– Se você se mostrou um incompetente, medroso o problema é seu. Eu irei até o fim.
Estreitando os olhos, eu dei um passo, ficando colado nela.
– Não falei que aquela delinquente mirim puxou a você? Onde estava com a merda da cabeça quando engravidou?
Ela gritou, pegando-me de surpresa, ao mesmo tempo em que me empurrou com toda a força. Pego de surpresa, dei alguns passos para trás.
– A merda da sua cabeça que estava dentro de mim, seu imbecil. E pode ter certeza que isso nunca mais acontecerá.Meu filho não merecia ser rejeitado, seu... seu...pederasta.
No instante seguinte às suas palavras, ela estava prensada entre meu corpo e a estante. Agora ela conseguiu me irritar. Segurei seus cabelos com força, mas ela cravou as unhas em meu braço, encarando-me com igual fúria.
– Eu jamais renegaria um filho nosso.
Vociferei.
– Entende que não posso perdê-los? Nenhum de vocês.
– Entendo. Você que parece ter ficado tão esclerosado quanto seu pai. E eu fui burra, fui fraca ao deixar você cometer a sandice de tirar nossos filhos do país.
– Não fuja do assunto. Estou falando dessa gravidez... não planejada.
Ela cravou ainda mais as unhas em meu braço e usou de toda sua força para me empurrar. Afastou-se de mim e ajeitou os cabelos e a roupa. Olhou-me com altivez, daquele jeito que eu já conhecia. Era daquele jeito que se comportava quando saía para alguma missão. Minha mente trabalhou rápido. Ela estava completamente maluca se achava que faria o que estou imaginando.
–Nem venha com essa palhaçada de querer voltar à ativa, Mel. Ainda mais grávida.
– Grávida de um filho que você recusou.
– Eu não recusei, porra! Eu só...
– Foi covarde. Preferiu vir quebrar tudo em vez de encarar os problemas.
Coloquei as mãos na cintura, abismado com o atrevimento dela. Quer dizer... eu já estava quase careca de saber o quanto era topetuda, atrevida. Mas agora... ela seria mãe novamente! Não precisava se controlar?
– Eu deveria dar umas palmadas em você como fiz da primeira vez.
Ela rolou os olhos e fez cara de tédio.
– Agora escute bem, Berllucci, porque não repetirei. Eu voltarei à ativa sim! Meu marido está sozinho nessa e eu nunca fui covarde de me esconder atrás das calças dele. E agora, em vez de ficar tendo ataque histérico por causa de um bebê, deveria pensar numa forma de encontrarmos nossos filhos. Porque é isso que farei agora.
Aproximei-me dela, caminhando daquele jeito predador que assustava qualquer bandido. Mas aquela coisa minúscula não moveu um único músculo. Nem um fio de cabelo saía do lugar, enquanto ela me encarava audaciosamente. Definitivamente, não tinha medo do perigo.
– Está insinuando que não me importo com nossos filhos?
– Estou afirmando que estamos perdendo tempo. Sabe-se lá onde nossos filhos estão. Nós... sua família, e isso inclui nossos filhos e eu, ajudaremos você, quer queira ou não. Quando essa tempestade toda passar, pegarei meus filhos e sairemos de sua vida. Poderei ter meu filho em paz.
Eu esperava, sinceramente, que Deus tivesse feito a forma de Mel e jogado fora. Queimado, destruído. Outra mulher dessa no mundo ninguém suportaria. Mas se fosse pensar bem, essa forma deve ter sido jogada no inferno. Assim, foi criado aquele ser demoníaco chamado Valentina.
Mas apesar disso tudo, eu era um adorador desses seres malignos. Minha vida acabaria no momento em que saíssem pela minha porta. E foi pensando nisso que esmaguei Mel em meus braços. Senti seu corpo estremecendo, mas seu rosto nada demonstrava.
– Sua atrevida do caralho. Ja falei que só sai da minha vida se for morta.
– Então traga de volta o meu poderoso. Nós só funcionamos juntos, Chay. Você sabe disso.
Eu não resisti mais. Beijei-a com paixão, quase arrancando sua língua fora, erguendo seu corpo do chão. Angie se agarrou aos meus cabelos, do jeito que eu amava e que me enlouquecia. As palavras dela rondavam minha mente, e como num passe de mágica, meu medo deu lugar à força. Ninguém destruiria minha família. Ninguém destruiria o que conquistei a duras penas. Sentindo-me renovado, dei vazão à minha emoção. Segurando nos cabelos de Angie, eu afastei meu rosto, olhando nos olhos dela. Mel mordeu os lábios, provavelmente percebendo meus olhos úmidos.
– Você se lembra quando me afastei dos negócios por causa de Enzo e Valentina?
– Claro que me lembro. Como poderia esquecer?
– Só queria meus filhos num ambiente calmo, tranquilo, pelo menos quando viessem ao mundo. Agora não poderei fazer isso, Mel. E eu tive medo. Sou humano, porra.
– Eu sei disso.
– Só não queria nosso filho nascendo em meio ao caos. Eu não rejeitei e jamais faria isso com nosso filho, sua idiota.
Ela enterrou o rosto em meu peito. Apesar de toda pose de durona, ela não perdia seu jeito delicado e sensível jamais.
– Odeio quando me faz chorar.
– Eu também. E você fez isso mais uma vez.
Ela ergueu novamente a cabeça e passou a mão em meu rosto. Mais uma vez eu me curvava diante dela. Sempre seria assim com ela e com nossos filhos.
– Obrigado... por suportar tudo isso comigo. Mas principalmente por mais esse filho.
