sexta-feira, 25 de setembro de 2015

FANFIC - "O PODEROSO SUEDE" - CAPÍTULO 09 - 2° TEMP.


Mel

Não sei o que acontecia comigo. Fiquei covarde de repente. Não sentia medo de Chay obviamente. Ele não era louco de tentar algo contra mim. Meu único medo era da rejeição. Dizem que os bebês sentem tudo o que a mãe sente. Mesmo tão novinho, ele sentiria minha decepção caso o pai o rejeitasse. O pior de tudo era ver a incredulidade nos olhos de Chay. Ele parecia me chamar de louca silenciosamente.
As mãos dele estavam fechadas fortemente ao longo do corpo e seus lábios crispados numa linha fina. Eu esperava sua explosão a qualquer momento. No entanto, o que ouvi foi sua voz baixa, quase cansada.
– Quer que eu arranque essa resposta à força?
– Pai!
– Fique quieto, Joseph. Com você eu me entendo depois. Sabia de tudo e escondeu de mim. Estavam de conluio. Quem mais falta me trair?
Aquilo me irritou profundamente. O fato de não encontrar ocasião propícia para contar significava que o trai? Que o apunhalei pelas costas? Chateada com as palavras dele, empinei meu nariz, olhando-o desafiadoramente.
– Sim, Chay. Eu estou grávida.
Ele deixou escapar um rugido e se afastou, agarrando os cabelos com uma das mãos e esmurrando a parede com a outra. Joseph apertou minha mão, olhando-me com um pedido mudo para que eu me acalmasse.
Chay se virou novamente e vi a fúria em seus olhos.
– Você... você...
Apontou o dedo para mim.
– Você ficou maluca? Ter um filho com o mundo desabando em nossa cabeça? Como pode parar de se prevenir e não falar nada comigo?
Não aguentei tanta injustiça e explodi.
– Porque você sempre quis outro filho, seu estúpido. Eu engravidei antes do meu querido sogro surtar!
– Isso só pode ser brincadeira. Resolveram desanuviar o ambiente e inventaram essa piada de humor negro não é?
O impacto de suas palavras teve a força de uma bofetada, para dizer o mínimo. Coloquei-me de pé no mesmo instante e Joseph me segurou. Foi melhor assim, ou eu avançaria em Chay agora mesmo. Mas apenas deixei que minha tristeza saísse através de minhas palavras.
– É isso o que pensa do nosso filho? Que ele é uma piada agourenta? Saia daqui, Chay. Agora.
– Está me expulsando do nosso quarto?
– Eu queria expulsa-lo da minha vida, desgraçado. Saia daqui.
Eu berrei, descontrolada, não segurando mais a avalanche de lágrimas que desceu pelo meu rosto. Percebi que Chay ficou momentaneamente petrificado, sem ação.
– Por favor, pai... vá. Precisam se acalmar.
Ele não disse nada, sequer me olhou. Saiu do quarto, batendo a porta com tanta força que tive a certeza de sentir as paredes balançarem.
– Calma, mãe. Por favor. Pense no bebê.
– Você o ouviu, filho. Ele... ele...
– Ele nada, mãe. Está nervoso. Daqui a pouco ele volta com o rabo entre as pernas como sempre.
– Vá ver onde ele foi, Joseph. Tenho medo que saia assim.
Ele rolou os olhos. Mesmo com raiva de Chay, eu me preocupava com ele.
– Fique quietinha aqui. Eu já volto.
Mas eu não fiquei. Mal Joseph saiu do quarto... eu sai também. Além da nossa briga, ainda havia o mais grave: o desaparecimento dos nossos filhos. Será que tinha mesmo dedo da Valentina nisso? Minha filha seria tão louca a ponto de fazer com que desviassem a rota do jatinho? Claro que não. Jack estava lá e ele sempre cumpriu as ordens de Chay sem pestanejar.
A não ser que... Céus! Valentina teria coragem de fazer algo contra o Jack? A verdade era assustadora. Sim, ela teria.
– Merda.
Acabei de descer as escadas e quase dei um esbarrão em Joseph que já estava voltando.
– Por que será que eu tinha certeza que não ficaria no quarto?
– Porque conhece sua mãe muito bem.
– Teimosa.
Falou, segurando-me pela mão e me guiando até o sofá, onde nos sentamos.
– Nem precisa dizer onde ele está.
– Eu irei até la, mãe.
– Não... por favor...
Falei ao ouvir coisas sendo quebradas. Um cansaço imenso se abateu sobre mim. Talvez fossem os hormônios já agindo, mas eu me sentia tão frágil, tão... perdida. Eu que imaginei meu marido chorando ao meu lado mais uma vez ao saber que seria pai! Ledo engano. Ele odiou a ideia.
Percebi que chorava quando Joseph me puxou para os seus braços, secando minhas lágrimas.
– Não sei o que fazer...
– Sabe. So está nervosa. Sempre foi forte, mãe. Eu diria até mais forte que meu pai. Ele tem força física e psicológica também. Mas você tem muito mais.
Eu sabia disso, porém não conseguia encontrar essa força agora. E ao entender isso... nova onda de choro me dominou.
Eu me encolhia a cada estrondo vindo do escritório. Sabia que Chay estava quebrando tudo, descontando toda sua ira em qualquer coisa que visse pela frente. Chorava incessantemente porque não foi essa reação que imaginei. Óbvio que sabia que ele ficaria preocupado, mas nunca imaginei que sua fúria seria nessa proporção. Joseph tentou intervir, mas eu o impedi. Não sabia do que o pai seria capaz estando naquele estado.
Toquei meu ventre plano. A rejeição caiu como uma bomba sobre minha cabeça. Ele simplesmente nem quis saber do filho! Saiu feito um búfalo logo após ter a confirmação.
Bodas de rosas... dezessete anos. Ja tivemos várias brigas, dormimos em quartos separados, mas Chay nunca agiu dessa forma. E agora eu me perguntava se seria esse nosso fim.
Deixei meus olhos percorrerem a sala, lembrando-me das tantas vezes que nos reunimos aqui, felizes. A primeira vez que olhei a decoração, na época bem diferente, sabendo que seria a senhora Suede. Lembrei-me das tantas vezes em que Alice e eu ficamos sentadas aqui, conversando à espera de Chay. Por que isso aconteceu? Onde foi que aquele casal forte se perdeu? De repente eu senti raiva de Chay. Raiva por fraquejar e por contribuir para minha própria fraqueza. Coloquei-me de pé num rompante.
Nosso casamento poderia até acabar, mas não sem uma boa luta. E muito menos sem que eu dissesse algumas verdades para meu marido.
Percebendo minha intenção, Joseph tentou me impedir.
– Mãe... eu acho que...
– Você não acha nada. Quieto ai senão sobrará pra você também.
Ele arregalou os olhos, mas não esboçou reação. Tinha percebido que a mãe poderosa e tão bipolar quanto o pai, resolveu ressurgir. Eu lutaria, não por causa do meu amor por Chay, mas por meus filhos. Empurrei a porta do escritório, fazendo-a bater contra a parede e quase voltar de encontro a mim. Ele girou o corpo, me encarando. Eu amava demais aquele desgraçado. Minha vontade era de me jogar sobre ele, enchê-lo de socos enquanto o beijava furiosamente. Entretanto, minha raiva era ainda maior que meu tesão. Apontei meu dedo em seu peito e comecei a despejar toda minha ira sobre ele. Mostraria a ele que não se casou com uma qualquer. Caso tenha se esquecido, nunca fui de me rebaixar. Muito menos pra ele.
-Chay
Eu ria. Ria descontrolado, agarrando meus cabelos, andando pelo escritório e enfiando o pé em tudo o que via pela frente.
"Sim, Chay. Eu estou grávida." Sim, Chay. Eu estou grávida."
Aquela droga de frase não saia da minha cabeça e eu berrei, chutando a cadeira que bateu com força contra a parede. Fechei minhas mãos com força, tentando raciocinar, o que era impossível nesse momento. Na verdade, eu queria socar o filho da puta do querubim que estava tomando conta de mim nesses dias. Era essa explicação. Deus resolveu tirar férias e colocou a porra de um anjo estagiário em seu lugar. So isso para explicar tanta merda junta e ainda sobre minha cabeça.
Meu pai... puteiro...pivetes revolucionários... e mais um filho. Minha poderosa... grávida de novo. Eu ainda esperava o fim da piada, porque até o momento não achei graça.