– Você... você gostou? De verdade?
Eu ri, voltando a beijá-la. Havia possibilidade de não gostar de ter um filho com a mulher da minha vida?
– De verdade... eu estou muito feliz. Mas confesso que estou rezando para que não seja uma peste da laia da Valentina.
– Chay! Não fale assim da nossa filha. Ela não é tão ruim!
Eu rolei os olhos e beijei-a mais uma vez antes de falar.
– Ela é podre, Mel. E por falar nisso... vamos tentar contato com a torre, com o piloto, com o caralho a quatro. Se tiver dedo da Valentina nesse sumiço, eu juro que...
Minha ameaça foi interrompida pelo toque do telefone. Agindo mais rápido do que eu, Mel avançou até o telefone, atendendo a ligação.
– Alô? Melanie Suede falando...
Estreitei meus olhos ao vê-la levar a mão ao peito.
– Valentina! Oh meu Deus... filha, onde estão?
Tentei arrancar o telefone da mão dela, mas novamente Mel foi mais rápida. Correu em volta da mesa, tentando escapar de mim.
– O que? Meu Deus... mas o que aconteceu? Foi... foi você?
Seja la o que a peste tenha dito, serviu para distrair Mel. Arranquei o telefone da mão de Mel e atendi.
– Valentina... diga-me que não tem nada a ver com esse...
Ela me cortou. Abri a boca, completamente estupefato. Eu não conseguia acreditar no que estava ouvindo. Eu criei um monstro!
– Valentina... estou indo agora atrás de vocês. Não tente nenhuma gracinha ou...
Mas a atrevida me interrompeu novamente.
"– Nada disso, pai. Ja aterrissamos na fazenda e estamos voltando pra casa."
– VALENTINA!
Eu esbravejei, mas ela simplesmente desligou. Ela teve a desfaçatez de desligar em minha cara!
Coloquei o telefone de volta à mesa, encarando Mel que também me olhava.
– Ela disse a você o que fez?
Perguntei, quase trincando meus dentes. Percebi que Mel mordia os lábios, mas com única intenção de prender o riso.
– Ela dopou o Jack e o Liam... e ameaçou o piloto com uma arma. Enzo ajudou, dando um jeito nos outros dois seguranças.
Dei um soco na mesa.
– Eu não falei? Não falei que tinha dedo podre dela nessa merda toda? Fez o piloto retornar e já pousaram na fazenda. Mas ela não perde por esperar.
– O que pensa em fazer, Chay?
Fui até o cofre retirei a palmatória. Mel arregalou os olhos.
– Darei o castigo que ela merece. Coisa que eu deveria ter feito há anos.
– Se encostar um dedo nela, terá que me bater também.
– É assim que educa? Passando a mão na cabeça?
– E violência? Educa?
Não respondi por instantes. Mas dessa vez Valentina passou de todos os limites.
– Não. Não educa. Mas Valentina precisa de limites.
– Sim, precisa. E não só ela, como Enzo e Joseph precisam de credibilidade, de um voto de confiança.
Cruzei os braços em frente ao peito.
– E isso significa?
– Significa que eles são maduros demais para a idade deles. E eles tem meu apoio.
– Mas não mesmo. Nunca!
– É isso ou sairemos por aquela porta sem olhar para trás.
Congelei. Eu não estava ouvindo isso da minha própria esposa!
– Está ameaçando sair da minha vida, Melanie?
– Não, Chay. Você é quem está nos tirando dela. Entenda que onde estivermos, nossos filhos estarão juntos. Você não tem escolha.
– Ah não? Quer dizer que se eu não aceitá-los na organização, vocês me abandonarão?
– Exatamente.
Procurei disfarçar todo sofrimento que aquela situação me causava. Mas eu não fraquejaria. De forma alguma.
– Pois então pode pegar suas coisas.
Eu vi o choque passar pelo rosto de Mel.
– Está... está nos mandando embora? Porque se for, saiba que não haverá volta.
– Você mesma disse que sairiam daqui se eu me recusasse a aceitá-los. Pois agora está ouvindo com todas as palavras. Eu quero vocês fora daqui.

CONTINUA

sábado, 12 de setembro de 2015

FANFIC - "O PODEROSO SUEDE" - CAPÍTULO 08 - 2° TEMP.


Mel

Eu aprendi a ser forte. Ha anos ao lado de Chay nada mais natural que descobrisse em mim, uma força que até eu mesma desconhecia. Conseguia controlar um pouco meus sentimentos, e às vezes percebia certa frieza em mim. Nunca me imaginei torturando ou matando alguém. No entanto, eu fiz isso. E agi como se fosse uma coisa normal no ser humano.
Entretanto, assim como meu marido, toda minha pose de primeira-dama da máfia desaparecia quando o assunto era nossa família, principalmente nossos filhos. Eu os defendia com unhas e dentes, ria, chorava, sofria com eles. Muitas vezes cheguei a desafiar Chay para ficar a favor deles.
E era exatamente por ser assim em relação a eles, que nesse momento eu sofria. Era uma dor insuportável, que chegava a me deixar sem ar. O meu desespero chegou a tal ponto que eu já não conseguia discernir o certo e o errado.
Se por um lado eu concordava com Chay, admitindo que tê-los dentro da organização era perigoso demais, por outro lado, eu achava que isso era o certo. A máfia estava no sangue deles.
Porém, eu também me perguntava se era isso mesmo que desejava para meus filhos, ou era uma tentativa desesperada de tê-los ao meu lado. Nada mais fazia sentido em minha mente. Mas uma coisa era certa. Chay acreditava mesmo que conseguiríamos continuar trabalhando, sem saber exatamente como eles estavam?
Se existe uma coisa na qual sempre acreditei é que, quem sabe cuidar dos filhos, são os pais. Não importa se estarão acompanhados pelos melhores seguranças e atiradores. Somente os pais sabiam o que é essencial, o que os deixam felizes. Como eu conseguiria dormir sem visitá-los no quarto todas as noites?
Sei que fraquejei. Deveria ter sido mais dura e imposto minha vontade. Mas nossa vida estava confusa demais e realmente achei que seria melhor afastar Valentina e Enzo. Devo dizer que me arrependi no momento em vi o jatinho decolar.
Chay sequer me olhou. Apenas entrou em casa, deixando-me com Joseph. Foi ele quem me trouxe para o quarto, onde estava até agora. Ele me abraçava, sentado ao meu lado na cama.
- Não entenda como uma crítica, mãe. Mas eu não entendi sua atitude. Está óbvio que não era isso o que queria. Por que aceitou a intransigência do meu pai?
- Seu pai só quer o melhor para vocês, Joseph. Sempre foi assim. A segurança e o bem-estar de vocês vem em primeiro lugar.
- Eu sei disso. Nunca pensaria o contrário. Vocês são pais maravilhosos.
Eu chorei um pouco mais, ao ouvir as palavras dele.
- Porque temos filhos incríveis. Por isso nos desdobramos para vê-los sempre bem.
- Sei disso também. Mas mãe... isso não significa que meu pai esteja certo. Muitas vezes amamos demais e achamos que nossas atitudes são as mais acertadas. E não é isso. Amar não é tentar nos proteger de tudo. Amar é educar para que saibamos discernir o certo. Valentina e Enzo podem estar longe, mas isso não muda suas escolhas. O pai sempre disse que nossas escolhas e atitudes dizem quem somos. Está ai a prova. Nossas escolhas dizem quem realmente somos.
Eu o encarei, sem saber o que dizer. Parecia que somente nesse momento eu me dava conta de que meu filho realmente cresceu. Ja era homem e mostrava toda sua maturidade com essas palavras.
- Somos filhos da máfia, mãe. Isso é o que somos. Levar Valentina e Enzo para longe disso, só fará com que aumente ainda mais o desejo deles de lutarem ao lado de vocês.
Inclinei meu corpo para frente, colocando o rosto entre minhas mãos.
- O que eu fiz, meu Deus? Por que eu não conversei com seu pai?
- Eu entendo vocês dois, mãe. Principalmente meu pai. Foi uma carga muito grande sobre ele, em tão pouco tempo.Eu olho pra ele e vejo o mundo sobre suas costas. Não deve ser fácil. Ele é ainda mais forte do que pensei e o admiro ainda mais por isso.
- Ah meu filho... não sabe como é bom ouvir isso. Tenho certeza que seu pai ficará emocionado ao saber que pensa assim. E eu concordo com você. Ele é realmente muito forte. E... eu precisarei colocar essa força à prova.
Joseph franziu a testa, olhando-me com curiosidade.
- Como assim, mãe?
Eu inspirei profundamente, antes de voltar a encará-lo.
- Eu preciso desabafar uma coisa.
Deveria ser o contrário. O filho desabafando com a mãe. Os papeis se inverteram e era como se eu fosse a filha e Joseph o pai amoroso e atencioso. Ele me ouvia atentamente, segurando minha mão e apertando-a, demonstrando sua solidariedade. Ao final do meu relato, ele me abraçou ainda mais forte.
- Fico feliz que tenha confiado em mim para falar sobre isso. Mas, mãe... vê como o que eu disse estava certo? É muita coisa ao mesmo tempo. Vocês dois juntos não aguentam a carga sozinhos. E sabe que não digo isso em relação aos negócios. Estou falando em relação ao emocional, ao psicológico de vocês. Confiem mais em nós. Enzo tem uma mentalidade fantástica, uma inteligência fora do comum. E Valentina tem a mesma ousadia e força que vocês dois.
- Eu sei que... seu pai ficará ainda pior. Deus... eu nem quero imaginar o que ele fará quando conversarmos.
- Eu só digo que adiar será pior.
- Eu sei. So estou esperando que ele venha para o quarto.
- No mínimo deve estar no escritório, acompanhado pelo uísque e pelo charuto.
- Sim. Provavelmente.
Nesse momento a porta foi aberta e Chay entrou. Olhou para nós dois, mas sem dizer nada, desabotoou a camisa, jogando-a sobre a poltrona. Joseph me olhou rapidamente. Ele também percebeu os olhos vermelhos e levemente inchados do pai. Sabíamos o que tinha acontecido.
- Vou deixá-los a sós.
Joseph falou assim que Chay entrou no banheiro.
- Obrigada pela conversa. Acho que deveria ter escolhido psicologia e não pediatria.
Ele riu, dando-me um beijo na bochecha.
- Gosto de crianças. Mas quem sabe? Estudar nunca é demais.
Sorri, satisfeita, vendo-o caminhar até a porta. Apesar de toda a tempestade pela qual passamos, tinha que admitir que criamos muito bem nossos filhos. No fundo Chay também sabia disso, mas seu amor de pai, seu medo falaram mais alto. Era calejado, estava há tempo demais nessa vida para saber os riscos que pessoas tão jovens como os filhos teriam que enfrentar. Entretanto, eles estavam com dezesseis anos. Faltava pouco para alcançarem a maioridade. E se fosse pensar bem, mentalmente eram bem mais maduros que muitos adultos. Um pouco impetuosos, talvez, mas, ainda assim, maduros.