Como um filho poderia vir ao mundo em meio a esse inferno? Eu sequer podia cogitar a hipótese de me afastar, como fiz quando Valentina e Enzo nasceram. Meu primeiro pensamento foi também tirar Mel do país. Mas logo em seguida eu me lembrei, que se fizesse isso, assinaria minha sentença de morte. Mel agora era metade de minha força. Sem ela por perto, eu seria dizimado a pó.
E por isso, volto a repetir: estou na merda.
Girei meu corpo quando ouvi a porta bater, mas nem tive tempo de pensar. Mel entrou feito um furacão, parando à minha frente com fúria quase incontida.
– Agora escute aqui, seu Berllucci filho da puta. Se não quiser nosso filho, então que vá se fuder. Eu irei atrás dos meus filhos e juntos enfrentaremos tudo. Muito me admira você fugindo da raia agora.
Arregalei meus olhos. Aquele pedaço de mulher, alguns bons centímetros mais baixa que eu, apontava o dedo em meu peito, empurrando-me sem qualquer receio.
– Que isso? Resolveu se rebelar também?
– Se você se mostrou um incompetente, medroso o problema é seu. Eu irei até o fim.
Estreitando os olhos, eu dei um passo, ficando colado nela.
– Não falei que aquela delinquente mirim puxou a você? Onde estava com a merda da cabeça quando engravidou?
Ela gritou, pegando-me de surpresa, ao mesmo tempo em que me empurrou com toda a força. Pego de surpresa, dei alguns passos para trás.
– A merda da sua cabeça que estava dentro de mim, seu imbecil. E pode ter certeza que isso nunca mais acontecerá.Meu filho não merecia ser rejeitado, seu... seu...pederasta.
No instante seguinte às suas palavras, ela estava prensada entre meu corpo e a estante. Agora ela conseguiu me irritar. Segurei seus cabelos com força, mas ela cravou as unhas em meu braço, encarando-me com igual fúria.
– Eu jamais renegaria um filho nosso.
Vociferei.
– Entende que não posso perdê-los? Nenhum de vocês.
– Entendo. Você que parece ter ficado tão esclerosado quanto seu pai. E eu fui burra, fui fraca ao deixar você cometer a sandice de tirar nossos filhos do país.
– Não fuja do assunto. Estou falando dessa gravidez... não planejada.
Ela cravou ainda mais as unhas em meu braço e usou de toda sua força para me empurrar. Afastou-se de mim e ajeitou os cabelos e a roupa. Olhou-me com altivez, daquele jeito que eu já conhecia. Era daquele jeito que se comportava quando saía para alguma missão. Minha mente trabalhou rápido. Ela estava completamente maluca se achava que faria o que estou imaginando.
–Nem venha com essa palhaçada de querer voltar à ativa, Mel. Ainda mais grávida.
– Grávida de um filho que você recusou.
– Eu não recusei, porra! Eu só...
– Foi covarde. Preferiu vir quebrar tudo em vez de encarar os problemas.
Coloquei as mãos na cintura, abismado com o atrevimento dela. Quer dizer... eu já estava quase careca de saber o quanto era topetuda, atrevida. Mas agora... ela seria mãe novamente! Não precisava se controlar?
– Eu deveria dar umas palmadas em você como fiz da primeira vez.
Ela rolou os olhos e fez cara de tédio.
– Agora escute bem, Berllucci, porque não repetirei. Eu voltarei à ativa sim! Meu marido está sozinho nessa e eu nunca fui covarde de me esconder atrás das calças dele. E agora, em vez de ficar tendo ataque histérico por causa de um bebê, deveria pensar numa forma de encontrarmos nossos filhos. Porque é isso que farei agora.
Aproximei-me dela, caminhando daquele jeito predador que assustava qualquer bandido. Mas aquela coisa minúscula não moveu um único músculo. Nem um fio de cabelo saía do lugar, enquanto ela me encarava audaciosamente. Definitivamente, não tinha medo do perigo.
– Está insinuando que não me importo com nossos filhos?
– Estou afirmando que estamos perdendo tempo. Sabe-se lá onde nossos filhos estão. Nós... sua família, e isso inclui nossos filhos e eu, ajudaremos você, quer queira ou não. Quando essa tempestade toda passar, pegarei meus filhos e sairemos de sua vida. Poderei ter meu filho em paz.