Levantei-me, indecisa entre ir ou não atrás de Chay. A verdade é que sempre dividimos tudo, inclusive nossas tristezas. Eu não entendia por que dessa vez, ele me deixou com minha dor, curtindo a sua também sozinho.
Decidida, tirei minha roupa e segui nua até o banheiro. Ele estava lá, glorioso sob a ducha. Os braços estavam cruzados em frente ao peito e ele olhava para baixo, atento, como se o escorrer da água para o ralo fosse a coisa mais interessante do mundo.
Não ergueu a cabeça nem mesmo quando empurrei a porta do box e entrei. Fiquei parada à frente dele, esperando que parasse de me ignorar. Mas ele não o fez, portanto, segurei em seus braços, forçando-os para baixo. Quando consegui meu objetivo, aconcheguei-me em seu peito, feliz ao sentir que ele me abraçou, colocando os lábios em meus cabelos.
Suspirei e apertei meus braços à sua volta, aproveitando aquele momento.
- Por que me deixou só? Sempre dividimos tudo, lembra?
- Pensei que não quisesse minha presença.
Eu me afastei para olhar em seu rosto, constatando que ele falava realmente sério. Acariciei seu peito, sem deixar de olhar em seus olhos.
- Por quê?
- Porque eu tirei as crianças daqui, Mel. Eu sei que você não gostou e não concorda com o que eu fiz.
- Sinceramente? Estou me sentindo perdida. Não sei mais o que é certo, errado. Ao mesmo tempo em que penso que o certo é deixá-los participar, acredito que devem mesmo ficarem afastados dessa guerra toda.
- Será melhor assim.
Eu não ousei discordar. Não que sentisse medo dele, mas simplesmente não queria deixá-lo enfurecido antes da hora. Precisávamos conversar seriamente.
- Chay, eu...
Ele não me permitiu continuar. Juntou meus cabelos num rabo, puxando minha cabeça para trás. Eu conhecia aquele olhar muito bem. Queimava minha pele e deixava todo o meu corpo arrepiado. Inclinando a cabeça para frente, mas puxando ainda mais meus cabelos, Chay repuxou meu lábio inferior com os dentes. A outra mão forte em minha cintura me fez arfar de encontro aos seus lábios.
- Você sabe o que eu preciso agora, Mel.
Óbvio que sabia. Não só Chay, como eu mesma passamos a extravasar o estresse em algumas horas do mais ardente sexo. E dessa vez não seria diferente. Aliás, eu preferia isso. Queria meu marido bem relaxado para nossa conversa.
- Eu sei. E estou pronta para você.
Ele deu seu sorriso torto e soltou um rosnado ao mesmo tempo. Mesmo após tantos anos, seu ímpeto fazia com minhas pernas tremessem. Meu corpo foi girado rapidamente e praticamente espremido contra a parede fria do banheiro. Voltou a segurar com força meus cabelos e gemi antecipadamente, ao senti-lo colado ao meu corpo.
Mordeu meu pescoço antes de falar em meu ouvido, com evidente angustia.
- O pior dessa merda toda...é saber que minha cabeça ficará ainda mais fodida com eles longe daqui.
Não falei nada. E nem conseguiria. Meu corpo já estava entregue e logo minha mente se desligou também. Pelo menos nos longos minutos em que Chay se saciou em meu corpo.
☆;:*:;☆
Praguejei baixinho, acordando assustada com o toque do celular. Abri os olhos e encontrei o lado direito da cama vazio. Minha intenção era conversar com Chay assim que conseguíssemos respirar normalmente. Mas não foi o que aconteceu. Fui dominada por um sono profundo, acordando agora, completamente desorientada. Estiquei a mão e peguei o celular, conferindo o visor e vendo se tratar de Clarice.
- Oi Alice.
- Oi Mel. Que voz é essa?
- Acabei de acordar.
- Meu Deus! É... mas imagino a barra que deve estar passando.
- Que horas são?
Perguntei sentindo a garganta seca e os olhos ardendo.
- Quase duas da tarde.
Não era de se estranhar que me sentisse tão desorientada. Devo ter dormido mais de quinze horas.
- Nossa...
- So liguei para saber como estão as coisas por ai.
- Chay e eu quase não conversamos ainda.
Alice riu, pois sabia muito bem os motivos da ausência de dialogo.
- Ele me ligou hoje. Pediu para que eu e Rose fôssemos até ai.
- Ah é? E a que horas virão?
- As seis estaremos ai.
Conversei mais um pouco com Akice e depois nos despedimos. Estiquei os braços, espreguiçando-me e nesse momento eu ouvi vozes altas e a porta foi aberta com violência. Chay segurava o celular ao ouvido, quase agarrando os cabelos com a mão livre. Joseph entrou atrás dele, o rosto pálido e assustado. Senti o coração bater desesperado, como prenúncio de algo ruim.
- O que foi?
Joseph imediatamente se sentou ao meu lado, segurando minha mão. As dele estavam frias e tremiam.
- Eu... não sei ao certo.
Eu olhava meu marido andando pelo quarto, esmurrando a parede, enquanto falava ao celular. Senti os braços de Joseph à minha volta, tentando em vão, tranquilizar-me.
Chay falava rápido e consegui entender algo como: eles não atendem. Nenhum deles. Senti minha cabeça girar. So poderia ser algo com Valentina e Enzo.
- Não, inferno. Eu já liguei na casa. Um dos empregados informou que não houve qualquer sinal, qualquer contato.
Com a respiração acelerada e os olhos úmidos pelas lágrimas, eu finalmente permiti que elas descessem pelo meu rosto, quando vi Chay encostar a cabeça contra a parede, fechando os olhos.
Mas como sempre impaciente, voltou a andar, bagunçando seus cabelos e falando em tom ainda mais furioso.
- Eu não quero saber, porra! Se virem, é pra isso que são pagos. Bando de incompetentes do caralho.
Por todas as palavras dele, eu já imaginava o que estava acontecendo. Por quê? Por que tanta paulada de uma só vez? E justo agora que eu tinha algo importante a dizer a ele? Eu previa meu marido tendo uma síncope.
Pulei de susto quando ele arremessou o aparelho contra a parede, deixando-o estilhaçado no chão. Com as mãos na cintura, mas bufando feito touro enfurecido, ele me encarou.
- Diga...diga logo.
Pedi, quase num sussurro. E nem era preciso pedir. Ele explodiria a qualquer momento. E quando ele respondeu, eu chorei ainda mais, junto com Joseph.
- O jatinho... a porra do jatinho não chegou ao seu destino.
A dor que senti foi tão intensa que curvei o corpo para frente, com as mãos sobre meu ventre. Chay estava alheio ao que se passava e continuou esbravejando.
- Tem dedo podre da Valentina nessa merda. Eu sinto o cheiro dos hormônios abusados dela de longe.
- Oh Deus...
Parecia que eu sangrava por dentro. Rapidamente meu cérebro relacionou aquela dor a dor que senti quando perdi meu bebê. Meu desespero aumentou e nem sei como, meu corpo escorregou na cama, fazendo com que eu caísse de joelhos, curvada para frente. Joseph ajoelhou-se ao meu lado, passando o braço em volta do meu ombro. Eu só conseguia rezar, implorando a Deus para que nada do que eu pensava fosse verdade.
Eu gemi, erguendo meu corpo novamente. Chay continuava parado, me olhando, quase sem ação. Eu via a angustia, medo, raiva... tudo em seus olhos. Levei minha mão ao ventre, soluçando. Assustado, Joseph segurou meu rosto.
- Calma, mãe. Pense no bebê...
Eu vi meu marido empalidecer. Nesse momento, eu realmente temi perdê-lo para um ataque fulminante do coração.
- Bebê?
Chay levou as duas mãos a cabeça, a boca entreaberta, arfando ainda mais.
- Bebê? Mel... você está grávida?
Eu entendia seu desespero, pois era daquela forma que me encontrava. Como ter um bebê em meio a esse caos? Chay continuou me encarando, à espera de uma resposta que ele, no fundo, já sabia.

CONTINUA

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

FANFIC - "O PODEROSO SUEDE" - CAPÍTULO 07 - 2° TEMP.

CHAY
Eu parecia um veadinho, uma gazela assustada correndo de uma conversa sobre sexualidade. Tudo bem, talvez a comparação fosse pesada demais, mas somente isso justificava minha fuga quando Mel propôs aquela conversa. Sinceramente... somente se ela me dissesse que se jogaria na cama comigo, num lugar deserto, longe de toda aquela merda. Fora isso, eu não queria ouvir. As pessoas tem a irritante mania de achar que sou de aço, que aguento todas as porradas do mundo de uma só vez. Fiz fama de implacável, duro, frio, agora teria que aguentar toda espécie de absurdos que eram jogados sobre mim, sem chance de escapar.
Como a intenção dela não era se acabar comigo numa cama, eu mesmo me encarreguei de acabar com ela na nossa cama. Assim que entrou no escritório querendo conversar, eu a puxei para mim, beijando-a e subindo com ela no colo para o nosso quarto. Ela ainda tentou me fazer parar, mas a safadeza dela não permitia. Em pouco tempo estava gemendo sob meu corpo... ou por cima dele.... ou em tantas outras posições que consegui, para cansá-la ao extremo. Agora estava ressonando de bruços ao meu lado. Melhor assim. Enquanto ela descansava o corpo, eu descansava minha mente. Estava decidido e demônio nenhum me faria mudar de ideia. Principalmente aquele demônio em forma de mulher. Eu sabia que Mel me daria uma notícia pior do que todas as outras que recebi nos últimos dias. Levantei-me, disposto a ir atrás dos trombadinhas e contar a novidade. Ja previa choro, quebradeira, mas eu não voltaria atrás.
Tinha acabado de vestir minha calça quando ouvi a voz.
- Pode ir parando ai. Não pense que fugirá de nossa conversa.
Girei o corpo lentamente, olhando para Mel, estreitando os olhos.
- Estava fingindo que dormia, Mel?
- E você se aproveitando para fugir.Chay Suede fugindo de uma conversa. Essa será a piada do ano.
- Refaça sua frase. Chay Suede fugindo de uma conversa tosca e sem sentido.
Ela apenas cruzou os braços e me encarou.
- Sente-se aqui.
- Não. Tenho coisas mais importantes a fazer. E já saquei que você só esperou eu me vestir para mostrar que está acordada. Medo que eu a calasse novamente com meu...
- Ah, Chay... pare de criancice. Está parecendo uma mulherzinha fugindo desse jeito.
Passei a mão no cabelo, bagunçando-o e começando a andar pelo quarto. Estava começando a me irritar novamente e isso não era bom sinal.
- Sabe que nunca fugi de caralho nenhum, porra.
Depois da frase estranha, apertei meus lábios ao ver o sorriso sarcástico dela.
- Você entendeu o que eu quis dizer.
Peguei minha camisa com força desnecessária e a vesti.