Eu esperava, sinceramente, que Deus tivesse feito a forma de Mel e jogado fora. Queimado, destruído. Outra mulher dessa no mundo ninguém suportaria. Mas se fosse pensar bem, essa forma deve ter sido jogada no inferno. Assim, foi criado aquele ser demoníaco chamado Valentina.
Mas apesar disso tudo, eu era um adorador desses seres malignos. Minha vida acabaria no momento em que saíssem pela minha porta. E foi pensando nisso que esmaguei Mel em meus braços. Senti seu corpo estremecendo, mas seu rosto nada demonstrava.
– Sua atrevida do caralho. Ja falei que só sai da minha vida se for morta.
– Então traga de volta o meu poderoso. Nós só funcionamos juntos, Chay. Você sabe disso.
Eu não resisti mais. Beijei-a com paixão, quase arrancando sua língua fora, erguendo seu corpo do chão. Angie se agarrou aos meus cabelos, do jeito que eu amava e que me enlouquecia. As palavras dela rondavam minha mente, e como num passe de mágica, meu medo deu lugar à força. Ninguém destruiria minha família. Ninguém destruiria o que conquistei a duras penas. Sentindo-me renovado, dei vazão à minha emoção. Segurando nos cabelos de Angie, eu afastei meu rosto, olhando nos olhos dela. Mel mordeu os lábios, provavelmente percebendo meus olhos úmidos.
– Você se lembra quando me afastei dos negócios por causa de Enzo e Valentina?
– Claro que me lembro. Como poderia esquecer?
– Só queria meus filhos num ambiente calmo, tranquilo, pelo menos quando viessem ao mundo. Agora não poderei fazer isso, Mel. E eu tive medo. Sou humano, porra.
– Eu sei disso.
– Só não queria nosso filho nascendo em meio ao caos. Eu não rejeitei e jamais faria isso com nosso filho, sua idiota.
Ela enterrou o rosto em meu peito. Apesar de toda pose de durona, ela não perdia seu jeito delicado e sensível jamais.
– Odeio quando me faz chorar.
– Eu também. E você fez isso mais uma vez.
Ela ergueu novamente a cabeça e passou a mão em meu rosto. Mais uma vez eu me curvava diante dela. Sempre seria assim com ela e com nossos filhos.
– Obrigado... por suportar tudo isso comigo. Mas principalmente por mais esse filho.
– Você... você gostou? De verdade?
Eu ri, voltando a beijá-la. Havia possibilidade de não gostar de ter um filho com a mulher da minha vida?
– De verdade... eu estou muito feliz. Mas confesso que estou rezando para que não seja uma peste da laia da Valentina.
– Chay! Não fale assim da nossa filha. Ela não é tão ruim!
Eu rolei os olhos e beijei-a mais uma vez antes de falar.
– Ela é podre, Mel. E por falar nisso... vamos tentar contato com a torre, com o piloto, com o caralho a quatro. Se tiver dedo da Valentina nesse sumiço, eu juro que...
Minha ameaça foi interrompida pelo toque do telefone. Agindo mais rápido do que eu, Mel avançou até o telefone, atendendo a ligação.
– Alô? Melanie Suede falando...
Estreitei meus olhos ao vê-la levar a mão ao peito.
– Valentina! Oh meu Deus... filha, onde estão?
Tentei arrancar o telefone da mão dela, mas novamente Mel foi mais rápida. Correu em volta da mesa, tentando escapar de mim.
– O que? Meu Deus... mas o que aconteceu? Foi... foi você?
Seja la o que a peste tenha dito, serviu para distrair Mel. Arranquei o telefone da mão de Mel e atendi.
– Valentina... diga-me que não tem nada a ver com esse...
Ela me cortou. Abri a boca, completamente estupefato. Eu não conseguia acreditar no que estava ouvindo. Eu criei um monstro!
– Valentina... estou indo agora atrás de vocês. Não tente nenhuma gracinha ou...
Mas a atrevida me interrompeu novamente.
"– Nada disso, pai. Ja aterrissamos na fazenda e estamos voltando pra casa."
– VALENTINA!
Eu esbravejei, mas ela simplesmente desligou. Ela teve a desfaçatez de desligar em minha cara!
Coloquei o telefone de volta à mesa, encarando Mel que também me olhava.
– Ela disse a você o que fez?
Perguntei, quase trincando meus dentes. Percebi que Mel mordia os lábios, mas com única intenção de prender o riso.