- Eu me recuso a ouvir algo que já sei. Eu quase posso ouvir sua voz aqui... massacrando meus ouvidos com uma explicação completamente estúpida.
- Ah é, senhor Eu sei tudo...então diga-me o que pensa que direi.
- Dirá que nossos filhos tem a máfia no sangue. São nossos herdeiros, querendo ou não. E que eles puxaram a mim, o que é uma grande inverdade. Dirá também que eles se sairão muito bem, pois serão treinados por mim, que farão apenas trabalho leve e toda essa merda que anda espalhada na mente obtusa de vocês.
- Hum... perfeito, senhor Suede. E sabe por que adivinhou tudo isso?
Dei um sorriso debochado.
- Porque é fácil ler pensamentos medíocres.
Ela apenas estreitou os olhos e se levantou, magnificamente nua, apontando o dedo em meu peito.
- Medíocre é sua babaquice ao não assumir que seus filhos estão mais do que dentro da máfia há anos. Nem venha com essa conversa mole de que só estão com dezesseis anos. Você assumiu mais velho, mas bem sei que aos dezessete você já carregava uma morte nas costas.
- Não foi... por querer. E foda-se, eu digo que eles não farão parte e ponto final.
Mel inspirou muito lentamente e tive a certeza que ela contava mentalmente até cinquenta, para não me meter o punho fechado na cara. Seria uma tremenda injustiça, afinal quem merecia apanhar era o velhote maluco que se dizia meu pai.
- Ok... não vamos discutir isso por enquanto. Não era bem isso que queria com você. Acho que está perdendo o jeito, Berllucci.
Ela falou e piscou, mostrando seu sarcasmo. Realmente... estava perdendo o jeito para pescar no ar o que minha adorada esposa estava aprontando.
- Momentaneamente, querida. Mas estou aqui.
Sentei-me na poltrona e abri os braços, sendo cínico, mas me sentindo mais cansado do que jamais estive.
- Vamos lá, amor... despeje tudo sobre mim. Acho que nada mais me perturba. Fale.
- Alice e Rosalie...
Ela falou ao se sentar no meu colo. Por algumas horas, tinha me esquecido completamente daquelas duas. Não fazia ideia da reação delas, após descobrirem que os ratos, que se intitulavam maridos, ficaram a favor da loucura do meu pai. Alice era brava, assim como Rosalie, mas ambas apaixonadíssimas pelos maridos. So não sabia se eram topetudas feito Mel, a ponto de desafiá-los.
- O que tem elas?
- Estão possessas com os maridos, óbvio. Eu não sei o que Rosalie fará quanto ao Emmett, mas a Alice...
Passei meus dedos na testa, já mandando uma mensagem para minha cabeça, que esse não era o momento de doer.
- Fale tudo logo, Mel. Odeio esses rodeios...
- E eu amo sua delicadeza... sempre.
Beijou-me e me encarou, meio ressabiada.
- Alice está abandonando o Jasper.
Enfim, uma surpresa. Sempre acreditei que Alice, apesar de ser uma abelhuda, era uma mulher quase dependente do marido. Era bem resolvida, quase tão atrevida quanto Mel, mas, ainda assim, se preocupava demais com as reações do marido com qualquer atitude sua. Cheguei mesmo a pensar que ela apoiaria Jasper , apesar de ter brigado com Carlisle. Talvez Mel estivesse mesmo certa. Eu estava perdendo jeito...
Merda nenhuma que estava. O povo que resolveu se rebelar de uma hora pra outra, dando um nó em minha cabeça. No entanto, algo de repente estalou em meu cérebro.
- Espere ai... abandonando o jasper significa saindo de casa?
Eu amava Alice. Amava demais como se fosse realmente minha irmã de sangue. Mas tudo o que eu não precisava era ter aquela maluca sob o mesmo teto. Porque obviamente, se ela saísse de casa, eu não teria sossego sabendo que ela corria algum risco, desprotegida por ai.
Imaginei minha casa com Mel, Alie e os pivetes. Em uma semana estaria tão caduco quanto meu pai.
Mel percebeu o meu receio, óbvio. Gargalhou, colocando a cabeça em meu ombro.
- Não se preocupe. Ela disse que, se ele deseja apoiar Carlisle... que vá morar com ele. Ela não sairá de casa.
Eu tive que gargalhar ao imaginar Jasper sendo expulso de casa pela coisinha.
- Ainda bem que o cérebro dela não é tão prejudicado quanto sua estatura.
- Quanta maldade.
- Verei mais segurança para ela. Sei que aquele porra louca não fará isso.
Mel alisou a parte do meu peito que a camisa entreaberta revelava e fingiu calma. Tão dissimulada. Eu sabia que estava só preparando terreno para jogar mais uma bomba.
- Que porra... já falei para dizer tudo logo.
- Quanto aos nossos filhos...
Eu me levantei abruptamente, quase jogando-a ao chão.
- Quanto aos nossos filhos, já está decidido.
Ela me encarou e eu sustentei seu olhar.
- Não perderei minha família, Mel. Eles insistem nisso, e pelo jeito a desmiolada da mãe apoia. Portanto... ajude-me a fazer as malas deles. Irão hoje mesmo para fora do país.
Mel arregalou os olhos, mas não de susto e sim de indignação.
- Mas não vão mesmo. Meus filhos ficarão perto de mim.
- Que se dane! Escute aqui, Melanie... eu cansei. Cansei dessa porra toda.
Falei com raiva. Até eu mesmo me assustei com meu súbito ataque de fúria. Mel bateu palmas, o que me enfureceu ainda mais.
- O todo poderoso voltou. As ferraduras são novas, pelo jeito.
- Diga o que quiser. Você adora esse cavalo. Mas eu só digo uma coisa: quer seus filhos juntos de você? Então arrume suas malas e vá com eles. Aliás, seria bem melhor se realmente fosse com eles.
- O que? Está me mandando embora, Berllucci?
Ela gritou e me exasperei ainda mais.
- Que porra, não! Estou mandando aqueles pivetes metidos a revolucionários.
Soltei um palavrão e baixei meu tom de voz.
- Eu só quero minha família segura. E se para conseguir isso, eu precisar mandar você com eles, pode ter certeza que eu farei. Eu não quero isso. Você é minha companheira, minha força aqui. Mas não perderei nenhum de vocês... não mesmo.
- Você... você está sendo dramático demais, Chay.
- Que seja. Já está decidido. Estou saindo agora para uma... reunião. Providencie o jatinho. Eles partem ainda hoje.
Nesses últimos anos, foram poucas as vezes em que vi Mel sem fala, parecendo completamente sem chão. Mas eu precisava dar um basta naquela situação. Toda loucura tem limite. A dos meus filhos já tinha ultrapassado esse limite há muito tempo.
Calcei meus sapatos, peguei meu sobretudo e apenas dei um beijo na testa de Mel, que ainda estava paralisada. Por alguma razão, eu ainda achava que faltava uma peça na minha conversa com Mel. Algo que ela não me contou... ou melhor, que não esperei que dissesse.
Fui direto ao escritório, remexendo no cofre e pegando minha arma. Dali, sai sem ser visto, indo ao encontro de Don Andreoli. Mais algumas doses letais de preocupação em minha cabeça, mas eu sobreviveria.
☆;:*:;☆
Eu mordia o nó de meus dedos com tanta força que eles latejavam. O maldito Andreolli estava conseguindo me deixar realmente puto. Repeti um milhão de vezes que eu não tinha nada a ver com as loucuras do meu pai. Nossos negócios agora seguiam rumos diferentes. Entretanto, se eu não conseguia enganar nem a mim mesmo, conseguiria fazer isso com ele? Ele pensava exatamente como eu. Ainda que não estivéssemos mais do mesmo lado, sempre seríamos a família Suede. E se um Suede fizesse uma besteira, todo o resto estaria envolvido.
- Eu me esforçaria mais para convencer Carlisle. Sabe como é... acho que você tem muito mais a perder do que ele.
Don Andreolli era um homem baixo e corpulento, na faixa dos sessenta anos. Porem, era bem conservado e quem não o conhecesse diria que não chegava aos cinquenta. Eu estreitei os olhos ao ouvir aquelas palavras. Minha mente estava ligada aos movimentos próximos a ele. Sabia que um dos homens dele estava por perto, armado. Mas eu também estava, além do Stefan que me acompanhou.
- Tenho. Todos nós temos.
- Mas eu temeria muito mais se eu tivesse duas beldades em casa... como as que você tem.
Eu senti o osso do meu maxilar latejando, como ficava sempre quando eu me encontrava furioso. Trinquei meus dentes e praticamente rosnei para ele, que simplesmente riu.
- Mas a garota é novinha ainda, não sou um pedófilo. Mas a senhora Suede, com todo respeito...
Respeito era o caralho. Ouvir qualquer marmanjo falando da minha mulher me cegava completamente. Ele nem teve tempo para completar seu pensamento sujo e eu avançava sobre ele, agarrando-o pelo colarinho. Muito ágil, eu o agarrei e girei o corpo, deixando-o à minha frente. Foi tudo tão rápido que seu segurança mal teve tempo de agir. A minha arma já estava apontada para a cabeça dele, enquanto meu braço dava uma gravata em seu pescoço.
- Vince... baixe a arma. Ele... não fará nada.
Don Andreolli falou com dificuldade. So poderia ser louco. Era claro que eu faria sim, se ele continuasse falando das minhas mulheres. Mas Vince obedeceu e eu afrouxei um pouco o aperto, antes de falar bem próximo ao ouvido dele.
- Não pense, não sonhe, não ouse falar o nome da minha esposa ou da minha filha. Eu mato você só por se lembrar que elas existem.
- Calma, rapaz. Foi...
Ele tossiu e afrouxei um pouco mais o braço, empurrando-o para frente. Ele acenou para Vince que se afastou um pouco e então eu voltei a me sentar. Mas ainda estava puto com ele e louco para quebrar sua cara.
- Tão nervoso quando falam da esposa. Mas já deveria ter se acostumado. Aposto como ouviu isso esses anos todos. E a tendência é piorar, afinal... ela é como vinho.
Fechei meus olhos e pressionei os dedos no nariz. Ele não sabia onde estava se enfiando.
- Está tão aflito para se matar? Porque está claramente me pedindo para fazer isso.
Inclinei um pouco meu corpo para frente e sussurrei ameaçadoramente.
- Terei um prazer imenso em arrancar um por um dos seus dentes.
- Sei disso. Ja ouvi falar muito de seus métodos de tortura.
Ficamos em momentâneo e incômodo silencio, até que ele me surpreendeu.
- Aquela cadela já foi minha amante.
Falou pegando e acendendo um cigarro, que tragou lentamente.
- Quem?
- Serena.
Retesei meu corpo e recostei-me novamente na cadeira. Minha mente já fervilhava e milhares de suposições se embaralhavam.
- Era minha amante na Holanda, até que a abandonei para ficar com Martina. Sem querer me gabar, mas eu acho que ela quer me provocar. E está usando Carlisle.