– Ela dopou o Jack e o Liam... e ameaçou o piloto com uma arma. Enzo ajudou, dando um jeito nos outros dois seguranças.
Dei um soco na mesa.
– Eu não falei? Não falei que tinha dedo podre dela nessa merda toda? Fez o piloto retornar e já pousaram na fazenda. Mas ela não perde por esperar.
– O que pensa em fazer, Chay?
Fui até o cofre retirei a palmatória. Mel arregalou os olhos.
– Darei o castigo que ela merece. Coisa que eu deveria ter feito há anos.
– Se encostar um dedo nela, terá que me bater também.
– É assim que educa? Passando a mão na cabeça?
– E violência? Educa?
Não respondi por instantes. Mas dessa vez Valentina passou de todos os limites.
– Não. Não educa. Mas Valentina precisa de limites.
– Sim, precisa. E não só ela, como Enzo e Joseph precisam de credibilidade, de um voto de confiança.
Cruzei os braços em frente ao peito.
– E isso significa?
– Significa que eles são maduros demais para a idade deles. E eles tem meu apoio.
– Mas não mesmo. Nunca!
– É isso ou sairemos por aquela porta sem olhar para trás.
Congelei. Eu não estava ouvindo isso da minha própria esposa!
– Está ameaçando sair da minha vida, Melanie?
– Não, Chay. Você é quem está nos tirando dela. Entenda que onde estivermos, nossos filhos estarão juntos. Você não tem escolha.
– Ah não? Quer dizer que se eu não aceitá-los na organização, vocês me abandonarão?
– Exatamente.
Procurei disfarçar todo sofrimento que aquela situação me causava. Mas eu não fraquejaria. De forma alguma.
– Pois então pode pegar suas coisas.
Eu vi o choque passar pelo rosto de Mel.
– Está... está nos mandando embora? Porque se for, saiba que não haverá volta.
– Você mesma disse que sairiam daqui se eu me recusasse a aceitá-los. Pois agora está ouvindo com todas as palavras. Eu quero vocês fora daqui.

CONTINUA

sábado, 12 de setembro de 2015

FANFIC - "O PODEROSO SUEDE" - CAPÍTULO 08 - 2° TEMP.


Mel

Eu aprendi a ser forte. Ha anos ao lado de Chay nada mais natural que descobrisse em mim, uma força que até eu mesma desconhecia. Conseguia controlar um pouco meus sentimentos, e às vezes percebia certa frieza em mim. Nunca me imaginei torturando ou matando alguém. No entanto, eu fiz isso. E agi como se fosse uma coisa normal no ser humano.
Entretanto, assim como meu marido, toda minha pose de primeira-dama da máfia desaparecia quando o assunto era nossa família, principalmente nossos filhos. Eu os defendia com unhas e dentes, ria, chorava, sofria com eles. Muitas vezes cheguei a desafiar Chay para ficar a favor deles.
E era exatamente por ser assim em relação a eles, que nesse momento eu sofria. Era uma dor insuportável, que chegava a me deixar sem ar. O meu desespero chegou a tal ponto que eu já não conseguia discernir o certo e o errado.
Se por um lado eu concordava com Chay, admitindo que tê-los dentro da organização era perigoso demais, por outro lado, eu achava que isso era o certo. A máfia estava no sangue deles.
Porém, eu também me perguntava se era isso mesmo que desejava para meus filhos, ou era uma tentativa desesperada de tê-los ao meu lado. Nada mais fazia sentido em minha mente. Mas uma coisa era certa. Chay acreditava mesmo que conseguiríamos continuar trabalhando, sem saber exatamente como eles estavam?
Se existe uma coisa na qual sempre acreditei é que, quem sabe cuidar dos filhos, são os pais. Não importa se estarão acompanhados pelos melhores seguranças e atiradores. Somente os pais sabiam o que é essencial, o que os deixam felizes. Como eu conseguiria dormir sem visitá-los no quarto todas as noites?
Sei que fraquejei. Deveria ter sido mais dura e imposto minha vontade. Mas nossa vida estava confusa demais e realmente achei que seria melhor afastar Valentina e Enzo. Devo dizer que me arrependi no momento em vi o jatinho decolar.
Chay sequer me olhou. Apenas entrou em casa, deixando-me com Joseph. Foi ele quem me trouxe para o quarto, onde estava até agora. Ele me abraçava, sentado ao meu lado na cama.