Permaneci em silêncio, pensando sobre o assunto. Uma prostituta se rebelando também? Era a sétima trombeta do apocalipse mesmo. O que mais faltava acontecer? Sinceramente, eu não via como uma prostituta poderia ameaçar forças como as nossas. Era um tanto inconcebível pra mim.
- Sei que parece louco, mas é a verdade. Serena sempre teve as melhores garotas. Eu queria gerenciá-la, mas então apareceu Martina.
Ele tragou cigarro mais uma vez e me encarou com um sorriso debochado.
- E eu me apaixonei... fiquei de quatro, assim como você. E óbvio, Martina exigiu que eu não gerenciasse Serena. Portanto... acho que minha adorável prostituta ficou magoada.
Eu até ri. Era cômico, na verdade. Mas por que eu não aceitava? Não poderia ser só isso. E felizmente, Andreolli parecia partilhar do meu pensamento.
- Ela está usando seu pai, obviamente. Mas há alguém com ela... eu sinto. E é alguém que quer você e não eu.
Levantei-me imediatamente. Eu também sentia isso. Tinha algo apitando em minha mente dia e noite. Inferno... por que meu pai teve que perder toda a astucia que possuía? Deus me livre de ficar assim quando envelhecer.
- Eu sei disso. Aliás desde quando começou essa merda, eu já pressenti isso. Mas não faço ideia de onde vem.
Don Andreolli se levantou e estendeu a mão para mim.
- Eu o apoio... e você me apoia. Mas você sabe que vem chumbo grosso ai. Benitez não vai aceitar isso.
Ainda tinha aquele demônio para me perturbar ainda mais. Benitez era um playboy drogado, metido a mafioso, que dividia com Don Andreolli o comando dos puteiros da cidade. Jovem e desequilibrado, faria de tudo para se mostrar, ainda mais tentando derrotar os Suede.
Sem pestanejar, apertei a mão que me era estendida. Hora de formar pactos e principalmente... tirar minha família da linha de tiro.
Quarenta minutos depois eu saía dali e voava de volta para casa. Liguei meu celular, verificando as mais de dez ligações, todas de Mel. Provavelmente estava desesperada arrumando as fraldas e mamadeiras para viagem. Aliás... já era hora de me preparar para o festival de choro quando eu chegasse em casa.
Ao chegar, encontrei Jack com um sorriso cínico e só rolei meus olhos. Ja sabia que o clima la dentro não deveria ser dos melhores. E não me enganei. Mel estava sentada no sofá, entre Valentina e Enzo. Joseph estava no outro sofá. Tanto Mel quanto Enzo tinham os olhos vermelhos e inchados. Joseph me olhou, entre decepcionado e magoado. Mas Valentina parecia querer saltar em meu pescoço. Resolvi ignorar o clima de chantagem emocional.
- Estão prontos?
- Pai...
Joseph começou e eu o interrompi, estendendo a mão em sua direção.
- Pare. Ja está decidido. Eu avisei que se continuassem com essa loucura, eu os tiraria daqui. Eu não posso fazer nada quanto a você, Joseph, afinal, já é maior de idade. Mas seus irmãos estão de partida.
- Eu posso ao menos falar?
- Não. Nos meus negócios mando eu e não será pirralho nenhum a me ensinar a trabalhar. Eu não posso te enfiar num avião e te mandar pra África, cuidar de criancinhas desnutridas, mas posso impedir sua entrada onde EU comando.
Falei e ele se calou. Com as mãos na cintura, eu encarei Mel. Por um breve momento, tive medo que ela dissesse que iria também. Bateu o terror e logo a imagem de mim mesmo, arrumando minhas malas e partindo com elas se fez presente.
- Mel?
Ela fungou, mas não me olhou.
- Eles estão... prontos.
Valentina deu um pulo, agora dando vazão ao seu choro de raiva.
- Uma merda que estamos. Eu não vou sair do país. Não mesmo.
- Ah não? E quem vai me impedir de enfiar você naquele jatinho agora mesmo? Eu já avisei, Valentina... tem testado minha paciência. Eu deveria mesmo lhe dar uns cascudos.
- Pois dê... eu não tenho medo de apanhar. Nunca tive. Sou forte feito minha mãe.
Arqueei a sobrancelha e olhei para Mel que agora me encarava. Viu? Como eu tinha razão? Puxou o topete da mãe.
- Que ótimo. So que não estou com tempo agora. Podem pegar suas coisas.
Mel se abraçou mais a Enzo e eu tive vontade de dar uns tapas nela também.
- Eu vou... mas vou me deitar com o Liam todos os dias. Vou engravidar de gêmeos como a mamãe e trarei seus netos endemoniados para você cuidar.
Ela não me faria perder o controle. Forcei minha mente a não imaginar duas pestinhas feito ela, correndo pela casa e me chamando de vovô.
- Jacob já sabe muito bem como castrar um porco. E isso acontecerá se Liam relar a mão em você.
- Eu te odeio, pai. Eu te odeio.
Ela gritou e subiu as escadas correndo. Rolei meus olhos novamente para a cena de drama adolescente. Eu não fraquejaria na frente deles.
Nenhum dos dois se despediu de mim ao entrarem no jatinho. Apenas abraçaram Mel e Joseph. Um dia eles entenderiam que era apenas para o bem deles. Joseph não voltou a me olhar, mas pelo menos Mel se jogou nos meus braços quando o jatinho decolou, levando meus filhos. Mais tarde, ao lado da minha mulher, eu me permitiria ser fraco.
CONTINUA