- Não entenda como uma crítica, mãe. Mas eu não entendi sua atitude. Está óbvio que não era isso o que queria. Por que aceitou a intransigência do meu pai?
- Seu pai só quer o melhor para vocês, Joseph. Sempre foi assim. A segurança e o bem-estar de vocês vem em primeiro lugar.
- Eu sei disso. Nunca pensaria o contrário. Vocês são pais maravilhosos.
Eu chorei um pouco mais, ao ouvir as palavras dele.
- Porque temos filhos incríveis. Por isso nos desdobramos para vê-los sempre bem.
- Sei disso também. Mas mãe... isso não significa que meu pai esteja certo. Muitas vezes amamos demais e achamos que nossas atitudes são as mais acertadas. E não é isso. Amar não é tentar nos proteger de tudo. Amar é educar para que saibamos discernir o certo. Valentina e Enzo podem estar longe, mas isso não muda suas escolhas. O pai sempre disse que nossas escolhas e atitudes dizem quem somos. Está ai a prova. Nossas escolhas dizem quem realmente somos.
Eu o encarei, sem saber o que dizer. Parecia que somente nesse momento eu me dava conta de que meu filho realmente cresceu. Ja era homem e mostrava toda sua maturidade com essas palavras.
- Somos filhos da máfia, mãe. Isso é o que somos. Levar Valentina e Enzo para longe disso, só fará com que aumente ainda mais o desejo deles de lutarem ao lado de vocês.
Inclinei meu corpo para frente, colocando o rosto entre minhas mãos.
- O que eu fiz, meu Deus? Por que eu não conversei com seu pai?
- Eu entendo vocês dois, mãe. Principalmente meu pai. Foi uma carga muito grande sobre ele, em tão pouco tempo.Eu olho pra ele e vejo o mundo sobre suas costas. Não deve ser fácil. Ele é ainda mais forte do que pensei e o admiro ainda mais por isso.
- Ah meu filho... não sabe como é bom ouvir isso. Tenho certeza que seu pai ficará emocionado ao saber que pensa assim. E eu concordo com você. Ele é realmente muito forte. E... eu precisarei colocar essa força à prova.
Joseph franziu a testa, olhando-me com curiosidade.
- Como assim, mãe?
Eu inspirei profundamente, antes de voltar a encará-lo.
- Eu preciso desabafar uma coisa.
Deveria ser o contrário. O filho desabafando com a mãe. Os papeis se inverteram e era como se eu fosse a filha e Joseph o pai amoroso e atencioso. Ele me ouvia atentamente, segurando minha mão e apertando-a, demonstrando sua solidariedade. Ao final do meu relato, ele me abraçou ainda mais forte.
- Fico feliz que tenha confiado em mim para falar sobre isso. Mas, mãe... vê como o que eu disse estava certo? É muita coisa ao mesmo tempo. Vocês dois juntos não aguentam a carga sozinhos. E sabe que não digo isso em relação aos negócios. Estou falando em relação ao emocional, ao psicológico de vocês. Confiem mais em nós. Enzo tem uma mentalidade fantástica, uma inteligência fora do comum. E Valentina tem a mesma ousadia e força que vocês dois.
- Eu sei que... seu pai ficará ainda pior. Deus... eu nem quero imaginar o que ele fará quando conversarmos.
- Eu só digo que adiar será pior.
- Eu sei. So estou esperando que ele venha para o quarto.
- No mínimo deve estar no escritório, acompanhado pelo uísque e pelo charuto.
- Sim. Provavelmente.
Nesse momento a porta foi aberta e Chay entrou. Olhou para nós dois, mas sem dizer nada, desabotoou a camisa, jogando-a sobre a poltrona. Joseph me olhou rapidamente. Ele também percebeu os olhos vermelhos e levemente inchados do pai. Sabíamos o que tinha acontecido.
- Vou deixá-los a sós.
Joseph falou assim que Chay entrou no banheiro.
- Obrigada pela conversa. Acho que deveria ter escolhido psicologia e não pediatria.
Ele riu, dando-me um beijo na bochecha.
- Gosto de crianças. Mas quem sabe? Estudar nunca é demais.
Sorri, satisfeita, vendo-o caminhar até a porta. Apesar de toda a tempestade pela qual passamos, tinha que admitir que criamos muito bem nossos filhos. No fundo Chay também sabia disso, mas seu amor de pai, seu medo falaram mais alto. Era calejado, estava há tempo demais nessa vida para saber os riscos que pessoas tão jovens como os filhos teriam que enfrentar. Entretanto, eles estavam com dezesseis anos. Faltava pouco para alcançarem a maioridade. E se fosse pensar bem, mentalmente eram bem mais maduros que muitos adultos. Um pouco impetuosos, talvez, mas, ainda assim, maduros.
Levantei-me, indecisa entre ir ou não atrás de Chay. A verdade é que sempre dividimos tudo, inclusive nossas tristezas. Eu não entendia por que dessa vez, ele me deixou com minha dor, curtindo a sua também sozinho.
Decidida, tirei minha roupa e segui nua até o banheiro. Ele estava lá, glorioso sob a ducha. Os braços estavam cruzados em frente ao peito e ele olhava para baixo, atento, como se o escorrer da água para o ralo fosse a coisa mais interessante do mundo.
Não ergueu a cabeça nem mesmo quando empurrei a porta do box e entrei. Fiquei parada à frente dele, esperando que parasse de me ignorar. Mas ele não o fez, portanto, segurei em seus braços, forçando-os para baixo. Quando consegui meu objetivo, aconcheguei-me em seu peito, feliz ao sentir que ele me abraçou, colocando os lábios em meus cabelos.
Suspirei e apertei meus braços à sua volta, aproveitando aquele momento.
- Por que me deixou só? Sempre dividimos tudo, lembra?
- Pensei que não quisesse minha presença.
Eu me afastei para olhar em seu rosto, constatando que ele falava realmente sério. Acariciei seu peito, sem deixar de olhar em seus olhos.
- Por quê?
- Porque eu tirei as crianças daqui, Mel. Eu sei que você não gostou e não concorda com o que eu fiz.
- Sinceramente? Estou me sentindo perdida. Não sei mais o que é certo, errado. Ao mesmo tempo em que penso que o certo é deixá-los participar, acredito que devem mesmo ficarem afastados dessa guerra toda.
- Será melhor assim.
Eu não ousei discordar. Não que sentisse medo dele, mas simplesmente não queria deixá-lo enfurecido antes da hora. Precisávamos conversar seriamente.
- Chay, eu...
Ele não me permitiu continuar. Juntou meus cabelos num rabo, puxando minha cabeça para trás. Eu conhecia aquele olhar muito bem. Queimava minha pele e deixava todo o meu corpo arrepiado. Inclinando a cabeça para frente, mas puxando ainda mais meus cabelos, Chay repuxou meu lábio inferior com os dentes. A outra mão forte em minha cintura me fez arfar de encontro aos seus lábios.
- Você sabe o que eu preciso agora, Mel.
Óbvio que sabia. Não só Chay, como eu mesma passamos a extravasar o estresse em algumas horas do mais ardente sexo. E dessa vez não seria diferente. Aliás, eu preferia isso. Queria meu marido bem relaxado para nossa conversa.
- Eu sei. E estou pronta para você.
Ele deu seu sorriso torto e soltou um rosnado ao mesmo tempo. Mesmo após tantos anos, seu ímpeto fazia com minhas pernas tremessem. Meu corpo foi girado rapidamente e praticamente espremido contra a parede fria do banheiro. Voltou a segurar com força meus cabelos e gemi antecipadamente, ao senti-lo colado ao meu corpo.
Mordeu meu pescoço antes de falar em meu ouvido, com evidente angustia.
- O pior dessa merda toda...é saber que minha cabeça ficará ainda mais fodida com eles longe daqui.
Não falei nada. E nem conseguiria. Meu corpo já estava entregue e logo minha mente se desligou também. Pelo menos nos longos minutos em que Chay se saciou em meu corpo.
☆;:*:;☆
Praguejei baixinho, acordando assustada com o toque do celular. Abri os olhos e encontrei o lado direito da cama vazio. Minha intenção era conversar com Chay assim que conseguíssemos respirar normalmente. Mas não foi o que aconteceu. Fui dominada por um sono profundo, acordando agora, completamente desorientada. Estiquei a mão e peguei o celular, conferindo o visor e vendo se tratar de Clarice.
- Oi Alice.
- Oi Mel. Que voz é essa?
- Acabei de acordar.
- Meu Deus! É... mas imagino a barra que deve estar passando.
- Que horas são?
Perguntei sentindo a garganta seca e os olhos ardendo.
- Quase duas da tarde.
Não era de se estranhar que me sentisse tão desorientada. Devo ter dormido mais de quinze horas.
- Nossa...
- So liguei para saber como estão as coisas por ai.
- Chay e eu quase não conversamos ainda.
Alice riu, pois sabia muito bem os motivos da ausência de dialogo.
- Ele me ligou hoje. Pediu para que eu e Rose fôssemos até ai.
- Ah é? E a que horas virão?
- As seis estaremos ai.
Conversei mais um pouco com Akice e depois nos despedimos. Estiquei os braços, espreguiçando-me e nesse momento eu ouvi vozes altas e a porta foi aberta com violência. Chay segurava o celular ao ouvido, quase agarrando os cabelos com a mão livre. Joseph entrou atrás dele, o rosto pálido e assustado. Senti o coração bater desesperado, como prenúncio de algo ruim.
- O que foi?
Joseph imediatamente se sentou ao meu lado, segurando minha mão. As dele estavam frias e tremiam.
- Eu... não sei ao certo.
Eu olhava meu marido andando pelo quarto, esmurrando a parede, enquanto falava ao celular. Senti os braços de Joseph à minha volta, tentando em vão, tranquilizar-me.
Chay falava rápido e consegui entender algo como: eles não atendem. Nenhum deles. Senti minha cabeça girar. So poderia ser algo com Valentina e Enzo.
- Não, inferno. Eu já liguei na casa. Um dos empregados informou que não houve qualquer sinal, qualquer contato.
Com a respiração acelerada e os olhos úmidos pelas lágrimas, eu finalmente permiti que elas descessem pelo meu rosto, quando vi Chay encostar a cabeça contra a parede, fechando os olhos.
Mas como sempre impaciente, voltou a andar, bagunçando seus cabelos e falando em tom ainda mais furioso.
- Eu não quero saber, porra! Se virem, é pra isso que são pagos. Bando de incompetentes do caralho.
Por todas as palavras dele, eu já imaginava o que estava acontecendo. Por quê? Por que tanta paulada de uma só vez? E justo agora que eu tinha algo importante a dizer a ele? Eu previa meu marido tendo uma síncope.
Pulei de susto quando ele arremessou o aparelho contra a parede, deixando-o estilhaçado no chão. Com as mãos na cintura, mas bufando feito touro enfurecido, ele me encarou.
- Diga...diga logo.
Pedi, quase num sussurro. E nem era preciso pedir. Ele explodiria a qualquer momento. E quando ele respondeu, eu chorei ainda mais, junto com Joseph.
- O jatinho... a porra do jatinho não chegou ao seu destino.
A dor que senti foi tão intensa que curvei o corpo para frente, com as mãos sobre meu ventre. Chay estava alheio ao que se passava e continuou esbravejando.
- Tem dedo podre da Valentina nessa merda. Eu sinto o cheiro dos hormônios abusados dela de longe.
- Oh Deus...
Parecia que eu sangrava por dentro. Rapidamente meu cérebro relacionou aquela dor a dor que senti quando perdi meu bebê. Meu desespero aumentou e nem sei como, meu corpo escorregou na cama, fazendo com que eu caísse de joelhos, curvada para frente. Joseph ajoelhou-se ao meu lado, passando o braço em volta do meu ombro. Eu só conseguia rezar, implorando a Deus para que nada do que eu pensava fosse verdade.
Eu gemi, erguendo meu corpo novamente. Chay continuava parado, me olhando, quase sem ação. Eu via a angustia, medo, raiva... tudo em seus olhos. Levei minha mão ao ventre, soluçando. Assustado, Joseph segurou meu rosto.
- Calma, mãe. Pense no bebê...
Eu vi meu marido empalidecer. Nesse momento, eu realmente temi perdê-lo para um ataque fulminante do coração.
- Bebê?
Chay levou as duas mãos a cabeça, a boca entreaberta, arfando ainda mais.
- Bebê? Mel... você está grávida?
Eu entendia seu desespero, pois era daquela forma que me encontrava. Como ter um bebê em meio a esse caos? Chay continuou me encarando, à espera de uma resposta que ele, no fundo, já sabia.

CONTINUA